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TOMO 1 - CiFEFiL

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Perto de Tebas, junto a um monte, sobre o Ismeno,<br />

Águia e mulher, serpente e abutre, deusa e harpia,<br />

Tapando a estrada, à espera, - aterrava e sorria<br />

O monstro sedutor, horrível e sereno:<br />

“Devoro-te, ou decifra!” Era fascínio o aceno;<br />

A voz, morna e sensual, tinha afeto e ironia,<br />

Graça e repulsa; e a luz dos olhos escorria<br />

Fluido filtro, estilando um pérfido veneno.<br />

Cadernos do CNLF, Vol. XIV, Nº 2, t. 1<br />

153<br />

Este poema também faz referência às harpias, seres mitológicos<br />

que trazem em suas personalidades a marca da destruição:<br />

Gênios maus, monstros alados, de corpo de ave, cabeça de mulher,<br />

garras aceradas, odor infecto, elas atormentam as almas com perversidades<br />

incessantes. [...] As harpias simbolizam as paixões viciosas, tanto os<br />

tormentos obsedantes que o desejo faz sofrer quanto os remorsos que se<br />

seguem à satisfação. [...] Harpias figuram as importunações dos vícios e<br />

as provocações da maldade. (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1996, p.<br />

484)<br />

Neste poema bilaquiano, tanto a esfinge quanto a harpia são<br />

representações do feminino destruidor. Suas descrições físicas são<br />

marcadas por garras, presas, odores, cauda, patas, asas: símbolos do<br />

instinto devorador da mulher fatal. Chevalier e Gheerbrant (1996, p.<br />

484) verão na esfinge grega o “símbolo da feminilidade pervertida” e<br />

a designação da “vaidade tirânica e destrutiva” (Idem, p. 390). Esta<br />

concepção aproxima estes monstros da femme fatale cultuada pelo<br />

decadentismo.<br />

No poema “A morte de Orfeu” (BILAC, 2006, p. 199), este<br />

mesmo ideal de feminino devorador aparece sob a ação sanguinária<br />

das bacantes, as sacerdotisas de Baco, contra Orfeu, este filho da<br />

musa Calíope: Orfeu havia perdido sua amada Eurídice que morrera<br />

picada por uma cobra; devido ao grande amor que por ela nutria, decide<br />

ir até os infernos para trazer sua amada de volta. As divindades<br />

infernais lhe concedem o desejo, mas sob uma única condição: ele<br />

não poderia olhar para trás enquanto não saísse do citado local. Orfeu<br />

não cumpre a condição e jamais revê sua amada (VICTORIA,<br />

2000, p. 111). Triste e abatido, Orfeu dispensa todas as mulheres<br />

que, incessantemente, procuram consolá-lo. As bacantes, furiosas<br />

com o seu desdém, esquartejam Orfeu em uma ação atroz, ato que<br />

pode ser notado no poema bilaquiano referenciado:

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