Marta <strong>de</strong> Oliveira28UNITA) e o zairense (apoiante <strong>da</strong> FNLA), que alvejavam o país ao ladodos respectivos movimentos <strong>de</strong> libertação.O sistema <strong>de</strong> Partido Único caracterizaria a Angola pós-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte(19) . A instauração <strong>de</strong>ste mesmo sistema, “bebendo” <strong>da</strong> fonte marxistaleninista, vigorava num país que se via envolto em tensões internas enuma gue<strong>rra</strong> que parecia interminável.Paulo <strong>de</strong> Carvalho (2002) <strong>de</strong>staca os dois períodos marcantes, após ain<strong>de</strong>pendência do país, ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>les com sistemas político-económicosdistintos: aquele que vigora <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1975 a Setembro <strong>de</strong> 1992 (IRepública) e o que se estabelece a partir <strong>de</strong>ssa <strong>da</strong>ta (II República), comum sistema multipartidário e ténues mu<strong>da</strong>nças no sistema económicocom vista à sua liberalização.Neste sentido, convém <strong>de</strong>stacar a importância <strong>da</strong> que<strong>da</strong> do muro <strong>de</strong>Berlim, em Novembro <strong>de</strong> 1989, anunciando o final <strong>da</strong> Gue<strong>rra</strong> Fria. EmAngola, iniciavam-se, <strong>de</strong>sta forma, as conversações, que culminariam a31 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1991 com a assinatura dos Acordos <strong>de</strong> Bicesse, <strong>de</strong>finindoprincípios para o cessar-fogo e a realização <strong>de</strong> eleições livres.Concomitantemente, em Setembro <strong>de</strong> 1992 realizar-se-iam as primeiraseleições legislativas e presi<strong>de</strong>nciais em Angola. As portas paraa <strong>de</strong>mocracia abriam-se neste momento. To<strong>da</strong>via, a nova adopção <strong>da</strong>constituição multipartidária (20) e <strong>de</strong> eleições livres fracassaria. A UNITA,per<strong>de</strong>ndo a eleição nas urnas, não aceitou o voto dos angolanos, retomandoa gue<strong>rra</strong>.Entra-se assim na segun<strong>da</strong> etapa do conflito angolano, que se caracterizapela oposição <strong>de</strong> um partido, por via <strong>da</strong>s armas (a UNITA), aogoverno eleito <strong>de</strong> Angola (MPLA/PT).O país suportaria (?) ciclos <strong>de</strong> gue<strong>rra</strong>s e <strong>de</strong> colapsos sucessivos <strong>de</strong>tentativas <strong>de</strong> reconciliação.Refira-se que apesar do conflito não ser mais “internacional”, talfacto não significa que tenha <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> haver interesses no mesmo. Tal19A 10 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1975 o Comité Central do Movimento Popular <strong>de</strong> Angola aprovara a LeiConstitucional <strong>da</strong> República Popular <strong>de</strong> Angola (artº. 1: RPA é um estado soberano, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong>mocrático;artº. 2: Ao MPLA seu legítimo representante cabe a direcção política, económica e social <strong>da</strong><strong>Na</strong>ção; art.º 3: A RPA é um Estado unitário e indivisível ...).20O parlamento angolano havia aprovado uma nova Constituição, que consagrava Angola como umsistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia multipartidária.E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruicomo Carvalho (2002:35) aponta: “mantêm-se interesses estrangeirosno prolongar do conflito, nomea<strong>da</strong>mente interesses económicos (petróleo,diamantes, para além <strong>de</strong> armamento e material logístico) e políticos(as eleições angolanas foram ganhas pelo partido que anteriormenteperfilhava a i<strong>de</strong>ologia marxista)”.As consequências do conflito foram ate<strong>rra</strong>doras, só <strong>de</strong> 1992 a 1994as estatísticas contam: “mais <strong>de</strong> 300 mil mortos, pessoas <strong>de</strong>sloca<strong>da</strong>s<strong>da</strong>s suas zonas tradicionais <strong>de</strong> produção, 300 mil refugiados em paísesvizinhos, cerca <strong>de</strong> 200 mil mutilados <strong>de</strong> gue<strong>rra</strong>, milhares <strong>de</strong> famílias<strong>de</strong>sagrega<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> cinco capitais <strong>de</strong> província, <strong>de</strong> inúmerasinfra-estruturas tais como pontes, estra<strong>da</strong>s, fábricas, hospitais, escolas,etc.” (Baptista: 1996:10) (21) .Diversos foram os acordos que se estabeleceram entre a UNITA e oMPLA, nomea<strong>da</strong>mente em 1994, quando, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> prolonga<strong>da</strong>s negociações,tendo como mediador a ONU, as duas partes (UNITA e MPLA)chegam a acordo em Lusaca (22) , Zâmbia, admitindo uma partilha <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r político, assim como um futuro Governo <strong>de</strong> União e Reconciliação<strong>Na</strong>cional (GURN). A esperança <strong>de</strong> paz e construção nacional reencontrava-senos olhares dos angolanos.To<strong>da</strong>via, em 1998 o diálogo seria interrompido e a gue<strong>rra</strong> voltaria aeclodir.Pepetela (1995:141) (23) fala-nos <strong>de</strong> um amanhã que teima em nãochegar: “ontem era a noite escura do colonialismo, hoje é o sofrimento<strong>da</strong> gue<strong>rra</strong>, mas amanhã será o paraíso. Um amanhã que nunca vem, umhoje eterno. Tão eterno que o povo esquece o passado e diz ontem eramelhor que hoje”.Opressões, pressões, gue<strong>rra</strong> civil, <strong>de</strong>sintegração social e física, sofrimento,<strong>de</strong>slocações <strong>da</strong> população, <strong>da</strong>nificação <strong>de</strong> infra-estruturas eproprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s pintavam o cenário do país.2921AA. VV., Les perspectives <strong>de</strong> reconstruction <strong>de</strong> l´economie <strong>de</strong> l´Angola, Colloque <strong>de</strong> Paris : 6 et 7 <strong>de</strong>Juin 1996, Paris, Éditions du Centre Culturel Angolais, 1996, p. 10.22“O texto acor<strong>da</strong>do em Lusaca seguia, na sua concepção global, os <strong>de</strong> Alvor e Bicesse, isto é, tratava-se,no fundo, <strong>da</strong> formalização <strong>de</strong> um cessar-fogo, como condição <strong>de</strong> uma plataforma política <strong>de</strong> reconciliaçãonacional entre os anteriores beligerantes”. Correia, Pedro <strong>de</strong> Pezarat, Angola: do Alvor a Lusaka,Lisboa, Hugin Editores L<strong>da</strong>, 1996, p. 150.23Pepetela, Geração <strong>da</strong> Utopia, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1995.2007 E-BOOK CEAUP
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