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Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

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Marta <strong>de</strong> Oliveirasão literária dos processos <strong>da</strong> linguagem fala<strong>da</strong>, impersonaliza a na<strong>rra</strong>tiva,dissimulando-se por <strong>de</strong>trás <strong>da</strong>s suas personagens, <strong>da</strong>ndo-lhes umaaparente autonomia, submergindo-se <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quelas, para se dirigirao leitor.No plano formal o discurso indirecto livre “pressupõe duas condições:a absoluta liber<strong>da</strong><strong>de</strong> sintáctica do escritor (factor gramatical) e asua completa a<strong>de</strong>são à vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> personagem (factor estético)” (293) . Nãoaparece, naturalmente, isolado no meio <strong>da</strong> na<strong>rra</strong>ção. Relacionando-se,mesmo <strong>de</strong>ntro do mesmo parágrafo, com os discursos indirecto e directo,o emprego conjunto faz que para o enunciado confluam, “numa somatotal, as características <strong>de</strong> três estilos diferentes entre si” (294) :“Mesmo assim as pessoas começaram a barafustar. “Quando é que porcos<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> an<strong>da</strong>r na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>? “A gente apanha um porco e ain<strong>da</strong> esse ô-dê-pê com bocas.” “Fui eu que lhe apanhei primeiro e porco vadio é <strong>de</strong> quemaga<strong>rra</strong>.” “Não é na<strong>da</strong> <strong>de</strong> ministro, se fosse não ia a pé.” E no recomposto <strong>da</strong>bicha rebentaram outra vez as makas. “ Eu é que estava primeiro”. “Não erana<strong>da</strong>”. Começaram a encardurmar-se no meio <strong>da</strong> panca<strong>da</strong>ria mais ô-dê-pê,e Ruca com a cor<strong>da</strong> bem segura, <strong>de</strong>u logo uma corri<strong>da</strong>”.(Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>, p. 30)140A pontuação é pouco frequente e os discursos <strong>da</strong>s personagens sãotranscritos num continuum, on<strong>de</strong> só as pausas mais pronuncia<strong>da</strong>s são assinala<strong>da</strong>sgraficamente. Concomitantemente, o ritmo <strong>da</strong> na<strong>rra</strong>ção é rápido.Não é <strong>da</strong><strong>da</strong> uma gran<strong>de</strong> importância à <strong>de</strong>scrição, sendo o diálogo omodo <strong>de</strong> expressão literária mais frequente.A frase é normalmente curta, conferindo um maior dinamismoao discurso. Desta forma, o leitor não é obrigado a discorrer, pois nãohá conexões lógicas. Há apenas os factos, o fluir <strong>da</strong>s emoções e a suatransmissão objectiva. Assim, este ritmo sincopado possibilita uma relaçãoestreita entre a escrita e a linguagem fala<strong>da</strong>, natural, simples efamiliar (295) .293I<strong>de</strong>m, op. cit. p. 636.294I<strong>de</strong>m, op. cit. p. 637.295Manuel Rui <strong>de</strong>staca que o seu objectivo é aproximar-se <strong>da</strong>s estruturas <strong>da</strong> fala: “aquilo que pretendoé que quem me esteja a ler estabeleça a sua relação com o texto, que seja iludi<strong>da</strong>, sentindo que alguémlhe está a contar uma história”. Op. cit. Entrevista em anexo, p. 168.E-book CEAUP 2007

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