Marta <strong>de</strong> Oliveirabundo (49) , personifica a recusa <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> colonização.A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e a infância (50) , Luuan<strong>da</strong>, Nós, os do Makulusu, João Vêncio e osseus amores são alguns dos exemplos <strong>da</strong> vasta <strong>obra</strong> <strong>de</strong>ste prosador.Costa Andra<strong>de</strong>, por exemplo, fará literatura <strong>da</strong>s injustiças sociais,privilegiando o tema do trabalho forçado, do contratado, basta atentarna <strong>obra</strong> Estórias <strong>de</strong> contratados.Muitos outros autores completam o quadro posterior <strong>da</strong> na<strong>rra</strong>tivaficcional angolana (51) , registamos apenas alguns dos afluentes <strong>de</strong>ste rio,que culmina numa “foz” <strong>de</strong> histórias. Pelos mares <strong>da</strong> literatura angolanaobservamos a História, as peripécias, as paródias, as expressões idiomáticas,o mundo rural e urbano, a família, a orali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a sátira, a originali<strong>da</strong><strong>de</strong>,as tradições e as caricaturas, estes aspectos logram níveis <strong>de</strong>elaboração estética dos diversos escritores angolanos.Esta excursão pela literatura angolana leva-nos a afirmar com Maimona(2000:39) (52) : “a literatura (angolana) faz-se sob o signo <strong>de</strong> inovaçãoque nos <strong>de</strong>ixa na memória a intenção <strong>de</strong> uma expressão individual,com significativos benefícios para o nosso panorama literário”.Numa fase inicial (53) , encontramos uma na<strong>rra</strong>tiva “engajé” (54) , excessivamenteliga<strong>da</strong> a temas literários marcados pela i<strong>de</strong>ologia política (55) .A recusa <strong>da</strong>s instituições e significações coloniais e pós-coloniais. A palavraé então acção.Contudo, a i<strong>de</strong>ologia libertária revelava-se pouco dinâmica. Atente-seem Mayombe, que, apesar <strong>de</strong> escrito em 1971, só seria publicadoem 1980. Seguem-se Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong> (1982), <strong>de</strong> Manuel Rui, Os3849Através do português dialectizado, funcionando como um código <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação.50“A infância é uma utopia simbolizando o tempo <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>, do anti-racismo, <strong>da</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>”.Venâncio, 1993 [1987], op. cit. p. 179.51“Um fresco po<strong>de</strong>roso, rico <strong>de</strong> cintilações imagéticas, aparece luxuriante, título após título, enformandoum plural sinérgico”. Mestre, David, Nem tudo é poesia, Estudos, 1989, p. 49.52Maimona, João, “Literatura angolana: situação actual e perspectivas”, in Vértice, Setembro-Outubro,Lisboa, Editorial Caminho, 2000.53Destaque-se o papel exercido pela União do Escritores Angolanos, cria<strong>da</strong> a 10 Dezembro <strong>de</strong> 1975:“é testemunho <strong>de</strong> gerações <strong>de</strong> escritores que souberam, na sua época, dinamizar o processo <strong>da</strong> nossalibertação exprimindo os anseios do nosso povo, particularmente o <strong>da</strong>s suas cama<strong>da</strong>s mais explora<strong>da</strong>s.A literatura angolana escrita surge assim não apenas como simples necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> estética, mas como umaarma <strong>de</strong> combate pela afirmação do homem angolano”. Nehone, Ro<strong>de</strong>rick, op. cit.54Segundo Manuel Rui tratou-se <strong>de</strong> uma fase <strong>de</strong> engajamento assumido, mas um “engaje” com crítica.Laban, Michel, op. cit. p. 721.55Visto que se lutava pela in<strong>de</strong>pendência do país e pela manutenção <strong>da</strong> paz.E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel RuiAnões e os Mendigos (1984), <strong>de</strong> Manuel dos Santos Lima, O Cão e os Caluan<strong>da</strong>s(1985) <strong>de</strong> Pepetela, entre outros.Desta forma, os anos <strong>de</strong> 1982 a 1990 são marcados pelo surgimento<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> <strong>obra</strong>s, cujo o género satírico/irónico assume uma importânciainegável (56) . As i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> reformas políticas e <strong>de</strong> revolução socialexigiam dos escritores uma literatura <strong>de</strong> acção, comprometi<strong>da</strong> com a críticae a reforma <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<strong>Na</strong> <strong>obra</strong> O cão e os Caluan<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Pepetela, o autor conduz o leitor poruma série <strong>de</strong> situações, numa perspectiva crítica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana.Através do olhar <strong>de</strong> um cão somos levados por uma vasta gama <strong>de</strong> comportamentossociais, profissionais, familiares e políticos. A pena críticaversa tanto o burocrata, como o carreirista político, o pseudo-intelectual,a prostituta, o operário alienado, etc.O uso <strong>da</strong> ironia (57) assume então uma função dinâmica entre a vozdo autor e os conselhos retóricos usados. Os retratos transformam-se emcaricatura (58) , seja na avaliação <strong>de</strong> situações, comportamentos e mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>s.O riso explanaria uma visão sociológica do quotidiano, ganhandouma função terapêutica humanista.Assim, se por um lado, a escrita africana mobilizava estratégiasque visavam a crítica dum projecto <strong>de</strong> nação (59) <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia naciona-56Destaque-se algumas <strong>obra</strong>s <strong>de</strong> Manuel dos Santos Lima, Manuel Rui, Pepetela, Agualusa e UanhengaXitu.57Henri Morier (1975) <strong>de</strong>staca o carácter pedágógico e correctivo <strong>da</strong> ironia “l´ironie est l´expressiond´une âme qui, éprise d´or<strong>de</strong> et <strong>de</strong> justice, s´irrite <strong>de</strong> l´inversion d´un rapport qu´elle estime naturel,normal, intelligent, moral, et qui, éprouvant une envie <strong>de</strong> rire dé<strong>da</strong>igneusement à cette manifestationd´erreur ou d´impuissance, la stigmatise d´une manière vengeresse en renversant a son tour le sens <strong>de</strong>smots (antiphrase) ou en décrivant une situation <strong>da</strong>imétralement opposée à la situation réele (anticatastase).Ce qui est une manière <strong>de</strong> remettre les choses à l´endroit”. Morier, Henri, Dictionnaire <strong>de</strong> poétiqueet rhétorique, Paris, Presses Universitaires <strong>de</strong> France, 1975.58Ao longo dos tempos, tem sido comum o uso <strong>da</strong> caricatura para satirizar figuras ou questões <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> social e política. <strong>Na</strong> literatura, o aparecimento <strong>da</strong> caricatura remonta às comédias <strong>de</strong> Aristófanes,na antiga Grécia. A caricatura serviu, frequentemente, como forma <strong>de</strong> intervenção, revelando aspectosgrotescos ou ridículos <strong>de</strong> certas pessoas e situações. Daí que a ela tenham recorrido particularmente escritoresque, como os realistas, pretendiam traçar um quadro sociológico do mundo contemporâneo.59“As fronteiras problemáticas <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> são encena<strong>da</strong>s nestas temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ambivalentesdo espaço-nação (...). É, <strong>de</strong> facto, apenas no tempo disjuntivo <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> nação – como conhecimentodisjuntivo entre a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> política e o seu impasse, entre os fa<strong>rra</strong>pos e os remendos <strong>da</strong>significação cultural e as certezas <strong>de</strong> uma pe<strong>da</strong>gogia nacionalista – que as questões <strong>da</strong> nação enquantona<strong>rra</strong>ção acabam por ser coloca<strong>da</strong>s”. Bhabha, Homi, “Disseminação: Tempo, <strong>Na</strong><strong>rra</strong>tiva e as Margens na<strong>Na</strong>ção Mo<strong>de</strong>rna”, in Buescu, Helena [et alli] [org.], Floresta Encanta<strong>da</strong>. Novos Caminhos <strong>da</strong> LiteraturaCompara<strong>da</strong>, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001, p. 537.392007 E-BOOK CEAUP
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