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A RELÍQUIA

Untitled - Luso Livros

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amagens azuis, dividia-o do outro quarto, onde nós sentíamos uma voz frescacantarolar a Balada do Rei de Tule; e aí, exalando conforto e civilização,brilhava um guarda-roupa de mogno, que eu abri, como se abre um relicário,para encerrar o meu embrulhinho bendito.Os dois leitozinhos de ferro desapareciam sob as pregas virginais doscortinados de cambraia branca; e ao meio havia uma mesa de pinho, ondeTopsius estudava o mapa da Palestina, enquanto eu, de chinelos, passeava,limando as unhas. Era a devota sexta-feira em que a cristandade comemora,enternecida, os santos mártires de Évora. Nós tínhamos chegado nessa tarde,sob uma chuva triste e miúda, à cidade do Senhor; e de vez em quandoTopsius, erguendo os óculos de cima das estradas de Galileia, contemplavamede braços cruzados e murmurava com amizade:— Ora está o amigo Raposo em Jerusalém!Eu, parando ao espelho, dava um olhar às barbas crescidas, à face crestada, emurmurava também, agradado:— E verdade, cá está o belo Raposo em Jerusalém!E voltava, insaciado, a admirar através dos vidros baços a divina Sião. Sob achuva melancólica erguiam-se em frente as paredes brancas de um conventosilencioso, com as persianas verdes corridas, e duas enormes goteiras de zincoa cada esquina, uma escoando-se ruidosamente sobre uma viela deserta, aoutra caindo no chão mole de uma horta plantada de couves, onde ameava

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