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Na(rra)ção satírica e humorística: Uma leitura da obra narrativa de ...

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<strong>Na</strong>(<strong>rra</strong>)ção satírica e humorística: uma <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> na<strong>rra</strong>tiva <strong>de</strong> Manuel Ruimente”, ou seja, com intenção <strong>de</strong> chamar a atenção para a sua própriafigura; os adjectivos “firme e provocante” vêm corroborar essa mesmaafirmação <strong>de</strong> carácter; o próprio azul “sedoso”, o “discreto <strong>de</strong>cote” quese transforma em “tentador” para aqueles que a observam.O carácter sublimemente irónico do na<strong>rra</strong>dor é possibilitado pelaexpressão “cabeças solenes”, atente-se no adjectivo utilizado para caracterizaraqueles “homens boquiabertos”.Dona Vaca acaba por se revelar fútil, leviana, sensual, exibicionista etriunfante, com os “olhos límpidos”, “abertos”, “fixos”, atraia os que a ro<strong>de</strong>iam.Destaque-se ain<strong>da</strong> os “três” cordões que traz com um “crucifixo”.A opção pelo número “três” (276) (cordões), não nos parece inocente,nem casual. O número “três” que tantas vezes remete para o sagrado, aperfeição e o sublime, foi utilizado ironicamente pelo na<strong>rra</strong>dor.Dona Vaca <strong>de</strong>staca-se quer <strong>da</strong> mulher do falecido (277) , quer <strong>de</strong> outraamante que aparece no funeral. A primeira diferencia-se pela sua posturaeleva<strong>da</strong>, enquanto a segun<strong>da</strong> <strong>de</strong>monstra uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeição:“<strong>Uma</strong> chorando <strong>de</strong> corpo vergado. Outra altiva, olhos absorvendo espaço,enfrentando tudo e remirando tudo e todos.”(p. 46)Dona Vaca mantém a sua postura <strong>de</strong> firmeza, superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> e altivezem todos os momentos <strong>da</strong> <strong>obra</strong>, nomea<strong>da</strong>mente quando é observa<strong>da</strong>:“Desfilava pela aveni<strong>da</strong> com o carro que o amante lhe <strong>de</strong>ra. E seguravao volante com soberba, em atitu<strong>de</strong> intencional <strong>de</strong> mostrar-se nas luvas pretas.Assim que alcançou a aveni<strong>da</strong> <strong>de</strong> maior trânsito, diminuiu a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>,vidros abertos. Era mais que evi<strong>de</strong>nte. Todo o mundo lhe reparava. Apon-131276O número três é o número perfeito, que transmite po<strong>de</strong>r, concretização e êxito. Refira-se queo autor traz, por diversas vezes, a simbologia dos números para a na<strong>rra</strong>tiva. Assim, Ruca, Zeca e Beto(Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>) são as (três) crianças que personificam a realização <strong>da</strong> utopia. Em O manequime o piano chove por três dias e são ain<strong>da</strong> três as galinhas que Kalufebe mata para o almoço do reencontrocom o sobrinho. Também o número sete aparece, por exemplo, em Quem me <strong>de</strong>ra ser on<strong>da</strong>, revestido <strong>de</strong>simbologia, “Carnaval <strong>da</strong> Vitória nasceu <strong>de</strong> uma ninha<strong>da</strong> <strong>de</strong> sete” e “Diogo e a sua família viviam no “sétimoan<strong>da</strong>r” (negrito nosso), não nos <strong>de</strong>moraremos sobre a vasta simbologia <strong>de</strong>ste número, no entantoele parece associar nestes dois segmentos a posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque e ruptura com o instruído. Chevalier etGheerbrant (1994).277Tal como já fizemos alusão.2007 E-BOOK CEAUP

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