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A RELÍQUIA

Untitled - Luso Livros

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arrieiro esquecia a ração às éguas para seguir no céu de um brilho de safira, abranca passagem das cegonhas voando aos pares para Samaria.Depois pus o capacete, fui vadiar na doçura da manhã, de mãos nos bolsos,cantarolando um fado meigo. E ia pensando na Adélia e no Senhor Adelino...Enroscados na alcova, beijando-se furiosamente, estavam-me talvezchamando carola, enquanto eu passeava ali, nos retiros da Escritura! Àquelahora a Titi, de mantelete preto, com o seu ripanço, saía para a missa deSantana; os criados do Montanha, esguedelhados, assobiando, escovavam opano dos bilhares; e o Doutor Margaride, à janela, na Praça da Figueira,pondo os óculos, abria o Dia rio de Notícias. Ó minha doce Lisboa!... Masainda mais perto, para além do deserto de Gaza, no verde Egito, a minhaMaricoquinhas nesse instante estava enchendo o vaso do balcão commagnólias e rosas; o seu gato dormia no veludo da cadeira; ela suspirava pelo"seu portuguesinho valente..." Suspirei também; mais triste nos lábios se mefez o fado triste.E de repente, olhando, achei-me, como perdido, num sítio de grande solidão ede grande melancolia. Era longe do regato e dos aromáticos arbustos de floramarela; já não via as nossas tendas brancas; e diante de mim arredondava-seum ermo árido, lívido, de areia, fechado todo por penedos lisos, direitos comoos muros de um poço, tão lúgubres que a luz loura da quente manhã deOriente desmaiava ali, mortalmente, desbotada e magoada. Eu lembrava-mede gravuras, assim desoladas, onde um eremita de longas barbas medita um in-

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