Marta <strong>de</strong> Oliveiralista (60) , por outro, <strong>obra</strong>s como Mayombe, A Geração <strong>da</strong> Utopia(1992),O Desejo <strong>de</strong> Kian<strong>da</strong> (1955) ou Parábola do Cágado Velho (1996) buscamna História a sua própria existência simbólica, através do renascer <strong>de</strong>vozes e memórias e <strong>da</strong> re<strong>leitura</strong> <strong>de</strong> algumas páginas vivenciais.O Desejo <strong>de</strong> Kian<strong>da</strong> (61) , por exemplo, re-escreve e mitifica páginas <strong>da</strong>História, o ruir <strong>de</strong> prédios em Luan<strong>da</strong> é, metaforicamente, o <strong>de</strong>smantelamento<strong>da</strong>s estruturas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>-tipo europeia. A vingança <strong>de</strong> Kian<strong>da</strong> (62)po<strong>de</strong> ser vista como espécie <strong>de</strong> reivindicação <strong>da</strong>s velhas tradições dopovo Kimbundu (Russell Hamilton) (63) , a ruína dos prédios na silenciosaque<strong>da</strong>. A “gigantesca on<strong>da</strong>” que inun<strong>da</strong> “to<strong>da</strong> a Aveni<strong>da</strong>”, na cena final<strong>de</strong> recomposição imagística <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m antiga, traz “em cima <strong>de</strong>la [...] asfitas <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as cores [...] agora que a Ilha <strong>de</strong> Luan<strong>da</strong> voltava a ser ilhae Kian<strong>da</strong> ganhava o alto mar, finalmente livre”. O espaço reconquistadoe a paisagem recupera<strong>da</strong> permitem pensar que a esperança não se po<strong>de</strong><strong>de</strong>ixar morrer.Já Estação <strong>da</strong>s Chuvas (1996) <strong>de</strong> Agualusa, apresenta um maior grau<strong>de</strong> fatali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a morte do país é assumi<strong>da</strong> por uma <strong>da</strong>s personagens:“Este país morreu” – o pretérito perfeito inviabiliza a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>revitalização, <strong>da</strong> realização <strong>da</strong> utopia, contrariamente a Quem me <strong>de</strong>raser on<strong>da</strong> (1982) <strong>de</strong> Manuel Rui, on<strong>de</strong> a utopia libertária encontra eco epersonificação nos miúdos.Em suma, a literatura angolana assemelha-se ao imbon<strong>de</strong>iro (64) repleto<strong>de</strong> frutos prontos a serem colhidos e saboreados por todos aquelesque apreciam a tradição, o ser e o sentir <strong>de</strong> um povo.E que melhor forma do que a literatura para obter esse “sabor dosaber” angolano? É também esse o nosso objectivo.4060É nesta linha que <strong>de</strong>vemos ler o nosso corpus <strong>de</strong> estudo, ou seja, numa perspectiva crítica e reflexivado quotidiano angolano, nomea<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Luan<strong>da</strong>. Deter-nos-emos pormenoriza<strong>da</strong>menteneste aspecto, num momento posterior <strong>da</strong> nossa análise.61Pepetela explora, nesta <strong>obra</strong>, o realismo fantástico.62“<strong>Na</strong> mitologia Kimbundo, a Kyan<strong>da</strong> é uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> sobrenatural forma<strong>da</strong> por Deus aquando <strong>da</strong>criação do mundo e que se encontra na natureza, em especial na água”. Gonçalves, António Custódio,Tradição e Mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> na (Re)construção <strong>de</strong> Angola, Porto, Edições Afrontamento, 2003.63Hamilton, Russell, “A literatura dos PALOP e a teoria pós-colonial”, in http://geocities.com/ail_br/aliteraturapalopteoriaposcolonial.htm. Acesso em Maio <strong>de</strong> 2004.64Metáfora já utiliza<strong>da</strong> por Carlos Ervedosa (s/d) e Salvato Trigo (1977).E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel RuiVISÃO SATÍRICA EHUMORÍSTICA“O escritor transforma-se em investigador para<strong>de</strong>screver uma certa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> utilizando osdocumentos e as técnicas <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo”.Copans“Nous ne sommes ici-bas pour rire.Nous ne le pourrons plus au purgatoire ou en enfer.Et, au paradis, ce ne serait pas convenable”.Jules RenardIroniser: Caresser à rebrousse-poil”.Jean BorrotSe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Platão, o fenómeno humorístico é documentado <strong>de</strong> investigaçãocientífica, muitas outras ciências, como a antropologia, apsicologia, a didáctica, a teoria literária, a sociologia, entre outras, contribuírampara uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica do estudo do humor (65) .De facto, uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> humor tem ence<strong>rra</strong>do diferentes terminologiase tal como Bergson (1993:17) (66) aconselha: “não preten<strong>da</strong>mos ence<strong>rra</strong>rnuma <strong>de</strong>finição o espírito cómico. É que antes <strong>de</strong> tudo <strong>de</strong>vemos vernele qualquer coisa <strong>de</strong> vivo” (67) . Contudo, se o humor não é o mesmo que4165Vários estudiosos já se <strong>de</strong>bruçaram sobre o riso: <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> ficaram os estudos <strong>de</strong> Platão,Aristóteles, Cícero e Quintiliano; dos séculos XVII e XVIII encontramos estudos como os <strong>de</strong> Hobbes, Shaftesburye Hutcheson; Victor Hugo <strong>de</strong>bruça-se sobre o grotesco risível. Schopenhaeur, Bergson, Nietzsche,Bataille e vários outros documentam a preocupação <strong>da</strong> filosofia com o riso. Bau<strong>de</strong>laire estu<strong>da</strong>-o nas artesplásticas, por sua vez, Freud, Lacan, Roustang e Jacques Alain-Miller observam-no <strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong>psicanálise.66Bergson, Henri, O riso ensaio sobre a significação do cómico, Lisboa, Guimarães Editores, 1993.67Eco (1986) <strong>de</strong>staca a ligação do cómico ao tempo, à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e à antropologia cultural. Eco,Umberto, Viagem na irreali<strong>da</strong><strong>de</strong> quotidiana, Lisboa, DIFEL, 1986.2007 E-BOOK CEAUP
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