19.08.2015 Views

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruisuas na<strong>rra</strong>tivas. O lirismo, característico do autor (253) , percorre, por exemplo,Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> focalização que recebem as crianças.Em Rioseco, é Kuanza (254) quem inicia a protagonista no processo <strong>de</strong>conhecimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Noíto fun<strong>da</strong>menta a sua opção na sabedoriapopular, nomea<strong>da</strong>mente na tradição <strong>da</strong> sua te<strong>rra</strong>, no interior, que reconhecena criança a vonta<strong>de</strong> que a leva a construir mais firmemente ocaminho para a maturi<strong>da</strong><strong>de</strong>:“<strong>Na</strong> minha te<strong>rra</strong> falam que quem quer saber <strong>da</strong>s outras te<strong>rra</strong>s, <strong>de</strong>ve primeiroan<strong>da</strong>r com os miúdos. Se tu quiseres saber como se po<strong>de</strong> amadurecer,nunca perguntes numa fruta já madura. Pergunta primeiro numa noxanova. <strong>Uma</strong> noxa que está a ver as outras se amadurecem, outras caírem <strong>de</strong>árvore ain<strong>da</strong> ver<strong>de</strong>s e ela com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> amadurecer. Aprendi quase tudocom o meu neto”.Rioseco, p. 187A criança assume, <strong>de</strong>sta forma, a superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> e a função <strong>de</strong> iniciador.Alfredo Margarido (1980:360) (255) <strong>de</strong>staca “a aprendizagem <strong>da</strong> infância”como “a aprendizagem do mundo”. De facto, o levantamentocrítico <strong>da</strong>s situações é realizado pelos miúdos que representam, por suavez, a <strong>de</strong>núncia ao sistema, ao regime e à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vigente em Angola eque os adultos não são capazes <strong>de</strong> reconhecer. São as crianças que parodiama reali<strong>da</strong><strong>de</strong> envolvente (Cf. sobrinhos <strong>de</strong> Feijó).Parece-nos que estas realizam em si a utopia (256) . Às crianças é <strong>da</strong>do o253Não po<strong>de</strong>mos esquecer-nos <strong>da</strong> vasta <strong>obra</strong> poética <strong>de</strong> Manuel Rui.254Um adolescente.255Margarido, Alfredo, Estudos sobre literaturas <strong>da</strong>s nações africanas <strong>de</strong> língua portuguesa, Lisboa, ARegra do Jogo, 1980.256Platão é geralmente consi<strong>de</strong>rado o pai <strong>da</strong> utopia. Para o filósofo, a utopia era entendi<strong>da</strong> comoci<strong>da</strong><strong>de</strong> perfeita. Com efeito, diversas são as <strong>de</strong>finições que o conceito tem conhecido ao longo <strong>da</strong> História.Segundo Hodgart (1969:131): “a utopia faz uma crítica do mundo i<strong>rra</strong>cional do presente oferecendo umcontraste racional”; na linha <strong>de</strong> Ricoeur (Op. cit. Laranjeira: 1994: 223). A utopia “c´est ce qui maintientl´écart entre l´espérance et la tradition”, isto é, enquanto a i<strong>de</strong>ologia assume a função <strong>de</strong> “redoublementdu réel”, a utopia tem a função <strong>de</strong> excentrici<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação ao presente, <strong>de</strong> produção. Karl Manheim(1979), tal como Ernest Bloch, enten<strong>de</strong> que os elementos que i<strong>de</strong>ntificam e caracterizam a utopia são <strong>de</strong>natureza funcional: ”the function of bursting the bonds of the existing or<strong>de</strong>r” (i<strong>de</strong>m:173). Assim, se se<strong>de</strong>signar como topia uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> e concreta or<strong>de</strong>m social, as aspirações e os <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> alteraressa mesma or<strong>de</strong>m po<strong>de</strong>m receber a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> utopia (i<strong>de</strong>m: ibi<strong>de</strong>m). Manheim, Karl, I<strong>de</strong>ology andutopy, London, Routledge & Kegan Paul, 1979.<strong>Na</strong> Grécia antiga e na China, por exemplo, para alcançar a utopia “ten<strong>de</strong>u a pôr-se uma tónica muitomais forte nas possíveis formas concretas <strong>de</strong> fazer a ponte entre a or<strong>de</strong>m i<strong>de</strong>al e a or<strong>de</strong>m social mun<strong>da</strong>na,1192007 E-BOOK CEAUP

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!