Humanização e Ambiente de TrabalhoOs fatores subjetivos presentes na prática profissional muitas vezesrespondem pela angústia que aflora no cotidiano do trabalho na Saúde.Todo profissional desta área precisa, desde a sua formação acadêmica,refletir sobre a existência humana, sobre si mesmo e conhecer suas limitações.Reflexões fun<strong>da</strong>mentais para li<strong>da</strong>r <strong>com</strong> a frustração <strong>dos</strong> inevitáveisfracassos, a depressão e o sentimento de impotência quando a reali<strong>da</strong>de seimpõe. Ser bom profissional é também ser capaz de suportar esses sofrimentosinerentes à profissão e continuar desejando cui<strong>da</strong>r, num constantere<strong>com</strong>eçar. Frente à cruel<strong>da</strong>de trágica <strong>da</strong> doença, o cui<strong>da</strong>dor é aquele quetem capaci<strong>da</strong>de de amparar e sabedoria de <strong>com</strong>preender que não lhe cabeo poder <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a todo o momento, <strong>da</strong><strong>da</strong> e tira<strong>da</strong>.O sentimento de grandiosi<strong>da</strong>de dessa tarefa fez-se manifesto emnosso estudo, posto o altíssimo percentual de funcionários <strong>com</strong> consciênciasobre seu trabalho e motivação. O custo emocional também, hajavista o altíssimo percentual de pessoas que referiram pelo menos uma <strong>da</strong>smanifestações psíquicas de estresse presente “o tempo todo” no trabalho(88,2%). As frequências de manifestações de estresse encontra<strong>da</strong>s no CRTDST/Aids, ain<strong>da</strong> que semelhantes às observa<strong>da</strong>s em outros serviços deSaúde 10,12 , são altas e justificam o empenho pela melhora <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>dos</strong> profissionaisno ambiente de trabalho.Como discutido anteriormente, mesmo considerando os aspectossubjetivos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas, o ambiente de trabalho agrega os principaisfatores de adoecimento do profissional de Saúde no seu ofício.Também nesta pesquisa encontramos situações descritas para amaioria <strong>dos</strong> serviços de Saúde <strong>com</strong>o reali<strong>da</strong>de difícil para a implementação<strong>da</strong> PNH: pouca participação efetiva <strong>dos</strong> trabalhadores na gestão e naconstrução do processo de trabalho.Pudemos observar vários fatores psicossociais do trabalho e <strong>com</strong>preender<strong>com</strong>o os profissionais sentiam o ambiente, e os pontos críticos queprecisavam de ações reparadoras, ou mesmo de profun<strong>da</strong>s transformações.Ficou claro que a gestão precisava de aprimoramento, pois mesmoconsiderando as variações setoriais, o sentimento de insatisfação em relaçãoao papel <strong>dos</strong> superiores, ao apoio, à clareza e ao reconhecimentoembalava o lamento de 40% do conjunto.115
Humanização e Ambiente de TrabalhoOs pontos fortes encontra<strong>dos</strong> (além <strong>dos</strong> já cita<strong>dos</strong>) – relações sociais,méto<strong>dos</strong>/tecnologias adequa<strong>dos</strong> e envolvimento – confirmaram o apoiosolidário entre colegas, a importância <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de e o sentimento sobreo valor do trabalho.Os pontos fracos – organização, participação e flexibili<strong>da</strong>de – precisaramser encara<strong>dos</strong>...Retornando à PNH, sabemos que sua consoli<strong>da</strong>ção no trabalho passa,necessariamente, pela prática de dois princípios norteadores14 a destacar:1. A construção de autonomia e protagonismo <strong>dos</strong> sujeitos e coletivos;2. A responsabili<strong>da</strong>de conjunta desses sujeitos nas práticas de atençãoe de gestão.O trabalho será produtor de senti<strong>dos</strong> para a vi<strong>da</strong> do profissionalquando este for protagonista do processo4,13, <strong>com</strong> direito a participar <strong>da</strong>sdecisões sobre o que faz, <strong>com</strong>o faz, quando e até mesmo onde faz. Isso sechama autonomia e caminha junto <strong>com</strong> o princípio <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de.Esses dois princípios podem se transformar em instrumentos de gestãobem mais eficientes que o controle e a burocratização.“Promover saúde nos locais de trabalho é aprimorar a capaci<strong>da</strong>dede <strong>com</strong>preender e analisar o trabalho de forma a fazer circular a palavra,criando espaços para debates coletivos. A gestão coletiva <strong>da</strong>s situações detrabalho é critério fun<strong>da</strong>mental para a promoção de saúde” (Humaniza-SUS, 2004, p.8).Fazer gestão participativa é o desafio.No CRT DST/Aids, é a intenção. O gesto está em construção.Muito há que se fazer, mas <strong>com</strong>o o caminho se faz ao caminhar, <strong>da</strong>quia um tempo, <strong>com</strong> certeza esse serviço terá outras histórias para contar...AgradecimentosÀs grandes amigas que trabalharam na coleta e análise de <strong>da</strong><strong>dos</strong>,Mara Regina Anunciação e Maria Célia Medina.116