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A RELÍQUIA

Untitled - Luso Livros

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das oliveiras. Ali vivem ainda essas árvores santas, que ramalharamembaladoramente sobre a sua cabeça fatigada do mundo! São oito, negras,carcomidas pela decrepitude, escoradas com estacas de madeira, amodorradas,já esquecidas dessa noite de Nizam em que os anjos, voando sem rumor,espreitavam através dos seus ramos as desconsolações humanas do filho deDeus... Nos buracos dos seus troncos estão guardados enxós e podões; naspontas dos galhos raras e ténues folhinhas, de um verde sem seiva, tremem emal vivem como os sorrisos de um moribundo.E em redor que hortazinha caridosamente regada, estrumada com devoção!Em canteiros, com sebes de alfena, verdejam frescas alfaces; as ruazinhasareadas não têm uma folha murcha que lhes macule o asseio de capela; renteaos muros, onde rebrilham em nichos doze apóstolos de louça, corremalfobres de cebolinho e cenoura, fechados por cheirosa alfazema... porque nãofloria aqui, em tempos de Jesus, tão suave quintal? Talvez a plácida ordemdestes úteis legumes calmasse a tormenta do seu coração!Sentei-me debaixo da mais velha oliveira. O frade guardião, risonho santo debarbas sem fim, regava com o hábito arregaçado os seus vasos de rainúnculos.A tarde caia com melancólico esplendor.E, enchendo o cachimbo, eu sorria aos meus pensamentos. Sim! Ao outro diadeixaria essa cinzenta cidade, que lá embaixo se agachava entre os seus murosfúnebres, como viúva que não quer ser consolada... Depois uma manhã,

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