Marta <strong>de</strong> OliveiraNegritu<strong>de</strong> em França (38) , utilizam a função poética <strong>da</strong> escrita, <strong>de</strong> índolesocial, confluindo-a com a cultural i<strong>de</strong>ológica. Tendo como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>a linguagem celebrativa, numa “Voz igual” a poesia ia construindoa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que “a pátria se vinculava à natureza e à cultura” (InocênciaMata: 1997: 306) (39) .Neste universo <strong>de</strong> escrita, urge mencionar o carácter <strong>de</strong>slumbranteque as inúmeras folhas, que constituem esta literatura, assumem paraqualquer leitor e crítico.Neste sentido, diversos são aqueles que se associam a este mar <strong>de</strong>batalhas pela autonomia <strong>de</strong> uma ficção angolana, em que a voz e o eupresente é a do filho <strong>da</strong> te<strong>rra</strong>. Por uma questão metodológica, cingir-nos--emos àqueles que pintam sinais <strong>da</strong> sua pátria, dos seus anseios, dúvi<strong>da</strong>s,angústias, imaginações e conquistas na e pela ficção na<strong>rra</strong>tiva.Em 1935 (40) , o romance <strong>de</strong> António <strong>de</strong> Assis Júnior, O Segredo <strong>da</strong>Morta –Romance <strong>de</strong> Costumes Angolanos (41) , tendo como temática o sincretismocultural, representando uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transição entre oséculo XIX e o século XX, numa vivência aculturante, patenteou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>logo, a autonomia <strong>de</strong> uma ficção literária mo<strong>de</strong>rna. Rico em informaçõesetnológicas, transcrito num estilo híbrido (<strong>de</strong> provérbios e adágiosem quimbundo), a crítica enfatizaria a sua forte angolani<strong>da</strong><strong>de</strong> (42) .3638Influenciados por Senghor e Césaire, ecoaram as vozes <strong>de</strong> Richard Wright, Countee Cullen, LangstonHughes, Nicolas Guillén, os quais influenciam, por sua vez, nomes como o angolano Mário Pinto <strong>de</strong>Andra<strong>de</strong> e o são-tomense Francisco José Tenreiro.39Tal como refere Carlos Ervedosa: “A literatura angolana começa, finalmente, a <strong>da</strong>r os seus primeirosfrutos em liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, tal como o imbon<strong>de</strong>iro secular que, findos os anos <strong>de</strong> seca, se prepara, emplena floração, para <strong>da</strong>r as suas mais belas e saborosas múkuas”. Everdosa, Carlos, Roteiro <strong>da</strong> LiteraturaAngolana. Luan<strong>da</strong>, U.E.A.,s/d, 4ªed.40Embora tenha sido publica<strong>da</strong> em 1929 nos folhetins do jornal A Vanguar<strong>da</strong>, seria reedita<strong>da</strong> emlivro, em 1935.41Segundo as palavras <strong>da</strong> “Advertência” do próprio autor, a <strong>obra</strong> seria <strong>de</strong>lega<strong>da</strong> à <strong>leitura</strong> <strong>de</strong> todosos “pretos e brancos” que se “interessam pelo conhecimento <strong>da</strong>s coisas <strong>da</strong> te<strong>rra</strong>... A vi<strong>da</strong> do angolense quea civilização totalmente não obliterou – aquela civilização que se lhe impôs mais por sugestão e medodo que por persuasão e raciocínio – vivendo, ao seu modo e educando-se conforme os recursos ao seualcance...”. Soares (2001) consi<strong>de</strong>ra a sociabilização do romance pelo “significativo uso <strong>da</strong> linguagem doscrioulos <strong>da</strong> época. Soares, Francisco, op. cit. p. 139.42Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> utiliza o termo numa tentativa que visa opor o genuinamente angolano a umaportugali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> carácter imperialista e colonizador. Francisco Salinas Portugal <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o vocábulopermite a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e a sua expressão, englobando as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s integrativas <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana naquilo que Malinowski <strong>de</strong>signa por cultura. Op. cit. Venâncio, 1993[1987].E-book CEAUP 2007
<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel RuiCastro Soromenho (43) escreve, fruto <strong>da</strong> sua coexistência e aprendizagemno sertão angolano, Raja<strong>da</strong> e outras histórias e Calen<strong>da</strong>. Aos contos enovelas seguem-se os romances Noite <strong>de</strong> angústia, Homens sem caminho,Te<strong>rra</strong> morta, Viragem e A Chaga (44) . Em inúmeras páginas, confrontam--se o negro e o branco, colonizados e colonizadores. On<strong>de</strong> o testemunhoprincipal será o <strong>de</strong> cativeiro existencial do homem negro.Um outro nome ganha relevo no panorama literário angolano – ÓscarRibas (45) , com a publicação <strong>de</strong> Nuvens que passam (1927), Uanga (1950),embora os louvores mais críticos versem Ecos <strong>da</strong> Minha Te<strong>rra</strong> (1952).Os afluentes <strong>de</strong>ste rio ficcional conheciam ain<strong>da</strong> Domingos Van--Dúnem, A Praga (1947) (46) , Agostinho Neto, Náusea (1952) e AntónioJacinto, Vovô Bartolomeu (1979) (47) .Se António Jacinto, com o seu conto Vovô Bartolomeu, manifesta a pardo respeito aos “mais velhos”, típico <strong>da</strong> tradição africana, a importância<strong>da</strong> juventu<strong>de</strong>, para alterar o estado <strong>de</strong> coisas que tem <strong>de</strong> ser suplantado, afavor <strong>de</strong> novas perspectivas (48) , também Luandino Vieira surge como referêncianesta literatura <strong>de</strong> resistência. A ficção <strong>de</strong> Luandino versa o tempohistórico <strong>da</strong> gue<strong>rra</strong> <strong>da</strong> libertação, num espaço <strong>de</strong> musseques <strong>de</strong> condiçõesprecárias. As suas personagens seriam pessoas do povo, na práticado quotidiano. Com uma escrita transgressiva <strong>da</strong> norma do português,constitui um marco na literatura angolana, pelas mu<strong>da</strong>nças que opera. Arecusa <strong>da</strong> norma <strong>da</strong> língua portuguesa, <strong>da</strong> qual se serve ao lado do quim-43<strong>Na</strong>tural <strong>de</strong> Moçambique, tornou-se angolano <strong>de</strong> vivência.44“Trata o particular que, se interpenetrando em vários planos, vai-se universalizando. Se o interessesociológico <strong>de</strong> Te<strong>rra</strong> Morta e <strong>de</strong> A Chaga talvez seja maior, na medi<strong>da</strong> em que trata com maior atençãodos problemas dos comerciantes, dos mestiços e dos negros, segundo os vários graus <strong>de</strong> integração noseio <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> colonial, em Viragem, com pincela<strong>da</strong>s fortes, nos dá as linhas mestras <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos funcionáriosadministrativos”. Mourão, Fernando Augusto Albuquerque, A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Angolana através <strong>da</strong>Literatura, São Paulo, Editora Ática, 1978, p. 113.45“Ficcionista e colector <strong>de</strong> peças tradicionais”. Soares, Francisco, op. cit. p. 143.46Publicou ain<strong>da</strong> <strong>Uma</strong> História Singular; Milonga, Dibundu e Kuluka.47António Jacinto e Agostinho Neto salientar-se-ão, sobretudo, na poesia, nomea<strong>da</strong>mente no movimentoliterário “Vamos Descobrir Angola!”. Estes dois poetas, assim como Viriato <strong>da</strong> Cruz e LuandinoVieira, teriam influência inegável na escrita <strong>de</strong> Manuel Rui, nomea<strong>da</strong>mente pelo papel que <strong>de</strong>sempenharamo humor e a ironia, através <strong>de</strong> processos que sustentavam estilisticamente a sátira mor<strong>da</strong>z, a caricaturae o jogo <strong>de</strong> palavras <strong>de</strong>nunciadores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> colonial pequeno-burguesa, naturalmente quealgumas temáticas, don<strong>de</strong> salientamos a <strong>da</strong> infância como tempo <strong>de</strong> justiça e igual<strong>da</strong><strong>de</strong>, assim como o uso<strong>de</strong> uma linguagem própria e distinta do português-padrão europeu, seriam retoma<strong>da</strong>s por Manuel Rui.48Tal temática é também visível na <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Manuel Rui.372007 E-BOOK CEAUP
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