Marta <strong>de</strong> OliveiraENTREVISTA A MANUEL RUIQue factos culturais pensa terem sido marcantes na sua vi<strong>da</strong> econsequentemente na sua escrita?MR: Factos culturais... eu penso que todos. As pessoas com quem convivi,a formação <strong>de</strong> meus pais, a situação <strong>de</strong> ter nascido em tempo colonial,numa colónia. E, no fim <strong>da</strong> adolescência, a percepção <strong>de</strong> que as coisas nãoestavam bem. Nem quanto ao que se fazia, nem quanto ao que se escrevia.Visto que a escrita não se podia assumir como uma cópia fiel <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,pois isso para mim não é escrever, mas antes intrometer-se como elementoque po<strong>de</strong> sugerir, picar ou transferir uma situação para outra que seria a<strong>de</strong>sejável, ou pelo menos <strong>de</strong>ixar os conflitos abertos.164Neste contexto, que influência teve Coimbra na sua literatura?MR: Coimbra é uma óptima influência como segun<strong>da</strong> pátria.Em primeiro lugar a vi<strong>da</strong> académica, apanhei os gran<strong>de</strong>s movimentos:as greves, a luta contra o fascismo. Num tempo em que os estu<strong>da</strong>ntes tinhami<strong>de</strong>ologia. Portanto, lutávamos contra o fascismo e contra o colonialismo.Não lutávamos para pagar menos propinas, nem para termos mais férias,ou ain<strong>da</strong> para em vez <strong>de</strong> passar com <strong>de</strong>z, passar com nove... Porque, tambémera essa a luta <strong>da</strong> própria classe operária: era a luta com i<strong>de</strong>ologia.Obviamente que para além disso, tive a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar numarevista, “Vértice”, que era uma revista <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong>, e que faz parte <strong>da</strong> históriacultural <strong>de</strong>ste país, nomea<strong>da</strong>mente, no que concerne ao neo-realismo.Tudo isso contribuiu para a minha formação... Colaborei em jornais...Após o 25 <strong>de</strong> Abril, podia ter ido para Angola, mas <strong>de</strong>morei algumtempo, porque eu estava cá com residência fixa.An<strong>de</strong>i nessas “briga<strong>da</strong>s” culturais, a dizer poesia em al<strong>de</strong>ias. Poemascomo o “<strong>Na</strong>moro” <strong>de</strong> Viriato <strong>da</strong> Cruz: “Man<strong>de</strong>i-lhe uma carta em papel perfumado/e com letra bonita eu disse ela tinha/ um sorrir luminoso tão quente egaiato/ como o sol <strong>de</strong> Novembro brincando...”. Era uma coisa esplendorosa.A ligação constante com a cultura brasileira constituiu um papel importante.Estou a lembrar-me, por exemplo, que quando Jorge Amado veioa Portugal, conseguimos que ele viesse a Coimbra, ele e a Zélia, a esposa,E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruique era gran<strong>de</strong> fotógrafa naquela altura, <strong>de</strong>pois também escreveu bastante.Fomos a uma república <strong>de</strong> pessoal <strong>da</strong>s colónias. E eu e um amigo meu,Orlando Rodrigues, escrevemos “à pressão” uma biografia manuscrita <strong>de</strong>José Luandino Vieira, para Jorge Amado levar para o Brasil. O objectivoera continuarmos a lutar, com a intenção <strong>de</strong> o tirar <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia. Por outrolado, mesmo que não conseguíssemos esse propósito, pelo menos permitiase,<strong>de</strong>sta forma, uma vez que a censura vigorava em Portugal, que a <strong>obra</strong><strong>de</strong> Luandino continuasse a ser publica<strong>da</strong>. Claro que Luandino só saiu <strong>da</strong>ca<strong>de</strong>ia um pouco antes do 25 <strong>de</strong> Abril...Que escritor(es) <strong>de</strong>stacaria como aquele(s) que mais oinfluenciaram?MR: Deixa lá ver... Eu acho que não tenho influências, por assim dizer!Mas, talvez, Jorge Amado e Luandino Vieira, naturalmente na construçãodo texto e <strong>da</strong> história...O riso, a caricatura, a ironia, o humor e até o grotesco estãoao serviço <strong>da</strong> crítica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Consi<strong>de</strong>ra-os a catarse <strong>da</strong> suana<strong>rra</strong>tiva?MR: Não. Olha, primeiro o problema <strong>da</strong> sátira. O Manuel Ferreira escreveusobre isso. Dizendo que, logo no primeiro livro, Regresso Adiado éuma escrita chaplinesca. Desta forma, quando as pessoas estão a rir, têm quechorar. Portanto não é tanto assim. Ele teve oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> verificar issomesmo quando se pôs Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong> em palco, em teatro. Há pessoasque saiam <strong>de</strong>sagra<strong>da</strong><strong>da</strong>s com aquilo. Com a personagem ser porco e tal...De facto, essa personagem provoca-nos momentos hilariantes.Será legítimo estabelecer uma analogia entre as suas atitu<strong>de</strong>s e algumasatitu<strong>de</strong>s burguesas?MR: <strong>Na</strong>turalmente que sim, mas não só. Po<strong>de</strong>mos estabelecer a analogiacom uma burguesia emergente, uma burguesia pós in<strong>de</strong>pendência.Num espaço, num tempo (Fevereiro), nas canções contra África do Sule contra o po<strong>de</strong>r, tudo isso leva ao Carnaval – o Carnaval <strong>da</strong> Vitória! Contudo,no final, o próprio Carnaval <strong>da</strong> Vitória acaba morto... As analogiassão evi<strong>de</strong>ntes.1652007 E-BOOK CEAUP
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