Marta <strong>de</strong> Oliveirasi<strong>de</strong>rando a professora um perigo (“um caso <strong>de</strong> alienação do grupo oupsiquiátrico”) (185) . O episódio <strong>da</strong> apreciação <strong>da</strong> re<strong>da</strong>cção pelo centro <strong>de</strong>investigação pe<strong>da</strong>gógica (186) permite-nos analisar o papel <strong>de</strong>sempenhadopela i<strong>de</strong>ologia no julgamento <strong>de</strong> certas atitu<strong>de</strong>s do quotidiano vividoapós a in<strong>de</strong>pendência.O contexto em que ocorreu a avaliação <strong>da</strong>s composições acaba porreproduzir o “código prepotente” usado pelo colono que se via livre dos“subversivos e in<strong>de</strong>sejáveis” (187) , enviando-os para o interior:“Devíamos era fazer a proposta <strong>de</strong> ir para o Cuando-Cubango antes queela se encoste a algum parente. Vocês é que ain<strong>da</strong> não repararam. É <strong>de</strong> família.É vê-dê (188) . Por isso é que se dá a estas arrogantes surrealistices”.(p. 47)O na<strong>rra</strong>dor parece querer chamar a atenção para a importância <strong>de</strong>um ensino livre, mo<strong>de</strong>rno e motivador para o aluno. Não será tambémele condição indispensável à renovação social?A resposta afigura-se como positiva. O <strong>de</strong>stino natural <strong>da</strong> criançapara a educação parece-nos ser temática relevante na <strong>obra</strong> do autor (189) .No final <strong>de</strong> Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong> somos presenteados com umbanquete, on<strong>de</strong> as febras do porco são saborea<strong>da</strong>s por gran<strong>de</strong> parte dos74na transmissão do conteúdo programático, seja qual for o seu nível <strong>de</strong> preparação técnico-profissional ouacadémico”. Op. cit. Ferreira, Manuel Ennes, A indústria em tempo <strong>de</strong> gue<strong>rra</strong> (Angola, 1975-91), Lisboa,Edições Cosmos, Instituto <strong>da</strong> Defesa <strong>Na</strong>cional, 1999, p. 148.185A professora, porque <strong>de</strong>sprovi<strong>da</strong> <strong>da</strong> prática do autoritarismo, vai ser reprova<strong>da</strong>, na sua conduta,por enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s superiores, isto porque a composição eleita na turma <strong>de</strong> Ruca falava <strong>de</strong> um porco, quando<strong>de</strong>veria exaltar “temas sobre a vi<strong>da</strong> do povo, valores nacionais, <strong>da</strong>tas históricas, etc...” (p. 46).186Inspecção escolar.187Sousa, Isménia, “Ironia e i<strong>de</strong>ologia nas <strong>obra</strong>s <strong>de</strong> Manuel Rui e Henri Lopes”, in Lissa, L. Margari<strong>da</strong>[et alli], Literatura Compara<strong>da</strong>: os novos paradigmas, Porto, Associação Portuguesa <strong>de</strong> LiteraturaCompara<strong>da</strong>, 1996.188Referente a Van-Dúnem. Nome <strong>de</strong> família influente nos diversos sectores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana.189Contrariamente aos miúdos <strong>de</strong> Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>, várias são as crianças, <strong>de</strong>scritas pela pena<strong>de</strong>ste escritor angolano, que não têm a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> frequentar a escola, consi<strong>de</strong>re-se os exemplos<strong>de</strong>scritos em Da palma <strong>da</strong> mão: num esgoto a céu aberto flutua um “ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> capas analfabetas” aoléu, revira<strong>da</strong>s, com os versos do “Hino <strong>Na</strong>cional”. A capa e o livro simbolizam o estado “iletrado” <strong>de</strong> umasocie<strong>da</strong><strong>de</strong> também ela, na sua maioria, analfabeta (“O ca<strong>de</strong>rno”, p. 13); A condição infantil <strong>da</strong>s crianças<strong>de</strong> Luan<strong>da</strong> é <strong>de</strong> certa forma uma estranha situação escolar, visível em Tico que segura “na lata <strong>de</strong> sentarna escola e no serviço <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r três anos com ela” (“A lata e o Merce<strong>de</strong>s”, p. 46).O que o <strong>de</strong>staque concebido à infância nos faz perceber é a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> educar e formar umanação.E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruimoradores do prédio, entre os quais se encontram “todos os membros <strong>da</strong>comissão <strong>de</strong> moradores” (190) .O fim do romance não <strong>de</strong>ixa um ence<strong>rra</strong>mento <strong>de</strong>finitivo, assumindo-secomo romance aberto (Aguiar e Silva: 1997) (191) . O título retirado<strong>da</strong> metáfora do final <strong>da</strong> <strong>obra</strong> abriria as portas para a linha ficcional.Não nos po<strong>de</strong>mos esquecer que a on<strong>da</strong> assume-se como sinédoquedo mar, esse espaço <strong>de</strong> origem, quer enquanto enraizamento do “eu”,quer enquanto se<strong>de</strong> do “coração do mundo”, o mar é o enigma e angústiainerente à condição do homem. No entanto, na <strong>obra</strong> ele reflecte um espaço<strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>spreocupação.O predicado <strong>de</strong> base do <strong>de</strong>sejo “Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>” <strong>de</strong>man<strong>da</strong>a partir do eixo semântico as várias combinações que implicam personagense acções.Neste sentido, a expressão “Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>” funciona comocúpula i<strong>de</strong>ológica do romance. Parece-nos que as questões que se colocamsão <strong>de</strong> diversa índole: será a aquisição <strong>de</strong> hábitos, aparentementeestranhos, por aqueles que vêm do campo para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> solução paraa sua “politização”? Será a morte o <strong>de</strong>stino <strong>da</strong>queles que não se encontramno seu “habitat natural”? E, finalmente, que tipo <strong>de</strong> morte: a social,a moral ou a espiritual?75190Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser caricato que, apesar <strong>de</strong> con<strong>de</strong>narem a criação do porco no apartamento <strong>de</strong>Diogo, todos acabem por ace<strong>de</strong>r ao seu “petisco”. Hilário (2006:128) conclui que <strong>Na</strong>zário e Faustino“aproveitaram o tempo <strong>da</strong> máscara [Carnaval], o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sta, o tempo do metamorfósico do feitiço e doamuleto, que era conferido aos espíritos <strong>da</strong> magia dos antepassados, para eufemizar o “<strong>de</strong>lito””.191“O termo do romance aberto contrasta profun<strong>da</strong>mente com o termo <strong>de</strong> romance fechado: no caso<strong>de</strong>ste, o leitor fica a conhecer a sorte final <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as personagens e as <strong>de</strong><strong>rra</strong><strong>de</strong>iras consequências <strong>da</strong> diegeseromanesca; no caso do romance aberto, o autor não eluci<strong>da</strong> os seus leitores acerca do <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>finitivo<strong>da</strong>s personagens ou acerca do epílogo <strong>da</strong> diegese”. Aguiar e Silva, Vitor Manuel, 1997, op. cit. p. 728.2007 E-BOOK CEAUP
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