Marta <strong>de</strong> Oliveira“É possível inferir <strong>da</strong> literaturauma certa espécie <strong>de</strong> retratos sociais.”René W. et Warren A“Sobre a nu<strong>de</strong>z forte <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>o manto diáfano <strong>da</strong> fantasia.”Eça <strong>de</strong> QueirósDIOGO VERSUS FEIJÓ104Ambos constituem personagens-tipo (237) <strong>de</strong> uma mesma classe social– a burguesia, funcionando como os seus exímios representantes.Como tal, o leitor acaba por i<strong>de</strong>ntificá-los como uma pessoa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Para Venâncio (1992b:53), Diogo apresenta-se como “um representantetípico <strong>da</strong> pequena-burguesia luan<strong>de</strong>nse, consi<strong>de</strong>rando-se, elepróprio, um revolucionário, <strong>da</strong> revolução cubana apenas apanhava avestimenta: “quando se viaja <strong>de</strong> carro – dizia encontra-se porco por todoo lado. Então porque é que o tal ministro não man<strong>da</strong> comprar os porcosnas províncias e pôr carne nas bichas <strong>de</strong> Luan<strong>da</strong>? Matadouro o tuga(português) <strong>de</strong>ixou. Vejam só: um povo revolucionário como o <strong>de</strong> Cubatem a mesma opinião, come bué carne <strong>de</strong> porco”.Por outro lado, para a caracterização <strong>de</strong> Feijó contribuem uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> sentido e frases que revelam, entre outros aspectos, os conteúdos <strong>de</strong>237Remetendo para o âmbito social e psicológico que inspiram a sua configuração, as personagensfacilmente <strong>de</strong>monstram a classe que representam, no âmbito <strong>da</strong>s virtuali<strong>da</strong><strong>de</strong>s sígnicas evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>s pelosdiscursos, postura, atitu<strong>de</strong>s e reacções emblemáticas.E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruipensamento sobre ela produzidos. A sua apetência pela europeização e aurbanização remete para a típica personagem citadina, a <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar dosvalores tradicionais.Há, porém, alguns pontos distintos entre as duas personagens, aponte-seque Diogo representa a burguesia em vias <strong>de</strong> afirmação, por suavez, em Feijó, essa mesma burguesia já se encontra institucionaliza<strong>da</strong>.Por outro lado, Diogo adopta uma postura crítica <strong>de</strong> tudo e <strong>de</strong> todos,enquanto Feijó <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r instituído, seguindo à risca as indicaçõesdo MPLA.Diogo <strong>de</strong>safia aquilo que está pré-estabelecido, visto que cria umporco, no apartamento.Assim, no início <strong>da</strong> <strong>obra</strong>, Diogo chama atenção para algo caricato – aquestão <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> e falta <strong>de</strong> recursos é <strong>de</strong>staca<strong>da</strong> no elevador, on<strong>de</strong>não é suposto levar um leitão, no entanto, com o monta-cargas avariado,que segundo Diogo se <strong>de</strong>via ao facto <strong>da</strong> mulher <strong>de</strong> Faustino ter passadoum dia inteiro a transportar mercadoria, as opções estavam limita<strong>da</strong>s.O assessor popular crítica Diogo, apelando à manutenção <strong>da</strong> disciplina.Contudo, a personagem <strong>de</strong>monstra o seu carácter vincado e argumenta asua posição, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo-a com exemplos objectivos e reais.Diogo assume ain<strong>da</strong> uma posição prática e crítica face à reali<strong>da</strong><strong>de</strong>circun<strong>da</strong>nte:“Qual Instituto [<strong>da</strong> Habitação], qual mer<strong>da</strong>, bando <strong>de</strong> corruptos quea<strong>rra</strong>njam casas só para os amigos. Eu sempre paguei ren<strong>da</strong>. E casas que nãotêm porco estão mais porcas do que esta”.(p. 11)“Quem então é que este porco can<strong>de</strong>ngue está a incomo<strong>da</strong>r? Só na lei<strong>de</strong>sse advogado <strong>de</strong> tuga. Não é? Que tratem mas é <strong>de</strong> resolver o problema<strong>da</strong> água”.(p. 11)105Mantém uma cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong> inicial com a família, sendo que ao longo<strong>da</strong> novela pai e filhos distinguem-se pelos i<strong>de</strong>ais que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m, Liloca,que respeita sempre a posição do marido, tentará mediar as posições:2007 E-BOOK CEAUP
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