Na(rra)ção satÃrica e humorÃstica: Uma leitura da obra narrativa de ...
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<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel RuiA na(<strong>rra</strong>)ção torna-se crónica ou crítica. O enredo é, aparentemente,simples. Encontramos um chefe <strong>de</strong> serviço, Feijó, e os seus doiscolaboradores, Lun<strong>da</strong>mo e Adérito, trabalhadores <strong>de</strong> uma empresa, provavelmenteum ministério (193) , que têm a função <strong>de</strong> guar<strong>da</strong>r um segredo.Neste sentido, o gran<strong>de</strong> perigo que surge é o mujimbo ou o boato. A dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>é que em Luan<strong>da</strong> o mujimbo é um elemento indispensável <strong>da</strong>comunicação e as pessoas são confronta<strong>da</strong>s com ele frequentemente.Tanto a pequena burguesia como o Po<strong>de</strong>r aparecem num panoramaem que o segredo, <strong>de</strong> quem apenas o leitor parece ser o único <strong>de</strong>sconhecedor,circula livremente pela ci<strong>da</strong><strong>de</strong> (194) .A crítica abor<strong>da</strong> os po<strong>de</strong>res e influências do aparelho partidário, <strong>da</strong>srelações hierárquicas no trabalho, dos hábitos <strong>de</strong> lazer (a praia, a bebi<strong>da</strong>,as férias, a Europa, etc), enfim, do comportamento <strong>de</strong> uma pequenaburguesia “muito marca<strong>da</strong> pelas obrigações profissionais e nacionais, <strong>de</strong>imperativos revolucionários, mas voraz nos apetites e ambições pessoais”(Laranjeira: 1994b:251) (195) .O autor contrapõe uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> tradicional (196) em que a informaçãoé vital, a uma organização política burocratiza<strong>da</strong>, a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> urbanaregi<strong>da</strong> pelo documento, on<strong>de</strong> a escrita instaura uma nova or<strong>de</strong>m quepreten<strong>de</strong> reger aquela, em que a ocultação <strong>da</strong> informação é vital.<strong>Na</strong> primeira óptica a informação é partilha<strong>da</strong> pela família; a segun<strong>da</strong>será aquela que Feijó representa como emissário <strong>da</strong> pequena burguesia.Neste contexto, a obsessão <strong>de</strong> Feijó, perante a revelação do segredo,ganhará tonali<strong>da</strong><strong>de</strong>s satíricas, provocando riso no leitor que se divertecom as diferentes reacções/receios <strong>da</strong>quele, isto porque, como funcionário,é obrigado a guar<strong>da</strong>r para si o segredo que o mujimbo obriga a transmitir.Maria Rosa Monteiro (s/d) (197) chama atenção para este aspecto:77193“Po<strong>de</strong> ser uma empresa, um director <strong>de</strong> uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> económica estatal... O leitor escolhe”. Laban,Michel, op. cit. 735.194“Mesmo que não haja pilhas para rádios, que não haja jornais, as notícias chegam com veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>,transmitem-se... O processo oral <strong>da</strong> notícia é o mais veloz na nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”. I<strong>de</strong>m, p. 734.195Laranjeira, Pires, “Manuel Rui –Crónica <strong>de</strong> um mujimbo” in, Colóquio/Letras, nº 131 Janeiro-Março,Lisboa, Fun<strong>da</strong>ção Calouste Gulbenkian, 1994b.196O espaço <strong>da</strong> memória/transmissão oral constituiu-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, como lugar privilegiado <strong>de</strong>valores <strong>de</strong> referência antigos e mo<strong>de</strong>rnos.2004.197Monteiro, Maria Rosa, “Mujimbo, dialéctica e Kitsch”, in www.ciberkiosk.pt, Acesso em Abril <strong>de</strong>2007 E-BOOK CEAUP