Na(rra)ção satÃrica e humorÃstica: Uma leitura da obra narrativa de ...
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<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruisignificado do discurso oficial quando utilizado pelo povo e não só, o quenos parece assim um formulado inédito no sistema literário angolano atéà altura” (i<strong>de</strong>m).De facto, há um contraste entre um nível “oficial” e outro directamenteligado ao quotidiano, do qual o primeiro aparece <strong>de</strong>senquadrado.A i<strong>de</strong>ologia é <strong>de</strong>sta forma questiona<strong>da</strong> pela linguagem marca<strong>da</strong>menterevolucionária, mas incongruente e até contra-revolucionária. Repare-sena intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> esvaziar os “ismos” i<strong>de</strong>ológicos com expressõescomo “peixefritismo”. Também as crianças se apropriam <strong>de</strong>sta linguagem,dominando-a melhor que os adultos, contribuindo, <strong>de</strong>sta forma,para a sua <strong>de</strong>smistificação. Note-se até o pormenor dos “sábados vermelhos”,resquício do voluntarismo marxista <strong>de</strong> feição cubana, assim comoa composição <strong>de</strong> Ruca: o miúdo chama o pai <strong>de</strong> reaccionário e o porco <strong>de</strong>revolucionário (pp. 35-36).Segundo Manuel Rui (180) , a novela está relaciona<strong>da</strong> com <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>sconcepções, que leva as pessoas a burocratizarem tudo sem saberporque estão a fazê-lo. As personagens são marxistas sem saber o que talsignifica. Neste sentido, os termos são utilizados sem adquirirem o seuvalor semântico. Diogo, por exemplo, assume-se como revolucionáriosem enten<strong>de</strong>r o significado real <strong>da</strong> palavra.Convém ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>termos a nossa atenção na figura <strong>da</strong> professora,pela antítese resultante do seu i<strong>de</strong>alismo (181) em contraposição à escolarepressora, impositiva e i<strong>de</strong>ológica (182) .A professora é uma pessoa neutra, mas cúmplice dos alunos (“<strong>de</strong>ixafazer re<strong>da</strong>cções que a gente quer e até trouxe na escola o primo <strong>de</strong>la Filipeque veio tocar viola <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala” (183) ). No exercício <strong>da</strong>s suas funções,atenta às motivações <strong>da</strong>s crianças, acabando por conciliar a escolacom a vi<strong>da</strong>.O sistema <strong>de</strong> ensino é, contrariamente à docente, que supostamenteseria o seu porta-voz (184) , fortemente burocratizado e fechado, con-73180Op. cit. Entrevista em anexo, p. 166.181Não batia nos alunos o que era pouco frequente na época.182Lembrando-nos a escola <strong>de</strong>scrita nos contos <strong>de</strong> Luandino Vieira, embora os agentes sejam diferentes.183p. 36.184Para o Secretário do Comité Central do MPLA/PT <strong>da</strong> esfera i<strong>de</strong>ológica, Roberto <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, “seeste elemento (o professor) não for fiel aos princípios e objectivos <strong>da</strong> Revolução, certamente não o será2007 E-BOOK CEAUP