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A RELÍQUIA

Untitled - Luso Livros

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Calados, atravessamos uma praça, clara e lajeada, que andava em obras. Aofundo uma casa de banhos, moderna, uma terma romana, estendia com ar deluxo e de ociosidade a longa arcada do seu pórtico de granito; no pátiointerior, por entre os plátanos que o refrescavam, cujos ramos suspendiamvelários de linho alvo, corriam escravos nus, reluzentes de suor, levando vasosde essências e braçadas de flores; das aberturas gradeadas, ao rés das lajes, saíaum bafo mole de estufa que cheirava a rosa. E sob uma das colunasvestibulares, onde uma lápide de ónix indicava a entrada das mulheres, estavade pé, imóvel, ofertando-se aos votos como um ídolo, uma criaturamaravilhosa; sobre a sua face redonda, de uma brancura de lua cheia, comlábios grossos, rubros de sangue, erguia-se a mitra amarela das prostitutas daBabilônia; dos ombros fortes, por cima da túmida rijeza dos seios direitos,caía, em pregas duras de brocado, uma dalmática negra radiantementerecamada de ramagens cor de ouro. Na mão tinha uma flor de cato; e as suaspálpebras pesadas, as pestanas densas, abriam-se e fechavam-se em ritmo, aomover onduloso de um leque que uma escrava preta, agachada aos seus pésbalançava cantando. Quando os seus olhos se cerravam, tudo em redorparecia escurecer; e quando se levantava a negra cortina das suas pestanas,vinha dessa larga pupila um clarão, uma influência, como a do sol do meio-diano deserto, que abrasa e vagamente entristece. E assim se ofertava, magnífica,com os seus grandes membros de mármore, a sua mitra fulva, lembrando osritos de Astarte e de Adónis, lasciva e pontifical...

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