Marta <strong>de</strong> OliveiraMaria Rosa Monteiro (s/d) aponta para o mundo “kitsch” e dialécticoevi<strong>de</strong>nciado na <strong>obra</strong>, encontrando o seu expoente máximo nas palavras<strong>de</strong> Adérito: “<strong>da</strong> afini<strong>da</strong><strong>de</strong> formal com a dialéctica, conclui Adérito ocarácter dialéctico do que dissera. E é justamente a forma que interessa(Adérito é um intelectual “formalista”). Mas o seu interesse nela é ain<strong>da</strong>“estético”: o que disse é uma tira<strong>da</strong> – uma forma verbal automatiza<strong>da</strong> eauto-suficiente. Não é por acaso, é o que justamente a dialéctica costumaser, on<strong>de</strong> a referência a ela é obrigatória. A sua completu<strong>de</strong> pseudo-explicativadispensa a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> intotalizável e frequentemente <strong>de</strong>sagradável(aquela que o mujimbo veicularia). O raciocínio dialéctico antecipa aperfeição e o bonito (é o amanhã que hoje canta)”.Lun<strong>da</strong>mo consi<strong>de</strong>ra que o segredo é factor <strong>de</strong> união entre aquelesque o partilham, assumindo-se como um elo <strong>de</strong> ligação entre aquelesque amam o partido:“Se calhar um segredo une mesmo as pessoas. Se calhar mesmo quehaja pessoas a bocar o segredo, como pensou Feijó, essas pessoas, no fundoestão uni<strong>da</strong>s, passas <strong>de</strong> umas para as outras mas tudo gente séria. Gente como coração no Éme. Estou a ver o lado positivo do segredo”.(p. 87)Convém ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>termos a nossa atenção em Leninegrado (205) . Estepersonifica os “frutos não colhidos” por aqueles que lutaram pela revoluçãosocialista (206) :84“O pior é que o tempo passa por nós e aquilo que sonhámos parece,como hei-<strong>de</strong> dizer, assim como se quando a gente chega a um rio e, em vez<strong>de</strong> atravessar para buscar banana do outro lado, fica só nesta margem a apanharpeixes com uma re<strong>de</strong> velha.”(p. 29)205A posse <strong>de</strong> um nome assegura a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> do eu. Neste sentido, a adopção <strong>de</strong> um novo nomeconsagra o <strong>de</strong>saparecimento <strong>da</strong> antiga personali<strong>da</strong><strong>de</strong> em prol <strong>de</strong> um novo ser social. Desta forma, não<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser bastante simbólica a adopção do nome “Leninegrado”, região administrativa <strong>da</strong> Rússia, umdos gran<strong>de</strong>s centros industriais do país. Cf. Louis-Vincent, Thomas et Luneau, René, La terre Africaine etses Religions, Paris, L´Harmattan, 1980.206O MPLA, <strong>de</strong> formação marxista-leninista, teria a missão <strong>de</strong> organizar a nação pela perspectiva domo<strong>de</strong>lo oci<strong>de</strong>ntal, utilizando, como tal, a teoria socialista a fim <strong>de</strong> impulsionar a superação <strong>da</strong>s diferenças,em nome <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e liber<strong>da</strong><strong>de</strong>.E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel RuiMais tar<strong>de</strong> confessaria o seu afastamento dos amigos influentes, istoporque:“Alguns podiam pensar que um gajo an<strong>da</strong> a rastejar, outros estão semprereunidos, outros man<strong>da</strong>m dizer que não estão e a gente a vê-los, outrosman<strong>da</strong>m esperar três horas. Eu não estou pra isso e é melhor, assim nãoestrago a amiza<strong>de</strong>”.(pp. 30-31)Somos ain<strong>da</strong> confrontados com o marasmo no trabalho <strong>de</strong> escritório:“Lun<strong>da</strong>mo sentado à secretária. Ca<strong>de</strong>ira giratória. Marcadores azul,ver<strong>de</strong>, roxo, amarelo e castanho. Sempre a <strong>de</strong>senhar i<strong>de</strong>ias no papel e a afastar,<strong>de</strong> vez em quando, as bafora<strong>da</strong>s dos cigarros <strong>de</strong> Adérito. Fecha o roxo.Abre o amarelo. Adérito a esmagar beata no cinzeiro”.(p. 35)“Adérito a ensaiar bolinhas <strong>de</strong> fumo e a <strong>de</strong>sconseguir no treme treme einsegurança nos lábios”.(p. 40)Manuel Rui consi<strong>de</strong>ra Feijó: “um alienado a tudo, não só ao mundoeuropeu, mas também aquilo que implica as viagens, o ser burguês, odinheiro (...)” (207) .Desta forma, vamos <strong>de</strong>senhando um quadro <strong>de</strong> personagens que levantamquestões liga<strong>da</strong>s à idiossincrasia <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana, pauta<strong>da</strong>por um regime <strong>de</strong> partido único, on<strong>de</strong> a corrupção e o novo riquismoganham forma/expressão. Os vários ambientes e episódios ilustram omodo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana.A <strong>obra</strong> parece-nos indicar que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil angolana mantémain<strong>da</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autonomia e abertura, que é a que <strong>de</strong>corre <strong>da</strong>orali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> memória, enfim, dos seus estratos tradicionais.Com efeito, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> referir a importância <strong>da</strong> palavrano contexto africano. Neste caso, o “mujimbo” reitera este aspecto.85207Op. cit. Entrevista em anexo, p. 167.2007 E-BOOK CEAUP
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