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TOMO 1 - CiFEFiL

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Cadernos do CNLF, Vol. XIV, Nº 2, t. 1<br />

731<br />

nio de anos... Quanto mais eu leio sobre o quantum da matéria, sobre essa<br />

abolição da escravatura da física do mecanicismo, do paradigma cartesiano,<br />

mais eu fico pensando por que eu resolvi passar quase cinco anos<br />

dedicando uma especulação sobre isso a um trabalho artístico, acabando<br />

por fazer um disco duplo, enorme, exaustivo, até confuso para muita<br />

gente (Rennó, 2003, p. 431).<br />

Nesse álbum fica clara a diferente abordagem da ciência e do<br />

mundo feita por Gil, se comparada com suas músicas das décadas de<br />

60 e 70.<br />

Mas não é só o artista quem modifica suas abordagens, a própria<br />

ciência e toda a realidade a nossa volta estão em permanente<br />

mudança.<br />

Estudos sobre o átomo derrubam a teoria da inércia, um dos<br />

pilares da física newtoniana, mudando completamente a relação com<br />

os conhecimentos já estabelecidos. Além de constatarem uma complexidade<br />

cada vez maior dentro do átomo, descobriram várias outras<br />

partículas e chegaram à conclusão de que todas elas estão em movimento<br />

constante, jamais estão em repouso, estão sempre interagindo,<br />

trocando energia. Disso resulta que nenhum objeto ou fenômeno natural<br />

pode ser estudado de maneira completa sem se avaliar sua relação<br />

com o restante do universo.<br />

Nasce então uma nova maneira de interpretar a Natureza,<br />

mais próxima da compreensão do mundo desenvolvida pelos místicos<br />

orientais (hindus, budistas e taoístas). Essa noção de que tudo o<br />

que existe está entrelaçado em uma teia dinâmica de relações, de que<br />

a Natureza é um sistema dinâmico de forças e energias, foi fundamental<br />

para o desenvolvimento da moderna consciência ecológica.<br />

Sendo assim, a ciência possibilita ao homem perceber hoje o que povos<br />

antigos já sabiam: somos parte da Natureza e tudo o que fazemos<br />

é interagir com o mundo à nossa volta.<br />

Diante dos aspectos observados, não existe contradição entre<br />

o engajamento na causa ecológica, defendido por Gil em composições<br />

anteriores, e a valorização da ciência. O que observamos é a afinidade<br />

do autor com as mais recentes tendências da pesquisa científica.<br />

Essa relação de afinidade de Gilberto Gil com a ciência e suas<br />

implicações na busca de uma consciência humanística surge com a

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