Marta <strong>de</strong> Oliveiraproporciona<strong>da</strong> aquando <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> dos europeus, nomea<strong>da</strong>mentedos portugueses.Com efeito, os portugueses efabularam, <strong>de</strong>sejaram, alcançaram “pormares nunca <strong>da</strong>ntes navegados”, aportando em horizontes até então<strong>de</strong>sconhecidos <strong>da</strong> “velha Europa”.Os sons, o ritmo e a(s) i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>(s) <strong>de</strong>stes povos ecoavam um gritomagnético.Contudo, as palavras e o som <strong>da</strong> esfinge do africano foram subjugadospela opressão e pelas armas. Durante déca<strong>da</strong>s, os povos foram arruinados,<strong>de</strong>srespeitados, subjugados e ignorados como indivíduos.Luan<strong>da</strong> foi a primeira ci<strong>da</strong><strong>de</strong> a ser fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelos europeus no oci<strong>de</strong>nteafricano, Venâncio (1996a:27) esclarece-nos sobre este assunto:“primeiramente <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> <strong>de</strong> vila e, mais tar<strong>de</strong>, em 1605, eleva<strong>da</strong>a foros <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A sua fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>veu-se sobretudo, sem menosprezaro interesse suscitado no po<strong>de</strong>r central (Lisboa) pela hipotéticaexistência <strong>de</strong> prata no seu interior (em Cambambe), à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>assegurar o fornecimento <strong>de</strong> escravos, tanto mais que era conhecido otráfico que comerciantes e agricultores são-tomenses exerciam nestacosta” (12) .Assim, os portugueses foram estabelecendo e alargando os “contactos”com os povos existentes (13) .Neste contexto, <strong>de</strong>vemos salientar o papel prepon<strong>de</strong>rante exercidopela Conferência <strong>de</strong> Berlim (1884-1885) (14) , que fomenta a implementaçãoefectiva dos exércitos <strong>da</strong> ocupação colonial, que conquistaram “aferro e fogo” os diferentes povos africanos.2612Venâncio, José Carlos, A Economia <strong>de</strong> Luan<strong>da</strong> e Hinterland no século XVIII. Um Estudo <strong>de</strong> SociologiaHistórica, Lisboa, Editorial Estampa, 1996a.13“É assim que surgem os contactos com o Ngola, o chefe político mbundu mais importante nestaregião. Os portugueses precisaram <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um século para fazerem do Ngola um vassalo do rei doKongo, potentado localizado a norte <strong>de</strong> Ngola. Mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotado, preservaram os portuguesesto<strong>da</strong>via o nome Ngola para <strong>de</strong>signar a região conquista<strong>da</strong>, a região luso-africana, que ficou a ser conheci<strong>da</strong>pelo reino <strong>de</strong> Angola ou ain<strong>da</strong> e paralelamente pela colónia <strong>de</strong> Angola” (i<strong>de</strong>m:27. Omitimos aparagrafação).14Gonçalves (2002:109) <strong>de</strong>staca “a Conferência <strong>de</strong> Berlim foi <strong>de</strong>terminante quanto à ocupação efectivados territórios <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> potência europeia e, consequentemente, quanto à exploração colonial, sobretudono respeitante ao recrutamento <strong>da</strong> mão-<strong>de</strong>-<strong>obra</strong>, don<strong>de</strong> resultaram os gran<strong>de</strong>s conflitos sociais”.Gonçalves, António Custódio, “Estado, Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>Na</strong>cionalismos: O caso <strong>de</strong> Angola”, in África Subsariana.Globalização e Contextos Locais, Porto, Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Porto, 2002.E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel RuiNo entanto, as vozes e o canto do povo angolano insurgiram-se, “ogrito negro” <strong>de</strong>sejava a “alforria”. Neste sentido, eram porta-vozes dopovo angolano os movimentos <strong>de</strong> libertação nacional, nomea<strong>da</strong>mente, aFNLA (Frente <strong>Na</strong>cional <strong>de</strong> Libertação <strong>de</strong> Angola), o MPLA (MovimentoPopular <strong>de</strong> Libertação <strong>de</strong> Angola) e a UNITA (União <strong>Na</strong>cional para a In<strong>de</strong>pendênciaTotal <strong>de</strong> Angola).A luta <strong>de</strong> libertação foi árdua, laboriosa e não consensual. Paraalém <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as consequências materiais e humanas, implica<strong>da</strong>s pelague<strong>rra</strong> colonial, a agravante <strong>da</strong>r-se-ia no próprio <strong>de</strong>sentendimentoentre os angolanos (15) .Ora, “o retirar âncora” do opressor assinalar-se-ia, para a posteri<strong>da</strong><strong>de</strong>,a 11 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1975, o “berço”/a te<strong>rra</strong> “mater” acolheriao seu “rebento” num caos <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição e abandono, envolto na ausência<strong>de</strong> condições e capitais, transbor<strong>da</strong>ndo instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> económica epolítica, dispondo <strong>de</strong> estruturas sociais <strong>de</strong>ficientes – assim nascia umpaís: Angola.A in<strong>de</strong>pendência <strong>da</strong> República Popular <strong>de</strong> Angola (RPA) foi proclama<strong>da</strong>pelo MPLA (16) que passava a dirigir o novo Estado angolano, passando<strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> libertação a partido-Estado, <strong>de</strong>tendo os po<strong>de</strong>reslegislativo, executivo e judicial (17) .No entanto, passa<strong>da</strong>s algumas déca<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a in<strong>de</strong>pendência, o paísviveu um legado <strong>de</strong> dor, gue<strong>rra</strong>, fome, carência, angústia e corrupção.Apesar <strong>de</strong> terem assinado os “Acordos <strong>de</strong> Alvor” (18) (Janeiro <strong>de</strong> 1975),a in<strong>de</strong>pendência seria proclama<strong>da</strong> em plena gue<strong>rra</strong> civil e com a presençaefectiva <strong>de</strong> dois exércitos estrangeiros: o sul-africano (com ligações à15“A luta pelo po<strong>de</strong>r travava-se também entre os diversos movimentos, que <strong>de</strong>fendiam a libertação<strong>de</strong> Angola, até internamente, no seio dos próprios movimentos, disputava-se o po<strong>de</strong>r”. Schubert, Benedict,A gue<strong>rra</strong> e as Igrejas – Angola 1961-1991, Basel P. Schelettwein Publishing Switerland, 2000, p. 73.16“As tropas do MPLA expulsam as <strong>de</strong>mais <strong>da</strong> capital do país, passando a haver ingerência estrangeirano conflito angolano, a partir <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1975: tropas zairenses inva<strong>de</strong>m Angola a partir doNorte e tropas sul-africanas a partir do Sul (...). O MPLA recorre ao auxílio <strong>da</strong>s tropas cubanas, a partir <strong>de</strong>Outubro <strong>de</strong> 1975”. Carvalho, Paulo, Angola, Quanto Tempo Falta Para Amanhã? – reflexões sobre as CrisesPolítica, Económica e Social, Oeiras, Celta Editores, 2002, p. 27.17A FNLA e a UNITA proclamaram a in<strong>de</strong>pendência <strong>da</strong> República Democrática <strong>de</strong> Angola (RDA) noHuambo, contudo enquanto o governo do MPLA foi reconhecido internacionalmente, o governo FNLA/UNITA não sobreviveria mais do que um dia e não receberia consagração internacional. A UNITA, logo nodia imediato, <strong>de</strong>marcava-se <strong>da</strong> posição anterior. I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.18Acordo <strong>de</strong> cessar fogo estabelecido entre as tropas portuguesas e os três movimentos <strong>de</strong> libertação,com vista à in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> Angola.272007 E-BOOK CEAUP
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