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Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

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<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruiaos dólares” (120) , aspectos ambientais (121) , entre outros (122) .O leitor visualiza todo um conjunto <strong>de</strong> relações entre as árvores (“oseucaliptos pareciam fantasmas bons” (O manequim e o piano, p. 50));os animais (“<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que terminou a gue<strong>rra</strong> os animais estavam a voltaraos seus lugares” (i<strong>de</strong>m:55)); as flores e os frutos (numa sinestesia <strong>de</strong>cor e cheiro surgem os morangos (i<strong>de</strong>m:119), os malmequeres e buganvílias(i<strong>de</strong>m: 48), as acácias (i<strong>de</strong>m:53), as violetas (i<strong>de</strong>m: 140 e 379),a gipsófila (i<strong>de</strong>m:143), as rosas (i<strong>de</strong>m:379)); o tempo, nomea<strong>da</strong>mentea chuva (123) e as diferentes personagens, numa espécie <strong>de</strong> peça <strong>de</strong> teatro(124) representa<strong>da</strong> no palco on<strong>de</strong> aparentemente tudo está ligado porum fio invisível que começa no manequim e termina na casa (125) .Concluindo, Manuel Rui recorre ao humor e à ironia como métodos<strong>de</strong> análise, enquanto perspectiva crítica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, relevando <strong>da</strong>complementari<strong>da</strong><strong>de</strong> traduzi<strong>da</strong> pela alternância e pela reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> doalvo <strong>da</strong> crítica.120A ironia está patente nos diálogos estabelecidos entre Alfredo e Van<strong>de</strong>r: “os camara<strong>da</strong>s que eramtodos comunistas e agora só pensam nos dólares eram virgens que agora são putas!”/ “<strong>Na</strong><strong>da</strong>. Deixa-mesó tomar nota. Parece-me que já eram putas que agora se querem passar por virgens. Entraram pela impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>,pá!/ Não entendo!/ Caramba! <strong>Uma</strong> virgem po<strong>de</strong> vir a ser puta mas uma puta não po<strong>de</strong> vira ser virgem” (i<strong>de</strong>m:96).121Van<strong>de</strong>r confessa, na construção do condomínio e consequente <strong>de</strong>struição do habitat envolvente,“dói-me por <strong>de</strong>ntro ver a<strong>rra</strong>sar to<strong>da</strong>s essas árvores e plantas on<strong>de</strong> até há bocado já me passou um medicamentotradicional para a dor <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes e é assim que vamos ficar civilizados, é assim, tudo careca e vivaa tecnologia” (i<strong>de</strong>m: 297).122Apercebemo-nos, por exemplo, do processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> uma casa <strong>de</strong>sabita<strong>da</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os papéis<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação até à “minuta do requerimento para confisco on<strong>de</strong> se diz que a casa está ocupa<strong>da</strong><strong>de</strong> forma pacífica e pública por ter sido abandona<strong>da</strong> há mais <strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong>sconhecendo-se os antigosproprietários que abandonaram o país. Depois vão fazer uma avaliação mas isso a avó controla. A seguirven<strong>de</strong>m ao ocupante <strong>de</strong> quitação. A seguir é tudo com o tio Lázaro. O pagamento <strong>da</strong> sisa e <strong>de</strong>pois fazer aescritura e registo predial” (i<strong>de</strong>m:380).123Sobre este assunto ver o capítulo do nosso trabalho: “Crónica <strong>de</strong> Um Mujimbo”, pp. 86-87.124Em que as anotações <strong>de</strong> Van<strong>de</strong>r parecem exercer a função <strong>de</strong> Coro.125“Existia qualquer nexo visível e lógico mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que haviam chegado ali, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia elogo-logo o manequim <strong>de</strong>spido, a loja do Matias, o bar restaurante “Ficacá”, os cupapatas para angariarempretas e até os nomes <strong>da</strong>s pessoas, a televisão e as <strong>de</strong>clarações <strong>da</strong> velha Kalufele, o doutor dos registosou o padre Ta<strong>de</strong>u, os dois nomes <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> pessoa, os telefones celulares e os rádios <strong>de</strong> comunicação, configuravam-secomo uma equação <strong>de</strong> um qualquer matemático que Van<strong>de</strong>r resistia a não aceitar fora <strong>da</strong> suateimosia lógica sempre no pressuposto <strong>de</strong> “que enquanto um gajo não <strong>de</strong>scobre é um mistério e assim que<strong>de</strong>scobre passa a ser um <strong>da</strong>do científico explicável como os trovões, po<strong>rra</strong>!”” (i<strong>de</strong>m: 312-313).512007 E-BOOK CEAUP

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