Marta <strong>de</strong> Oliveira“E nessa noite, dona Liloca <strong>de</strong>cifrou estrelas <strong>de</strong> amor nos olhos luarentosdos filhos brilhando <strong>de</strong> alegria por não ouvirem o pai xingar no porconem repetir ameaças <strong>de</strong> morte à faca<strong>da</strong> contra “carnaval <strong>da</strong> vitória”.(p. 51)Para além <strong>da</strong> figura materna, surge ain<strong>da</strong> uma outra personagem femininatambém ela cúmplice e amiga <strong>da</strong>s crianças. Referimo-nos à professora,ministrando um ensino inovador e livre <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong>spóticas,<strong>de</strong>monstra carinho e atenção para com as crianças, respeitando-as nosseus i<strong>de</strong>ais (275) :“–A camara<strong>da</strong> já faz i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> sua convocação, trouxe to<strong>da</strong>s as re<strong>da</strong>cçõese <strong>de</strong>senhos? / – Sim. – Nos olhos <strong>da</strong> professora alindou-se uma on<strong>da</strong> <strong>de</strong> orgulhosaalegria. – Antes que me esqueça, os alunos propuseram e votaramtodos a favor que a nossa escola passasse a chamar-se “carnaval <strong>da</strong> vitória”./(...) Não batia nos alunos. Às vezes, colegas até lhe gozavam por causa <strong>de</strong>ssei<strong>de</strong>alismo.”(p. 45)128A responsabilização <strong>da</strong> mulher na função educativa e <strong>de</strong> sageza épersonifica<strong>da</strong> na professora (Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>) e nas “mais velhas”,Dona Bia e Catarina, respectivamente. Desta forma, a própria concepçãodo ensino e educação está vincula<strong>da</strong> à imagem <strong>da</strong> mulher.Papel semelhante a Liloca será aquele que Joaninha <strong>de</strong>sempenhaem Crónica <strong>de</strong> Um Mujimbo, contudo, contrariamente àquela, esta será<strong>de</strong>scrita pormenoriza<strong>da</strong>mente, usava cinta para apertar a barriga e ascoxas, porém mantinha-se bonita “no rosto <strong>da</strong> beleza dos vinte anos”,cabelo negro <strong>de</strong>sfrisado na “condizência” <strong>de</strong> olhos gran<strong>de</strong>s “<strong>de</strong> vi<strong>da</strong>” eos <strong>de</strong>ntes “<strong>de</strong>senhados superior que os postiços a sobressaírem do vincocarnudo dos lábios”, com a “<strong>de</strong>liciosa covinha no queixo” (p. 24).Vivia obceca<strong>da</strong> com a dieta e com a visita à prima <strong>de</strong> Lisboa.Joaninha é, tal como Liloca, fiel, amiga, confi<strong>de</strong>nte e leal:275O seu papel é semelhante àquele que Bélita <strong>de</strong>sempenha em Rioseco. Bélita, no exercício <strong>da</strong>s suasfunções <strong>de</strong> professora, atenta às motivações <strong>da</strong>s crianças, inscrevendo no “curriculum” escolar as partes<strong>de</strong> um barco, acabando por conciliar a escola com a vi<strong>da</strong>.E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruicopo”.“Joaninha voltou com a ban<strong>de</strong>ja. Pote <strong>de</strong> gelo, ga<strong>rra</strong>fa <strong>de</strong> uísque e o(p. 18)“Beijou-o na face retirando-lhe o copo <strong>da</strong> mão para o recolocar sobre aban<strong>de</strong>ja”.(p. 18)“O telefone tocou e Joaninha apressou-se a trazê-lo junto do marido”.(p. 19)Também Joaninha li<strong>da</strong> com a intriga do segredo, sentindo inclusiveum estranho prazer em sabê-lo:“Depois o segredo insistente no seu pensamento. Martelado. Pareciauma reza e sentiu um prazer estranho <strong>de</strong> arrepio febril. Estremeceu”.(p. 21)Joaninha é, ao contrário do marido, católica e supersticiosa:“‘Assim não, parece <strong>de</strong> um morto e pôs a biqueira <strong>de</strong> um ao contrário <strong>da</strong>outra, ‘quebra o azar’. Mirou os sapatos na nova postura. Também não faziasentido “que raio uma pessoa tem medo não sei porquê os sapatos que malpo<strong>de</strong>m fazer e parece que falam (...) Benzeu-se sob a Senhora do Carmo”.(p. 21)Ambas tentam aju<strong>da</strong>r os respectivos maridos a equacionar os seusanseios. Neste caso, Joaninha leva o marido, por exemplo, para a praia,aju<strong>da</strong>ndo-o a <strong>de</strong>scontrair. Deci<strong>de</strong> também acompanhá-lo na sua visita aoestrangeiro:129“Amava o marido e <strong>de</strong>leitava-se por sabê-lo <strong>de</strong>spreocupado, só com elae o filho, longe do serviço, <strong>da</strong> casa e dos amigos”.(p. 46)“Depois <strong>da</strong>s férias ficas <strong>de</strong>z anos mais novo. Agora isso <strong>da</strong> Roménia... iaspara Portugal. Essa mania <strong>de</strong> man<strong>da</strong>r os doentes para os países socialistas”.(p. 118)2007 E-BOOK CEAUP
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