Marta <strong>de</strong> OliveiraPor vezes, quando escrevemos um livro, as personagens po<strong>de</strong>m criarum caminho próprio. Actualmente, tenho um esquema <strong>da</strong>s personagens <strong>de</strong>Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>, mas fi-lo a posteriorI; contrariamente a Rioseco,on<strong>de</strong> fiz um esquema <strong>da</strong>s personagens, antes <strong>da</strong> escrita <strong>da</strong> própria <strong>obra</strong>. Poroutro lado, neste último, O Manequim e o Piano, o esquema que prepareiantes <strong>de</strong> na<strong>da</strong> serviu, pois aqueles dois “filhos <strong>da</strong>...” começaram a <strong>de</strong>sviar-sedo caminho que lhes tinha traçado...A sátira <strong>de</strong> costumes é notória, por exemplo, em Quem me <strong>de</strong>raser on<strong>da</strong>; há todo um conjunto <strong>de</strong> valores que é posto em causa. Foiesta uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana, ou continua a sê-lo?MR: Não é propriamente uma sátira <strong>de</strong> costumes. Porque esses não sãocostumes tipicamente angolanos. Não era um costume angolano criar umporco num apartamento. É uma previsão <strong>de</strong>smarca<strong>da</strong>, <strong>de</strong> uma articulaçãomuito rápi<strong>da</strong> do ponto <strong>de</strong> vista i<strong>de</strong>ológico que não tem na<strong>da</strong> a ver com oscostumes angolanos.Tem a ver com <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s concepções, que an<strong>da</strong>ram por aqui no 25<strong>de</strong> Abril, que leva as pessoas a burocratizarem tudo sem saber porque estãoa fazê-lo. As personagens são marxistas sem saber o que é o marxismo. Étodo um contexto...Há mu<strong>da</strong>nça, claro! <strong>Na</strong>quele tempo, por exemplo, havia falta <strong>de</strong> cerveja.Para beber uma cerveja, tinha-se apenas uma marca, e esta era servi<strong>da</strong>num copo que não era senão uma lata <strong>de</strong> compota, que por vezes, ain<strong>da</strong>tinha restos do doce...166Quando escreve em epígrafe “Perdoem-me os leitores pelo fimque escolhi... mas é que eu não sou <strong>de</strong> Mujimbos”, foi esta umaforma <strong>de</strong> reiterar/afirmar ironicamente a importância <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong>na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana?MR: Sim, exactamente. O mujimbo chega sempre à frente. Aliás o segredojá to<strong>da</strong> a gente o sabe antes <strong>de</strong>le ser revelado oficialmente.E não nos po<strong>de</strong> revelar qual era esse segredo?MR: Eu também não sei qual é! (risos)E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel RuiPor sua vez, Feijó e Diogo são personagens semelhantes em muitosaspectos. Contudo, Feijó será caricaturado com maior profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Parece-nos que aí a crítica foi mais sagaz...MR: Ambos representam a média burguesia já institucionaliza<strong>da</strong>, <strong>de</strong>pois<strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência. Feijó é o apogeu do MPLA. Ele reproduz aqueles queviam no MPLA uma espécie <strong>de</strong> religião.As pessoas, em Angola, passaram <strong>da</strong> religião católica para a “religiãodo MPLA”, actualmente, parece-me que estão a voltar à religião católica.Feijó é, portanto, um burocrata típico do sistema do po<strong>de</strong>r, a reiteraçãodo rigor e <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> formal.Po<strong>de</strong>r-se-á consi<strong>de</strong>rar Feijó um alienado ao mundo europeu?MR: Não só, mas também. Um alienado a tudo, não só ao mundoeuropeu, mas também àquilo que implica as viagens, o ser burguês, odinheiro...Quanto às crianças, elas são para si a realização <strong>da</strong> utopia? Ouseja, é a infância o tempo <strong>de</strong> justiça e igual<strong>da</strong><strong>de</strong>?MR: Claramente!Em 1 Morto & Os Vivos, mais propriamente em “De 1 Comba”,prossegue a sua crítica ao comportamento <strong>da</strong> pequena burguesiaurbana. Contudo, à semelhança <strong>de</strong> Memória <strong>de</strong> mar, introduz ofantástico. José Carlos Venâncio (1996:109) refere que a crítica émenos direcciona<strong>da</strong> e, por isso, mais profun<strong>da</strong> e dramática. Concor<strong>da</strong>com a afirmação?MR: Sim, claro! Aí é, <strong>de</strong> facto, a burguesia já instala<strong>da</strong> no po<strong>de</strong>r, comuma segun<strong>da</strong> mulher, um segundo carro...(Estão, agora, a fazer um historial sobre esta <strong>obra</strong>, inclusive a minhamulher trabalha na parte do figurino, é uma espécie <strong>de</strong> série...)Bem, mas aí já há a burguesia que está no po<strong>de</strong>r. O livro <strong>de</strong>monstracomo aquela “gaja” – Dona Vaca, se articula e se relaciona com as instânciasdo po<strong>de</strong>r.É o tipo <strong>de</strong> risco ao meio, que sabe ler e escrever e pinta as unhas, ouseja, um gajo que an<strong>da</strong> sempre bem vestido, e que está em vias <strong>de</strong> engatar1672007 E-BOOK CEAUP
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