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A RELÍQUIA

Untitled - Luso Livros

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da varanda, sem piedade, queimei tudo, amabilidades e feições; e sacudidesesperadamente para o saguão as cinzas da minha ternura.Nessa semana não ousei voltar à Rua da Fé. Depois, um dia que chuviscava,fui lá, ao escurecer, encolhido sob o meu guarda-chuva. Um vizinho, vendomeespreitar de longe as janelas negras e mortas do casebre, disse-me que oSenhor Godinho, coitado, fora para o hospital numa maca.Desci triste, ao comprido das grades do Passeio. E, no crepúsculo húmido,tendo roçado bruscamente por outro guarda-chuva, ouvi de repente o meunome de Coimbra, lançado com alegria.— Oh, Raposão!Era o Silvério, por alcunha o Rinchão, meu condiscípulo, e companheiro decasa das Pimentas. Estivera passando esse mês no Alentejo, com o seu tio,ricaço ilustre, o Barão de Alconchel. E agora, de volta, ia ver uma Ernestina,rapariguita loura, que morava no Salitre, numa casa cor-de-rosa, comroseirinhas à varanda.— Queres tu vir cá um bocado, o Raposão? Está lá outra rapariga bonita, aAdélia... Tu não conheces a Adélia? Então, que diabo, vem ver a Adélia... Éum mulherão!Era um domingo, noite de partida da Titi; eu devia recolher religiosamente àsoito horas. Cocei a barba, indeciso. O Rinchão falou da brancura dos braços

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