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Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

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Marta <strong>de</strong> OliveiraDesta forma, as personagens encontram-se e <strong>de</strong>sencontram-se consigoe com os outros.De um modo geral, as personagens <strong>de</strong> Manuel Rui são planas ou<strong>de</strong>senha<strong>da</strong>s, isto é, personagens-tipo (234) , representando um grupo e/oumentali<strong>da</strong><strong>de</strong>, movimentando-se em <strong>de</strong>terminados ambientes ou círculos.A sua intervenção e apresentação, as características físicas e psicológicas,assim como os gestos e a linguagem não sofrem gran<strong>de</strong>s alteraçõesao longo <strong>da</strong> na<strong>rra</strong>ção.Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>, Crónica <strong>de</strong> um mujimbo e “De 1 Comba”apresentam um vasto leque <strong>de</strong> personagens, estes constituirão um retrato<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, feito <strong>de</strong> forma irónica e satírica, mas <strong>de</strong> uma ironiape<strong>da</strong>gógica (Mata: 1992) (235) . Porém, se numa primeira <strong>leitura</strong> aparentamenquadrar-se na linha <strong>da</strong> sátira social semelhante à exposta e <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>por Propp (1992), as reticências impõem-se numa análise maisprofun<strong>da</strong>, pois se existe uma função reparadora, através do humor edo riso, as <strong>obra</strong>s caminham muito além <strong>de</strong>ste aspecto, apesar <strong>de</strong> seanalisar e problematizar o social, os nossos olhares, enquanto leitores,encontram todo um universo que vai para além <strong>da</strong>quele, apesar <strong>de</strong> comele se <strong>de</strong>bater.Com um olhar crítico diante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>, o na<strong>rra</strong>dor resgataas vozes <strong>de</strong> um discurso i<strong>de</strong>ológico (236) , expõe os acontecimentos102234Philippe Hamon <strong>de</strong>fine personagens-tipo como “personagens comuns a várias sequências e <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>spor um mesmo número <strong>de</strong> eixos semânticos simples, sem consi<strong>de</strong>rar previamente a sua funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong>diferencial”. Hamon, Philippe, 1979, op. cit. p. 98.Por sua vez, Carlos Reis e Ana Lopes (1998) apresentam a seguinte <strong>de</strong>finição do termo “constituindouma subcategoria <strong>da</strong> personagem, o tipo po<strong>de</strong> ser entendido como personagem-síntese entre o individuale o colectivo, entre o concreto e o abstracto, tendo em vista o intuito <strong>de</strong> ilustrar <strong>de</strong> uma forma representativacertas dominantes do universo diegético on<strong>de</strong> se processa a acção (...). Nele convergem e reencontram-setodos os elementos <strong>de</strong>terminantes, humana e socialmente essenciais, <strong>de</strong> um período histórico,porque criando tipos mostram-se esses elementos no seu grau mais alto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento”. Reis, Carloset Lopes, Ana Cristina, Dicionário <strong>de</strong> <strong>Na</strong><strong>rra</strong>tologia, Coimbra, Almedina, 1998, p. 411.235“Ironia não como figura <strong>de</strong> estilo, mas como modo <strong>de</strong> representação, pela ligeireza como sãoapresenta<strong>da</strong>s situações absur<strong>da</strong>s a raiar o grotesco. Ironia também enquanto efeito <strong>de</strong> recepção pela repetiçãodos slogans revolucionários nas circunstâncias mais prosaicas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> quotidiana”. Mata, Inocência,Pelos trilhos <strong>da</strong> Literatura africana <strong>de</strong> Língua portuguesa, Pontevedra/Braga, Irman<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Fala <strong>da</strong> Galizae Portugal, 1992, p. 38.236Metalinguagem doutrinária utiliza<strong>da</strong> pelas personagens e ironicamente <strong>de</strong>sprovi<strong>da</strong> do seu significadooriginal. As i<strong>de</strong>ologias são completamente questiona<strong>da</strong>s pela linguagem marca<strong>da</strong>mente revolucionária,observa<strong>da</strong> nas falas <strong>de</strong> Diogo, Faustino e outros e nos cartazes hilariantes, <strong>de</strong> que as crianças seapropriam para aju<strong>da</strong>rem, tal como já referimos, à sua <strong>de</strong>smistificação.E-book CEAUP 2007

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