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Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

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<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruivo (a usura, a ambição, a avareza, a cobiça, a corrupção, entre outros);a representação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> urbana; a análise <strong>da</strong>s relações e dos conflitossociais, em suma, a <strong>de</strong>núncia e a análise crítica dos vícios <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,corporizados em personagens-tipo (141) constituem objecto privilegiadodos realistas e, naturalmente, <strong>de</strong> Manuel Rui.Refira-se que a par <strong>da</strong>s <strong>de</strong>scrições realistas, verídicas, <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do quotidiano,surge também o conto alegórico –Memória <strong>de</strong> mar (142) –, emboraeste <strong>de</strong>sempenhe um papel mais limitado na na<strong>rra</strong>tiva do autor. O problema<strong>da</strong> colonização é tratado nestas na<strong>rra</strong>tivas indirectamente, <strong>de</strong>staforma, entrecruza-se realismo crítico, com a <strong>de</strong>scrição dos costumes, <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> quotidiana, assim como, elementos do “realismo mágico”.Manuel Ferreira (143) argumenta que “o universo que ele [Manuel Rui]estrutura tem como suporte referências que o enriquecem <strong>de</strong> uma perspectivadinâmica. E fá-lo a partir <strong>de</strong> um conhecimento real e efectivo”.Apesar <strong>de</strong> ficção na<strong>rra</strong>tiva e reali<strong>da</strong><strong>de</strong> serem parâmetros distintos, afronteira que os une e separa é aliciante para qualquer crítico, não sendonossa intenção limitar a ficção a uma transposição <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> (144) é,contudo possível, e tendo em conta o contexto histórico em que as <strong>obra</strong>sse inserem, verificar que a situação realmente vivi<strong>da</strong> pelos habitantes<strong>de</strong> Luan<strong>da</strong> confere a verosimilhança necessária ao texto, não limitando,contudo, a intemporali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> na<strong>rra</strong>ção, e, concomitantemente, dos vacampodos caracteres como no <strong>da</strong>s situações, una organicamente o genérico e o individual, ain<strong>da</strong> queaprofun<strong>da</strong>do, não pelo facto <strong>de</strong> nele confluírem e se fundirem todos os momentos <strong>de</strong>terminados, humanae socialmente num período histórico”. Op. cit. Salinari, Carlos, “A arte como reflexo e problema do realismo”,in Vértice 440/441,Jan.-Abr, Lisboa, Editorial Caminho, 1981.141As mais funcionais para a representação <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> grupos ou <strong>de</strong> sectores <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.142Quatro participantes <strong>da</strong> gue<strong>rra</strong> <strong>da</strong> libertação – o protagonista-na<strong>rra</strong>dor; um Major <strong>da</strong>s FAPLA,um sociólogo e um historiador param numa ilha <strong>de</strong>serta, no futuro, dois anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização,antes a ilha pertencia aos padres, representantes do sistema colonial, com os seus preconceitos raciaise sociais. A ironia assume-se como recurso expressivo, quando, por exemplo, num barco sem rumo, aosabor <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s, o Prior, cheio <strong>de</strong> fervor faz sacrifícios a Quian<strong>da</strong>, como qualquer pagão.Aqui o escritor teve como objectivo “não atacar o real como ele se afigura, mas sempre mais peloimaginário”. Laban, Michel, op. cit. p. 730.143Ferreira, Manuel, Prefácio à 2ª edição <strong>de</strong> Regresso Adiado.144Sobre esta temática retenham-se as palavras <strong>de</strong> Ian Walt: “se o romance fosse realista apenas porver os “bastidores” <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, não seria mais do que um “romance” (no sentido antigo) invertido; mas é evi<strong>de</strong>nteque tenta, <strong>de</strong> facto, <strong>de</strong>screver to<strong>da</strong>s as varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> experiência humana, e não só as que são maisconvenientes num ponto <strong>de</strong> vista literário específico: o realismo do romance não resi<strong>de</strong> no género <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>que representa, mas sim na forma como o faz”. Op. cit. Barthes, Roland [et alli], Literatura e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>:Que é o realismo?, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1984, p. 16.572007 E-BOOK CEAUP

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