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Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

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<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruias crianças, o porco é apenas um ser <strong>de</strong> afeição <strong>de</strong>sinteressa<strong>da</strong>. Para osadultos, Carnaval <strong>da</strong> Vitória afigura-se como um problema: atrapalha a“disciplina revolucionária”.Repare-se que o porco personifica aqueles que partem do mundorural para o urbano, a sátira <strong>da</strong>s populações que se vêem num mundodiferente <strong>da</strong> sua génese, que imitam comportamentos <strong>de</strong> outros, que“precisam <strong>de</strong> alimento”, que “incomo<strong>da</strong>m” com a sua presença, ou quese “aburguesam”.O animal, como se <strong>de</strong> uma personagem mo<strong>de</strong>la<strong>da</strong> se tratasse, evolui,<strong>de</strong>sta forma, na sua atitu<strong>de</strong>, “aburguesando-se” (172) , no enten<strong>de</strong>r<strong>da</strong>s crianças por culpa do pai, que o trata bem com o objectivo único <strong>de</strong>“obter retribuições <strong>de</strong> futuras bistecas e linguiças”.Este aburguesamento do animal acaba por metaforizar o <strong>da</strong> própriasocie<strong>da</strong><strong>de</strong>, pondo explicitamente em causa, para além dos movimentosmigratórios, os propósitos <strong>da</strong> pequena burguesia citadina e a corrupçãodos quadros burocráticos médios (173) . Diogo dirige-se, <strong>de</strong>sta forma,triunfante, para o porco:“Conquistas <strong>da</strong> Revolução (...) Estás politizado!” (174) (p. 25)Carlos Justo (2005) <strong>de</strong>staca este rejubilo <strong>de</strong> Diogo, salientando aintenção do autor na obtenção do riso, e mais, porque, “para além <strong>de</strong>humorístico, o facto <strong>de</strong> politizar um porco talvez possa ser anti ou contra-revolucionário.Como contra-revolucionário e jocoso é tratar um fiscalpor “senhor fiscal” e não pelo preceptivo “camara<strong>da</strong> fiscal”.Num outro momento <strong>da</strong> na<strong>rra</strong>tiva, Diogo manifesta ain<strong>da</strong> o seu <strong>de</strong>sagradoperante a insatisfação <strong>de</strong> Liloca, pelo facto <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r ouvir onoticiário, a crítica é mor<strong>da</strong>z:71estes criaram dois blocos/facções, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo os respectivos i<strong>de</strong>ais.172Para o manterem calmo é alimentado com bastante comi<strong>da</strong> e torrões <strong>de</strong> açúcar, além <strong>de</strong> ouvirmúsica com fones nos ouvidos.173A corrupção é apresenta<strong>da</strong> em Pepetela como um autêntico polvo. Contra ela Jaime Bun<strong>da</strong> na<strong>da</strong>pô<strong>de</strong> fazer. Cf. José Carlos Venâncio, 2004, op. cit.174Remete-nos para uma doutrinação massiva do Estado. Repare-se na opção, estética e linguística,pelo particípio “politizado” com <strong>de</strong>sempenho adjectival. Desta forma, o acto tem a ver com a natureza <strong>da</strong>acção <strong>de</strong> quem a pratica.2007 E-BOOK CEAUP

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