Marta <strong>de</strong> OliveiraAS CRIANÇASPassem os olhos pelos nossos olhosnosso futuro os olhos <strong>da</strong>s criançasleiam nos olhos e nos pése também nos risos e nas lágrimasleiam nestes exércitos <strong>de</strong> esperançasas letras <strong>da</strong> manhãque a revolução <strong>de</strong>sperta:O sol é nosso, Pioneiro!E a vitória é certa!Manuel Rui“Gran<strong>de</strong> é a poesia, a bon<strong>da</strong><strong>de</strong> e as <strong>da</strong>nças...Mas o melhor do mundo são as crianças”.Fernando Pessoa118“L´utopie est ce qui empêche l´horizond´attente <strong>de</strong> fusionner avec le champ <strong>de</strong>l´experience”.RicoeurAS CRIANÇAS – REALIZAÇÃO DA UTOPIASe na boca <strong>da</strong>s crianças o rei vai nu, a criança mítica <strong>de</strong>nuncia osparadoxos sociais, numa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> também ela nua, ou seja, analítica.No fluir <strong>da</strong> na(<strong>rra</strong>)ção crítica e reflexiva, em visível simpatia com estafaixa etária, Manuel Rui <strong>de</strong>lega-lhe um papel extremamente relevante nasE-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruisuas na<strong>rra</strong>tivas. O lirismo, característico do autor (253) , percorre, por exemplo,Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> focalização que recebem as crianças.Em Rioseco, é Kuanza (254) quem inicia a protagonista no processo <strong>de</strong>conhecimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Noíto fun<strong>da</strong>menta a sua opção na sabedoriapopular, nomea<strong>da</strong>mente na tradição <strong>da</strong> sua te<strong>rra</strong>, no interior, que reconhecena criança a vonta<strong>de</strong> que a leva a construir mais firmemente ocaminho para a maturi<strong>da</strong><strong>de</strong>:“<strong>Na</strong> minha te<strong>rra</strong> falam que quem quer saber <strong>da</strong>s outras te<strong>rra</strong>s, <strong>de</strong>ve primeiroan<strong>da</strong>r com os miúdos. Se tu quiseres saber como se po<strong>de</strong> amadurecer,nunca perguntes numa fruta já madura. Pergunta primeiro numa noxanova. <strong>Uma</strong> noxa que está a ver as outras se amadurecem, outras caírem <strong>de</strong>árvore ain<strong>da</strong> ver<strong>de</strong>s e ela com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> amadurecer. Aprendi quase tudocom o meu neto”.Rioseco, p. 187A criança assume, <strong>de</strong>sta forma, a superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> e a função <strong>de</strong> iniciador.Alfredo Margarido (1980:360) (255) <strong>de</strong>staca “a aprendizagem <strong>da</strong> infância”como “a aprendizagem do mundo”. De facto, o levantamentocrítico <strong>da</strong>s situações é realizado pelos miúdos que representam, por suavez, a <strong>de</strong>núncia ao sistema, ao regime e à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vigente em Angola eque os adultos não são capazes <strong>de</strong> reconhecer. São as crianças que parodiama reali<strong>da</strong><strong>de</strong> envolvente (Cf. sobrinhos <strong>de</strong> Feijó).Parece-nos que estas realizam em si a utopia (256) . Às crianças é <strong>da</strong>do o253Não po<strong>de</strong>mos esquecer-nos <strong>da</strong> vasta <strong>obra</strong> poética <strong>de</strong> Manuel Rui.254Um adolescente.255Margarido, Alfredo, Estudos sobre literaturas <strong>da</strong>s nações africanas <strong>de</strong> língua portuguesa, Lisboa, ARegra do Jogo, 1980.256Platão é geralmente consi<strong>de</strong>rado o pai <strong>da</strong> utopia. Para o filósofo, a utopia era entendi<strong>da</strong> comoci<strong>da</strong><strong>de</strong> perfeita. Com efeito, diversas são as <strong>de</strong>finições que o conceito tem conhecido ao longo <strong>da</strong> História.Segundo Hodgart (1969:131): “a utopia faz uma crítica do mundo i<strong>rra</strong>cional do presente oferecendo umcontraste racional”; na linha <strong>de</strong> Ricoeur (Op. cit. Laranjeira: 1994: 223). A utopia “c´est ce qui maintientl´écart entre l´espérance et la tradition”, isto é, enquanto a i<strong>de</strong>ologia assume a função <strong>de</strong> “redoublementdu réel”, a utopia tem a função <strong>de</strong> excentrici<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação ao presente, <strong>de</strong> produção. Karl Manheim(1979), tal como Ernest Bloch, enten<strong>de</strong> que os elementos que i<strong>de</strong>ntificam e caracterizam a utopia são <strong>de</strong>natureza funcional: ”the function of bursting the bonds of the existing or<strong>de</strong>r” (i<strong>de</strong>m:173). Assim, se se<strong>de</strong>signar como topia uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> e concreta or<strong>de</strong>m social, as aspirações e os <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> alteraressa mesma or<strong>de</strong>m po<strong>de</strong>m receber a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> utopia (i<strong>de</strong>m: ibi<strong>de</strong>m). Manheim, Karl, I<strong>de</strong>ology andutopy, London, Routledge & Kegan Paul, 1979.<strong>Na</strong> Grécia antiga e na China, por exemplo, para alcançar a utopia “ten<strong>de</strong>u a pôr-se uma tónica muitomais forte nas possíveis formas concretas <strong>de</strong> fazer a ponte entre a or<strong>de</strong>m i<strong>de</strong>al e a or<strong>de</strong>m social mun<strong>da</strong>na,1192007 E-BOOK CEAUP
- Page 3:
Na(rra)ção satíricae humorístic
- Page 7 and 8:
ÍNDICEIntrodução 1701. ParteOs
- Page 9:
“Leituras! Leituras!Como quem diz
- Page 13 and 14:
Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 15:
Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 18 and 19:
Marta de Oliveira18contextualizaç
- Page 20 and 21:
Marta de Oliveira“Burguesismos”
- Page 23:
Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 26 and 27:
Marta de Oliveiraproporcionada aqua
- Page 28 and 29:
Marta de Oliveira28UNITA) e o zaire
- Page 30 and 31:
Marta de Oliveira30Os problemas dei
- Page 32 and 33:
Marta de Oliveirasemelhantes às qu
- Page 34 and 35:
Marta de OliveiraFICÇÃO NARRATIVA
- Page 36 and 37:
Marta de OliveiraNegritude em Fran
- Page 38 and 39:
Marta de Oliveirabundo (49) , perso
- Page 40 and 41:
Marta de Oliveiralista (60) , por o
- Page 42 and 43:
Marta de Oliveira42o riso, já que
- Page 44 and 45:
Marta de Oliveiraou a sorrirmos com
- Page 46 and 47:
Marta de OliveiraAlvim (90) , perso
- Page 48 and 49:
Marta de OliveiraDa Palma da Mão (
- Page 50 and 51:
Marta de Oliveiradores e suas falas
- Page 52 and 53:
Marta de OliveiraA ESCOLA DO REAL
- Page 54 and 55:
Marta de Oliveira- Quem me dera ser
- Page 56 and 57:
Marta de OliveiraSe o disse, melhor
- Page 58 and 59:
Marta de Oliveira58lores veiculados
- Page 60 and 61:
Marta de Oliveira60O crítico socia
- Page 63:
Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 66 and 67:
Marta de Oliveira66procura equacion
- Page 68 and 69: Marta de Oliveirada. Verificamos, d
- Page 70 and 71: Marta de Oliveira70ou burguesismo,
- Page 72 and 73: Marta de Oliveira“Merdas de peque
- Page 74 and 75: Marta de Oliveirasiderando a profes
- Page 77 and 78: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 79 and 80: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 81 and 82: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 83 and 84: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 85 and 86: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 87 and 88: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 89 and 90: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 91 and 92: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 93 and 94: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 95 and 96: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 97 and 98: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 99 and 100: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 101 and 102: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 103 and 104: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 105 and 106: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 107 and 108: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 109 and 110: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 111 and 112: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 113 and 114: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 115 and 116: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 117: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 121 and 122: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 123 and 124: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 125 and 126: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 127 and 128: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 129 and 130: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 131 and 132: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 133: Na(rra)ção satírica e humorísti
- Page 136 and 137: Marta de Oliveira136É iniludível,
- Page 138 and 139: Marta de OliveiraA sigla, que de ce
- Page 140 and 141: Marta de Oliveirasão literária do
- Page 142 and 143: Marta de OliveiraDA PÁGINA AO PALC
- Page 144 and 145: Marta de Oliveira144e como tal “a
- Page 146 and 147: Marta de OliveiraCom efeito, como b
- Page 148 and 149: Marta de Oliveirapressa, mas sem co
- Page 150 and 151: Marta de OliveiraCONCLUSÃO“Where
- Page 152 and 153: Marta de Oliveira152contínuo e con
- Page 154 and 155: Marta de OliveiraHomem do seu tempo
- Page 156 and 157: Marta de OliveiraII. Bibliografia p
- Page 158 and 159: Marta de OliveiraFERNANDES, J. A. S
- Page 160 and 161: Marta de OliveiraMATA, Inocência,
- Page 162 and 163: Marta de Oliveiraportuguesa nos tr
- Page 164 and 165: Marta de OliveiraENTREVISTA A MANUE
- Page 166 and 167: Marta de OliveiraPor vezes, quando
- Page 168 and 169:
Marta de Oliveiraa viúva. Ele pode