Marta <strong>de</strong> Oliveira18contextualização histórica, a utopia, as personagens, linguagens, discursose simetrias entre artes.Tentamos vali<strong>da</strong>r algumas perspectivas <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>literária, mestiçando também o nosso texto com a visão interna <strong>da</strong> sociologia<strong>da</strong> literatura, nomea<strong>da</strong>mente pela presença do social na <strong>obra</strong><strong>de</strong> Manuel Rui, empregamos, <strong>de</strong>sta forma, a ficção como um <strong>da</strong>do <strong>de</strong>informação sociológica e antropológica (Dirkx: 2000) (1) , aliado, naturalmente,a aspectos <strong>de</strong> natureza formal.Para além <strong>da</strong>s fontes literárias e <strong>da</strong> bibliografia secundária, usamoscomo bússolas orientadoras as entrevistas ao autor, realiza<strong>da</strong>s por nós(entrevista anexa: 155-160) (2) e por Michel Laban (1991:709-738) (3) .Convictos <strong>de</strong> que os trabalhos sobre autores/<strong>obra</strong>s individuais, queenformam sobre a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> escrita, <strong>de</strong>vem ser conjugadoscom uma percepção global <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> sistema literário nacional, no seuprogresso e sistematização, assim como na história que o <strong>de</strong>fine, elaboramoso enquadramento temporal do escritor.A dimensão histórica, integra<strong>da</strong> numa <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva, or<strong>de</strong>na umatopologia social e um conjunto <strong>de</strong> valores, dos quais tentamos <strong>de</strong>scobriroposições e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que estabelecem as homologias <strong>da</strong> <strong>obra</strong>.Certos <strong>de</strong> que a vivência histórica e cultural influencia qualquer escritor,inserimos, o texto no contexto. Seria inconcebível abor<strong>da</strong>r a noção<strong>de</strong> texto, sem a consi<strong>de</strong>ração do contexto, e se este contexto for o <strong>da</strong> lutapela in<strong>de</strong>pendência (4) e <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia(s), esta matériaassume-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, como algo indispensável.De facto, a compreensão <strong>de</strong> uma suposta condição pós-colonial emAngola passa pelo estudo <strong>de</strong> tal contexto, sincrónica e diacronicamente.Daí termos reservado o primeiro ponto, intitulado “Sons <strong>da</strong> esfinge angolana”,para esta temática.No ponto dois do primeiro capítulo, com a mesma consciência <strong>de</strong> queum escritor não possui sozinho o seu significado completo, e para melhorcompreen<strong>de</strong>rmos e interpretarmos a sua <strong>obra</strong>, tentamos encontrar umDirkx, Paul, Sociologie <strong>de</strong> la litérature, Paris, Armand Colin, 2000.Realiza<strong>da</strong> a 17 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2006, na Póvoa <strong>de</strong> Varzim.Laban, Michel, Angola – encontro com escritores, vol. II, Porto, Fun<strong>da</strong>ção Engenheiro António <strong>de</strong>Almei<strong>da</strong>, 1991.Manuel Rui foi membro activo do MPLA.E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruieixo diacrónico <strong>da</strong> literatura angolana, percebendo, <strong>de</strong>sta forma, a raiz<strong>da</strong> árvore <strong>da</strong> qual fluirão os inúmeros frutos, <strong>de</strong> que a <strong>obra</strong> <strong>de</strong> ManuelRui constitui elemento saudável.Proce<strong>de</strong>mos, então, a uma breve reflexão sobre alguns dos aspectosque a<strong>de</strong>stram a literatura angolana na sua generali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e tendo comohorizonte temático a na<strong>rra</strong>tiva, intitulamos este aspecto <strong>de</strong> “Ficção na<strong>rra</strong>tivaangolana”.Por sua vez, “Visão satírica e humorística” consiste naqueles que julgamosserem os aspectos incisivos e críticos do autor à socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, através<strong>da</strong> sátira e do humor.Ao escolhermos o termo sátira, não nos estamos a referir ao géneroliterário, totalmente latino, mas àquilo que se enten<strong>de</strong> como “espíritosatírico”, e que, <strong>de</strong>sviando-nos <strong>da</strong>s controvérsias teóricas que po<strong>de</strong>rásuscitar, po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar como o lado crítico <strong>da</strong> literatura, isto é, aintenção que o escritor manifesta, em última instância, para mo<strong>de</strong>lar ealterar o mundo real e extraliterário.Ora, torna-se perfeitamente visível a crítica dos costumes sociais queas diferentes personagens retratam, quer seja indivíduo particular, querseja um tipo <strong>de</strong> governo ou estruturas e i<strong>de</strong>ais. O humor surge entãocomo forma <strong>de</strong> construção <strong>da</strong> sátira.Em “Escola do Real” não preten<strong>de</strong>mos com a nomenclatura adopta<strong>da</strong>restringir a nossa análise a uma corrente literária, mas antes ampliaros diferentes aspectos <strong>da</strong> <strong>obra</strong> do autor. O conceito escola não é, <strong>de</strong>staforma, entendido como a imitação sistemática dos processos <strong>de</strong> um mestre/teoria,mas antes como o pressuposto <strong>de</strong> um movimento geral <strong>da</strong>Arte, em que a crónica dos costumes, a sátira, o humor e a ironia se <strong>de</strong>senhamna representação crítica e analista <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma <strong>da</strong><strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,neste caso a angolana. O chamado escritor-contexto-povo e o intuito <strong>de</strong>representar o real, (5) caricaturando as personagens, dissecando comportamentos,gestos e atitu<strong>de</strong>s, inserem Manuel Rui na linha do Realismo e<strong>de</strong> escritores como Eça <strong>de</strong> Queirós.19Hilário <strong>de</strong>staca em Manuel Rui a “plastici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> linguagem e sua aclimatização do literário, ouficção literária, o real, a que a <strong>obra</strong> reporta, surge objecto <strong>de</strong> cosmética ou mascarado suficientementequalitativo para que a <strong>leitura</strong> seja fruí<strong>da</strong> e haja uma envolvente e dúbia (subjectiva) chega<strong>da</strong> ao(s)sentido(s)”. Hilário, Fernando, <strong>Uma</strong> <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> novela Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong> <strong>de</strong> Manuel Rui, Porto, EdiçõesUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fernando Pessoa, 2006, p. 123.2007 E-BOOK CEAUP
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