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A RELÍQUIA

Untitled - Luso Livros

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Ela levou-me para dentro de um pátio onde cheirava mal; e aí, com os olhosvermelhos, destraçando furiosamente o xaile, rouca ainda da bulha que tiveracom a Adélia, rompeu a contar-me coisas torpes, execrandas, sórdidas. AAdélia enganava-me! O Senhor Adelino não era sobrinho; era o querido, ochulo. Apenas eu saía, ele entrava; a Adélia dependurava-se-lhe do pescoço,num delírio; e chamavam-me então o carraça, o carola, o bode, vitupériosmais negros, cuspindo sobre o meu retrato. As oito libras tinham sido para oAdelino comprar fato de verão; e ainda sobrara para irem à feira de Belém, emtipoia descoberta, e de guitarra... A Adélia adorava-o com pieguice e comfuror; cortava-lhe os calos; e os suspiros da sua impaciência, quando eletardava, lembravam o bramar das cervas, nos matos quentes, em Maio!...Duvidava eu? Queria uma evidência? Que fosse nessa noite, tarde, depois deuma hora, bater à portinha da Adélia!Lívido, apoiado ao muro, eu mal sabia se o cheiro que me sufocava vinha docanto escuro do pátio, se das imundícies que borbulhavam da boca daMariana, como de um cano de esgoto rebentado. Limpei o suor, murmurei, adesfalecer:— Está bom Mariana, obrigadinho; eu verei; vá com Deus...Cheguei à casa tão sombrio, tão murcho, que a Titi perguntou-me, com umrisinho, se eu "malhara abaixo da égua".— Da égua?... Não, Titi, credo! Estive na Igreja da Graça...

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