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A RELÍQUIA

Untitled - Luso Livros

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que eu as colhesse, todas as flores da civilização! E agora, com o óculo, eu erao pelintríssimo Raposo de botas cambadas, sentindo em roda, negros eprontos a ferirem-me, todos os cardos da vida... E tudo isto, por quê? Porqueum dia, na estalagem de uma cidade da Ásia, se tinham trocado doisembrulhos de papel pardo!Não houvera jamais zombaria igual da sorte! A uma tia beata, que odiava oamor como coisa suja e só esperava, para me deixar prédios e pratas, que eu,desdenhando saias, lhe rebuscasse em Jerusalém uma relíquia — trazia acamisa de dormir de uma luveira! E num impulso de caridade, designado acativar o céu, atirava como pingue esmola a uma pobre em farrapos, com ofilho faminto chorando ao colo — um galho cheio de espinhos!... Oh Deus,diz-me tu! Diz-me tu, oh demónio, como se fez, como se fez esta troca deembrulhos — que é a tragédia da minha vida?Eles eram semelhantes no papel, no formato, no nastro!... O da camisa jaziano fundo escuro do guarda-fato; o da relíquia campeava sobre a cómoda,glorioso, entre dois castiçais. E ninguém lhes tocara; nem o jucundo Pote;nem o erudito Topsius; nem eu! Ninguém com mãos humanas, mãos mortais,ousara mover os dois embrulhos. Quem os movera então? Só alguém commãos invisíveis!

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