Marta <strong>de</strong> Oliveira144e como tal “aptas a construir e comunicar histórias, no seu fluir e nassuas transformações e não apenas numa <strong>da</strong>s suas situações ou num dosseus estados” (i<strong>de</strong>m:178).O mesmo acontece na fronteira estabeleci<strong>da</strong> entre a Literatura eas restantes artes, esta é níti<strong>da</strong> e clara, contudo, uma análise atenta <strong>da</strong><strong>obra</strong> em estudo (304) , dos seus signos e significantes, do movimento <strong>da</strong>spersonagens, <strong>da</strong>s <strong>de</strong>scrições efectua<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> linguagem utiliza<strong>da</strong>, tocaem traços comuns quer do teatro (305) , quer do cinema.Po<strong>de</strong>mos afirmar, tal como alu<strong>de</strong> Maffei (306) (s. d.) que, “apesar <strong>de</strong>to<strong>da</strong>s as diferenças que há entre as diversas linguagens artísticas, é lícitoafirmar que, entre elas, ocorrem mútuas influências, o que permiteque se veja <strong>de</strong>terminado texto literário como, por exemplo, acentua<strong>da</strong>mentecinematográfico ou musical”.Não será por acaso que a novela Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong> foi eleva<strong>da</strong>a espectáculo teatral, representa<strong>da</strong> em vários países como Portugal,Brasil, São Tomé e Príncipe e Angola, assim como 1 Morto & OsVivos (“De Um Comba”) conhecerá brevemente a sua projecção natelevisão angolana.Obviamente que a representação teatral ou cinematográfica, <strong>de</strong> umaqualquer <strong>obra</strong> literária, não é condição indispensável para se consi<strong>de</strong>rarum texto com características intrínsecas ao teatro ou ao cinema.A analogia que se po<strong>de</strong> estabelecer, em primeiro lugar, pren<strong>de</strong>-secom as imagens que criamos, quando lemos um livro, pois como leitoressomos simultaneamente espectadores <strong>da</strong> peça/filme a que a <strong>obra</strong>literária nos conduz. Assim, os movimentos, as cores, os sons e as palavrassão pinta<strong>da</strong>s numa tela visualista. Mas, mais uma vez, esta tambémnão nos parece ser a razão principal <strong>da</strong>s afini<strong>da</strong><strong>de</strong>s estabeleci<strong>da</strong>s,visto que esta é uma característica comum a qualquer <strong>obra</strong> literária.304Tal como outras <strong>obra</strong>s literárias.305Ingar<strong>de</strong>n (1965) vê a peça <strong>de</strong> teatro como um “caso limite” <strong>da</strong> <strong>obra</strong> literária: “ela constitui, aomesmo tempo, uma transição para <strong>obra</strong>s <strong>de</strong> outros tipos que ain<strong>da</strong> revelam uma afini<strong>da</strong><strong>de</strong> com as literaturasmas já não po<strong>de</strong>m ser incluí<strong>da</strong>s nelas e, por assim dizer, estão a meio entre estas últimas e as <strong>obra</strong>s<strong>de</strong> pintura: uma transição para a “pantomima” e para a <strong>obra</strong> cinematográfica”. Ingar<strong>de</strong>n, Roman, A <strong>obra</strong><strong>de</strong> arte literária, Lisboa, Fun<strong>da</strong>ção Calouste Gulbenkian, 1965, p. 353.306Maffei, Luís, “Um ar <strong>de</strong> cinema na literatura <strong>de</strong> Honwana: Inventário <strong>de</strong> Imóveis e Jacentes”, inhttp://www.uea.org. Acesso em Agosto <strong>de</strong> 2006E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel RuiAssim, as causas, que se pren<strong>de</strong>m com a relação que estabelecemos,versam aspectos como: o coloquialismo utilizado, as frases simples, opredomínio <strong>da</strong> coor<strong>de</strong>nação e o diálogo, que se assume como o modo <strong>de</strong>apresentação do discurso mais frequente. Este conjunto <strong>de</strong> factores confereum maior dinamismo à acção, aproximando-a, concomitantemente,<strong>da</strong> movimentação típica do cinema ou do teatro. Para além disso, a nívelvisual e auditivo (307) , os resultados produzidos na na<strong>rra</strong>ção vão <strong>de</strong> encontroaos recursos utilizados nas duas artes. Assim, no que diz respeitoao primeiro nível enunciado, as luzes, os cenários, a caracterização, osmovimentos, os a<strong>de</strong>reços e figurinos vão sendo <strong>de</strong>senhados, num quadroreal; quanto ao segundo nível, os sons diversos e a linguagem utiliza<strong>da</strong>confluem numa elocução única.Com efeito, em Manuel Rui <strong>de</strong>paramo-nos com uma escrita que ten<strong>de</strong>ncialmenteincita à representação, não só pelas categorias <strong>da</strong> na<strong>rra</strong>tiva,nomea<strong>da</strong>mente o tempo, o espaço, as personagens e a acção, mastambém pela própria linguagem, estes elementos coexistem num aumento<strong>da</strong> superfície <strong>de</strong> contacto entre o texto e a representação.Desta forma, enquanto leitores, através do realismo visualista,vamos observando esta ou aquela personagem, concluímos do seu carácter,constatamos ain<strong>da</strong> todo um cenário físico e humano, em suma,estabelecemos relações.Maffei (i<strong>de</strong>m) <strong>de</strong>staca a importância <strong>da</strong> visão e do olhar, comoformas <strong>de</strong> “captação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”, tanto no cinema, quanto no romancecontemporâneo.Ora, Manuel Rui transporta-nos por uma atmosfera diversifica<strong>da</strong> <strong>de</strong>som, cor e agitação, o leitor sente-se o espectador <strong>de</strong> uma peça teatral ou<strong>de</strong> um filme que revela tópicos <strong>de</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> envolvente.Desta forma, o escritor cria páginas, facilmente a<strong>da</strong>ptáveis a um espectáculoteatral ou a um filme/série.Imaginemo-nos, então, como<strong>da</strong>mente sentados numa sala <strong>de</strong> cinemae tomemos como exemplo “De Um Comba”. Des<strong>de</strong> logo, no início <strong>da</strong><strong>obra</strong>, somos projectados para uma série sucessiva <strong>de</strong> imagens, que dãoconta do cenário envolvente ao “comba”.145307Níveis fun<strong>da</strong>mentais quer no teatro, quer no cinema.2007 E-BOOK CEAUP
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