19.08.2015 Views

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Marta <strong>de</strong> Oliveira– Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>, Crónica <strong>de</strong> Um Mujimbo e 1 Morto & Os Vivos(“De Um Comba”).As situações <strong>de</strong>scritas pelo autor dão voz e forma à <strong>de</strong>núncia social eà crítica do real (131) . O realismo é então o registo <strong>de</strong> análise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,no seu quotidiano. A <strong>obra</strong> literária torna-se veículo <strong>de</strong> crítica às instituições,à burguesia e a <strong>de</strong>terminados comportamentos.O discurso, no que <strong>de</strong>nota e no que pressupõe, dá conta <strong>da</strong> históriasocial e política que mol<strong>da</strong> os caracteres geográficos e económicos econstrói grupos <strong>de</strong> personagens em função <strong>de</strong> predicados comuns querepresentam <strong>de</strong>terminados sistemas <strong>de</strong> valores.Não nos é difícil, através <strong>da</strong> análise <strong>da</strong> sua <strong>obra</strong>, reconstruir umavisão <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana. Manuel Rui <strong>de</strong>sven<strong>da</strong> to<strong>da</strong>s as mazelas que<strong>de</strong>formam a burguesia e critica-as.Convém ter presente que o escritor se serve do humor, <strong>da</strong> sátira e <strong>da</strong>ironia para <strong>de</strong>screver e causticar o real (132) .Para Pires Laranjeira (1994a: 223) a interpretação <strong>da</strong>quilo que enten<strong>de</strong>mospor real é mutável se aten<strong>de</strong>rmos à situação geográfica <strong>de</strong> umqualquer escritor: “a representação do real implica uma sua percepção,que, para os africanos, povos <strong>de</strong> um continente específico, po<strong>de</strong>rá significarum modo especial <strong>de</strong> sentir e perceber o mundo” (133) .<strong>Na</strong>turalmente que há aspectos que o escritor africano nos retrataque são comuns às diversas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, contudo, a singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>-54131Roland Barthes (1953[1964]:24) <strong>de</strong>staca essa interligação arte-real: “a escrita é uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong>ambígua: por um lado, nasce incontestavelmente <strong>de</strong> um confronto entre o escritor e a sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,por outro lado, por uma espécie <strong>de</strong> transferência mágica, remete o escritor, <strong>de</strong>ssa finali<strong>da</strong><strong>de</strong> social paraas fontes instrumentais <strong>da</strong> sua criação”. Barthes, Roland, O grau zero <strong>da</strong> escrita, Paris, Éditions du Seuil,1953[1964].<strong>Na</strong>turalmente que tal como documenta Ricoeur (1991:55): “a vi<strong>da</strong> humana é simbolicamente mediatiza<strong>da</strong>,qualquer conceito <strong>de</strong> real é interpretativo”. Ricoeur, Paul, I<strong>de</strong>ologia e utopia, Lisboa, Edições70, 1991.132O romance social torna-se meio <strong>de</strong> crítica a instituições, à hipocrisia burguesa (avareza, inveja,usura), à vi<strong>da</strong> urbana (tensões sociais, económicas, políticas), à religião e à socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, interessando-sepela sua análise, pela representação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> circun<strong>da</strong>nte, do sofrimento, <strong>da</strong> corrupção e do vício.Goldmann refere a importância do real na construção <strong>da</strong> catarse: “la création culturelle compense ainsi lemélange et les compromis que la réalité impose aux sujets et facilite leur insertion <strong>da</strong>ns le mon<strong>de</strong> réel, cequi est peut-être la fon<strong>de</strong>ment psychologique <strong>de</strong> la catharsis”. Goldmann, Lucien, Pour une sociologie duroman, Éditions Gallimard, 1964, p. 364.133Laranjeira, Pires, A negritu<strong>de</strong> africana <strong>de</strong> língua portuguesa, Coimbra, Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras,1994a.E-book CEAUP 2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!