19.08.2015 Views

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruiindirecta do autor-na<strong>rra</strong>dor que dir-se-ia obscuro quando afinal se nosrevela por inteiro comprometido com o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>ste mundo que incomo<strong>da</strong>”(Manuel Ferreira, Prefácio à 2ª edição <strong>de</strong> Regresso Adiado).Manuel Rui admitiria isso mesmo, dizendo que a sua sátira é “umaescrita chaplinesca” (95) , pois quando as pessoas estão a rir têm, necessariamente,que chorar.A corrupção, a ineficácia do sistema, a <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> terminologia(s),a <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> autoritarismos encontrará voz nas diferentes personagens<strong>de</strong> Manuel Rui.Massaud Moisés (1977:296) (96) <strong>de</strong>staca precisamente a “atitu<strong>de</strong>ofensiva” <strong>da</strong> sátira, que, tendo a crítica como “marca in<strong>de</strong>lével”, apresentaa insatisfação perante o estabelecido como “a sua mola básica”.Neste caso, a crítica aos diversos comportamentos (a)típicos <strong>da</strong> épocaprojectavam essa “insatisfação” perante o “mundo às avessas” (97) .Venâncio (1992b:51) enfatizaria duas tendências entre as manifestaçõescríticas: a primeira, visando “o exercício burocrático <strong>da</strong> actuação<strong>da</strong>queles que, vendo-se com algumas responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r”, usam--no abusivamente, e o “nascimento <strong>de</strong> uma nova burguesia”; a segun<strong>da</strong>tendência “crítica expressamente o sistema político-social implantadopelo MPLA” (98) .Em Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong> (1982), Crónica <strong>de</strong> Um Mujimbo (1989) e1 Morto & Os Vivos (1993), através duma ironia implícita, que nos relembraem diversas passagens Eça <strong>de</strong> Queirós, Manuel Rui crítica a ineficáciado sistema burocrático do po<strong>de</strong>r inserindo-se precisamente na primeiratendência (99) .95Op. cit. Entrevista em anexo, p. 165.96Massaud, Moisés, Dicionário <strong>de</strong> termos literários, São Paulo, Editora Cultrix, 1977.97<strong>Na</strong> literatura portuguesa, Camões (1598) refere-se à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> do seu tempo como um “mundoàs avessas” e <strong>de</strong>sconcertado: “Os bons vi sempre passar/ no mundo gran<strong>de</strong>s tormentos; / e, para mais meespantar, /os maus vi sempre na<strong>da</strong>r/ em mar <strong>de</strong> contentamentos”. Gil Vicente reconstrói uma visão satírico-dramática<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa do século XVI. Eça <strong>de</strong> Queirós, provido <strong>da</strong> ironia e crítica social,<strong>de</strong>screve minuciosamente os ambientes que retratam a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> do século XIX.98Venâncio, José Carlos, Literatura e po<strong>de</strong>r na África lusófona, Lisboa, Ministério <strong>da</strong> Educação / Instituto<strong>de</strong> Cultura e Língua Portuguesa, 1992b.99Contrariamente a autores como Manuel dos Santos Lima, que através <strong>de</strong> <strong>obra</strong>s como Os Anões e osMendigos, acaba por se enquadrar na segun<strong>da</strong> tendência enuncia<strong>da</strong> por José Carlos Venâncio (1992b), <strong>de</strong>nunciandoa situação <strong>de</strong> Angola, a crítica às <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> mundiais, nomea<strong>da</strong>mente na duali<strong>da</strong><strong>de</strong>: paísesricos vs países pobres, num claro <strong>de</strong>sequilíbrio on<strong>de</strong> o Terceiro Mundo sai per<strong>de</strong>dor, pela prepotência política<strong>da</strong>queles. Mas culpabiliza sobretudo as forças internas do MPLA pelo estado precário vivido no país.472007 E-BOOK CEAUP

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!