19.08.2015 Views

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruiafricano, a apontar neste sentido:“O kibhungu kyoso ki kiza ngó mbé kuzula o mayoso” (214) .(p. 142)Consi<strong>de</strong>re-se a simbologia <strong>da</strong> chuva, presente na parte inicial e final<strong>da</strong> <strong>obra</strong>. (215) , como elemento fertilizador e purificador, colocando a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>a “nu”. É o mujimbo/ segredo que é finalmente revelado.Provi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> enorme significado são ain<strong>da</strong> as palavras <strong>da</strong> “maisvelha”, Dona Bia, que em diálogo com os netos (216) , refere que os costumese as supertições mu<strong>da</strong>ram, o “cão que uiva” já na<strong>da</strong> significa:“Vó. A vó não disse o cão quando uiva dá azar, não é vó?”“Isso era antigamente, meu filho. Hoje está tudo mu<strong>da</strong>do. Apren<strong>da</strong>mcom o vosso tio.”“Mas a vó gostava tanto <strong>de</strong> chuva!” – observou Zefe.”(p. 159)O final não <strong>de</strong>ixa dúvi<strong>da</strong>s, pelas palavras <strong>da</strong> “mais velha” o mo<strong>de</strong>rnopareceria sobrepôr-se ao tradicional. A chuva que põe tudo a “nu”, nãotraz boas novas. O mujimbo fora revelado e passara a notícia. Aquilo queera superstição parece não ter mais valor. A “mais-velha” refere que ascrianças <strong>de</strong>vem “mu<strong>da</strong>r”, “apren<strong>de</strong>r com o tio”, Feijó personifica, <strong>de</strong>staforma, “o novo” (217) .constitui: veja-se a importância do mujimbo] o “repositório e o vector do capital <strong>de</strong> criações sócio-culturaisacumulados pelos povos sem escrita: um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro museu vivo cujos “guardiões são os velhos <strong>de</strong>cabelo branco, voz cansa<strong>da</strong> e memória um pouco obscura, rotulados às vezes <strong>de</strong> teimosos e meticulosos:ancestrais em potencial...”Ki-Zerbo, Joseph, História Geral <strong>de</strong> África, S. Paulo e Paris, 1982, p. 38.214“A tempesta<strong>de</strong> quando vem é sempre para pôr as coisas a nu”.215“A chuva diz I Ching é originária do princípio k´ien, o princípio activo celeste, <strong>de</strong> que to<strong>da</strong> amanifestação tira a sua existência (...). A chuva filha <strong>da</strong>s nuvens e <strong>da</strong> tempesta<strong>de</strong>, reúne os símbolos dofogo (relâmpago) e <strong>da</strong> água. Apresenta também o duplo significado <strong>de</strong> fertilização espiritual e material”.Chevalier et Gheerbrant, op. cit. pp. 192-193. O po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> chuva é inegável, a própria língua portuguesanos dá conta <strong>de</strong>sta importância <strong>da</strong> chuva, por exemplo, quando nos referimos a alguém que é responsávelpor algo, fazemos alusão ao “man<strong>da</strong>-chuva”.216Não nos parece que tenha sido ocasional que o na<strong>rra</strong>dor tenha optado por concluir a acção com aconjunção <strong>da</strong> inocente voz infantil associa<strong>da</strong> à sábia voz <strong>da</strong> “mais velha”.217Henrique Abranches consi<strong>de</strong>ra que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana “foi campo <strong>de</strong> luta <strong>de</strong> uma contradiçãosempre presente entre o velho e o novo”. Abranches, Henrique, Reflexões sobre Cultura <strong>Na</strong>cional, Lisboa,Edições 70, 1980, p. 11.872007 E-BOOK CEAUP

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!