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A RELÍQUIA

Untitled - Luso Livros

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Corri também à fonte, para não abandonar naquele ermo o precioso homem.Era um fio de água turva, escorrendo de uma quelha sobre um tanqueescavado na rocha. Ao pé branquejava, já tida, a grande carcaça de umdromedário. Os ramos de uma mimosa, ali solitária, tinham sido queimadospor um fogo de caravana. Longe, na espinha escamada de uma colina, umpastor, negro no céu opalino, ia caminhando devagar entre as suas ovelhascom a lança pousada ao ombro. E na sombria mudez de tudo a fonte chorava.Aquela quebrada era tão deserta, que me lembrou deixar ali a fazer-se, como aossada do dromedário, o embrulhinho da Mary... A égua do historiadorbeberava com pachorra. E eu procurava aqui, além, um barranco ou umcharco — quando me pareceu que, junto da fonte, e misturado ao choro dela,corria também choro humano.Torneei um penedo que avançava soberbamente, como a proa uma galera —e descobri, agachada e refugiada entre as pedras e os cardos, uma mulher quechorava, com uma criancinha no regaço; os seus cabelos crespos espalhavamsepelos ombros e os braços, que os trapos negros mal cobriam; e sobre ofilho, que dormia no calor do colo, o seu choro corria, mais contínuo, maistriste que o da fonte, e como se não devesse findar jamais.Gritei pelo jucundo Pote. Quando ele trotou para nós, agarrando a coronhaprateada da sua pistola, supliquei que perguntasse à mulher a causa dessaslongas lágrimas. Mas ela parecia entontecida pela miséria; falou surdamente de

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