Marta <strong>de</strong> Oliveira30Os problemas <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser problemas para serem normas: <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>,<strong>de</strong>pendência dos rendimentos do petróleo, que<strong>da</strong> do Produto<strong>Na</strong>cional Bruto (PNB), mercado paralelo, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> agricultura,transportes, comunicações, electrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e infra-estruturas diversas,aumento <strong>da</strong> concentração urbana, do fosso entre ricos e pobres, doanalfabetismo, dilapi<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s riquezas, eleva<strong>da</strong>s taxas <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong>,precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> no sistema educativo e <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, diminuição <strong>da</strong> produçãoalimentar, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> no acesso a água potável, pobreza, fome, <strong>de</strong>struiçãoambiental e <strong>de</strong>semprego.Um outro aspecto preocupante seria o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do sector primário.A <strong>de</strong>sarticulação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> rural, em consequência <strong>da</strong>s diferentesconvulsões que assolaram o país, administrou estas populações parauma situação <strong>de</strong> atraso e dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>.No que concerne às explorações dos recursos naturais, nomea<strong>da</strong>mentedo sector petrolífero, verificamos que, após a in<strong>de</strong>pendência, aárea mereceu uma maior consi<strong>de</strong>ração “para que constituísse o suporte<strong>da</strong> economia nacional”. <strong>Na</strong>s teses do 2º Congresso do MPLA, refere-seser “principal fonte <strong>de</strong> financiamento e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> economiado País, o qual <strong>de</strong>veria ser objecto <strong>de</strong> atenção e priori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>vido aopapel <strong>de</strong>cisivo que lhe cabe no contexto nacional” (24) .E assim foi, “o sector petrolífero contribui com 80% <strong>da</strong> receita do governonos anos 90” (Steinberg et Bowen:s/d) (25) . Empresas americanas,belgas, francesas, italianas e brasileiras assinaram contratos <strong>de</strong> extracçãoe produção com a empresa petrolífera estatal “Sonangol”, instalandouma “economia <strong>de</strong> enclave”, distinguindo-se esta no contexto económico(Schubert: 2000:176) (26) .Contudo, os rendimentos provenientes do petróleo não favorecerama economia como um todo. Angola não investiu na produção própria eapresentava uma balança <strong>de</strong> importações bastante “pesa<strong>da</strong>”, o governo24Op. cit. Caley, Cornélio, Os petróleos e a problemática do <strong>de</strong>senvolvimento em Angola: <strong>Uma</strong> visãohistórico-económica (1996) Lisboa, p. 38.25Steinberg, Douglas et Bowen, Nina, “A segurança alimentar e seus <strong>de</strong>safios em Angola pós-conflito”,in www.sarpn.org.za/documents/d0000222/steinberg-p/in<strong>de</strong>x.php. Acesso em Abril <strong>de</strong> 2004.26Em Crónica <strong>de</strong> Um Mujimbo, a <strong>da</strong><strong>da</strong> altura, Feijó, ridicularizado por uma cena <strong>de</strong> trânsito, afirma“O tipo <strong>de</strong>ve ser francês <strong>da</strong>s petrolíferas (...) <strong>Na</strong> te<strong>rra</strong> <strong>de</strong>le não faz isto. Levam-nos os dólares e humilham--nos utilizando as nossas miú<strong>da</strong>s” (p. 13).E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruialegava que a gue<strong>rra</strong> não permitia as condições necessárias para a produção.Desta forma, Angola fica quase <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s divisas resultantes<strong>de</strong>ste recurso.A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver, paralelamente, as outras áreas,como os serviços nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, transportes, habitação, alimentaçãoe outros, evitando “efeitos perversos” (Caley: 1996), não foipreconiza<strong>da</strong>.Segundo Valente (2000:233) (27) , a opção socialista conduziu o país“a um lento processo <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong> implementação <strong>da</strong>spolíticas, introduziu gran<strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z, complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e distorções nagestão económica”.Assim, a entra<strong>da</strong> no sistema <strong>da</strong> II República (28) <strong>da</strong>r-se-á em condiçõesbastante frágeis, com uma eleva<strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> externa: “para além <strong>da</strong> <strong>de</strong>pressão,<strong>de</strong> uma inflação prematura e <strong>de</strong> um excesso <strong>de</strong> procura, criou-seo costume <strong>de</strong> financiar o défice orçamental através <strong>de</strong> um instrumentoinflacionário – a emissão <strong>de</strong> moe<strong>da</strong>” (Carvalho: 2002:72).O valor <strong>da</strong>s importações exce<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ravelmente as exportaçõese, concomitantemente, ocorre um agravamento <strong>da</strong>s pressões inflacionáriase a diminuição do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra <strong>da</strong> moe<strong>da</strong>.Por sua vez, o aumento <strong>da</strong> população urbana, tema amplamentetratado pelos estudiosos (Rela: 1992; Rivero: 2001; Venâncio: 2000),atinge valores elevadíssimos: “em 1970, as áreas urbanas tinham 15%<strong>da</strong> população; nos anos 90 essa percentagem subiu a estimados 50%”(Steinberg et Bowen), sendo que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Luan<strong>da</strong> se assume como o<strong>de</strong>stino <strong>de</strong> eleição.Assim, sob a pressão do fluxo migratório gerado pela gue<strong>rra</strong> e pelasua própria dinâmica <strong>de</strong> crescimento populacional, num cenário assinaladopelo uso <strong>de</strong>ficiente e pela sobre-utilização do equipamento socialcitadino “e perante a ausência <strong>de</strong> uma política urbana orienta<strong>da</strong> paraa manutenção e crescimento <strong>da</strong>s infra-estruturas urbanas, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Luan<strong>da</strong> cresceu explosivamente, crescimento acelerado que transformoua capital angolana num centro urbano com características muito3127Valente, Maria I<strong>da</strong>lina <strong>de</strong> Oliveira, “Expectativas e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s: que futuro?” in Carvalho, Adélia [etalli] Angola a festa e o luto, 25 anos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência, Aliparça, Vega, 2000.28Passa-se <strong>de</strong> uma economia socialista para uma economia <strong>de</strong> mercado.2007 E-BOOK CEAUP
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