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Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

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<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel RuiAnões e os Mendigos (1984), <strong>de</strong> Manuel dos Santos Lima, O Cão e os Caluan<strong>da</strong>s(1985) <strong>de</strong> Pepetela, entre outros.Desta forma, os anos <strong>de</strong> 1982 a 1990 são marcados pelo surgimento<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> <strong>obra</strong>s, cujo o género satírico/irónico assume uma importânciainegável (56) . As i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> reformas políticas e <strong>de</strong> revolução socialexigiam dos escritores uma literatura <strong>de</strong> acção, comprometi<strong>da</strong> com a críticae a reforma <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<strong>Na</strong> <strong>obra</strong> O cão e os Caluan<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Pepetela, o autor conduz o leitor poruma série <strong>de</strong> situações, numa perspectiva crítica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana.Através do olhar <strong>de</strong> um cão somos levados por uma vasta gama <strong>de</strong> comportamentossociais, profissionais, familiares e políticos. A pena críticaversa tanto o burocrata, como o carreirista político, o pseudo-intelectual,a prostituta, o operário alienado, etc.O uso <strong>da</strong> ironia (57) assume então uma função dinâmica entre a vozdo autor e os conselhos retóricos usados. Os retratos transformam-se emcaricatura (58) , seja na avaliação <strong>de</strong> situações, comportamentos e mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>s.O riso explanaria uma visão sociológica do quotidiano, ganhandouma função terapêutica humanista.Assim, se por um lado, a escrita africana mobilizava estratégiasque visavam a crítica dum projecto <strong>de</strong> nação (59) <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia naciona-56Destaque-se algumas <strong>obra</strong>s <strong>de</strong> Manuel dos Santos Lima, Manuel Rui, Pepetela, Agualusa e UanhengaXitu.57Henri Morier (1975) <strong>de</strong>staca o carácter pedágógico e correctivo <strong>da</strong> ironia “l´ironie est l´expressiond´une âme qui, éprise d´or<strong>de</strong> et <strong>de</strong> justice, s´irrite <strong>de</strong> l´inversion d´un rapport qu´elle estime naturel,normal, intelligent, moral, et qui, éprouvant une envie <strong>de</strong> rire dé<strong>da</strong>igneusement à cette manifestationd´erreur ou d´impuissance, la stigmatise d´une manière vengeresse en renversant a son tour le sens <strong>de</strong>smots (antiphrase) ou en décrivant une situation <strong>da</strong>imétralement opposée à la situation réele (anticatastase).Ce qui est une manière <strong>de</strong> remettre les choses à l´endroit”. Morier, Henri, Dictionnaire <strong>de</strong> poétiqueet rhétorique, Paris, Presses Universitaires <strong>de</strong> France, 1975.58Ao longo dos tempos, tem sido comum o uso <strong>da</strong> caricatura para satirizar figuras ou questões <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> social e política. <strong>Na</strong> literatura, o aparecimento <strong>da</strong> caricatura remonta às comédias <strong>de</strong> Aristófanes,na antiga Grécia. A caricatura serviu, frequentemente, como forma <strong>de</strong> intervenção, revelando aspectosgrotescos ou ridículos <strong>de</strong> certas pessoas e situações. Daí que a ela tenham recorrido particularmente escritoresque, como os realistas, pretendiam traçar um quadro sociológico do mundo contemporâneo.59“As fronteiras problemáticas <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> são encena<strong>da</strong>s nestas temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ambivalentesdo espaço-nação (...). É, <strong>de</strong> facto, apenas no tempo disjuntivo <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> nação – como conhecimentodisjuntivo entre a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> política e o seu impasse, entre os fa<strong>rra</strong>pos e os remendos <strong>da</strong>significação cultural e as certezas <strong>de</strong> uma pe<strong>da</strong>gogia nacionalista – que as questões <strong>da</strong> nação enquantona<strong>rra</strong>ção acabam por ser coloca<strong>da</strong>s”. Bhabha, Homi, “Disseminação: Tempo, <strong>Na</strong><strong>rra</strong>tiva e as Margens na<strong>Na</strong>ção Mo<strong>de</strong>rna”, in Buescu, Helena [et alli] [org.], Floresta Encanta<strong>da</strong>. Novos Caminhos <strong>da</strong> LiteraturaCompara<strong>da</strong>, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001, p. 537.392007 E-BOOK CEAUP

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