Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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Sauer, da Folha <strong>de</strong> Londrina, sucursal <strong>de</strong> Campo Mourão, publicada na Folha <strong>em</strong> 7 <strong>de</strong><br />
agosto <strong>de</strong> 1999, seção “Cida<strong>de</strong>s” (cf. anexo 14). Se a socieda<strong>de</strong> tornou louvável o resgate<br />
histórico, no meio familiar dos envolvidos neste processo dialógico, teve como efeito<br />
perlocucionário o retorno da apreensão vivida nos anos 60. A professora Maria da Luz, ao<br />
ouvir o primeiro proferimento radiofônico parece ter revivido toda preocupação. Durante os<br />
meses seguintes, até a com<strong>em</strong>oração dos 35 anos da escola, mudou <strong>de</strong> intenção,<br />
arrepen<strong>de</strong>u-se. Repetidas vezes, seus atos <strong>de</strong> fala manifestaram o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que nada mais<br />
fosse revelado. “Era perigoso r<strong>em</strong>exer no passado, po<strong>de</strong>ria haver represálias” (cf. arquivo<br />
<strong>de</strong> pesquisa).<br />
Porém, esses atos <strong>de</strong> fala expressando arrependimento não surtiram os efeitos<br />
<strong>de</strong>sejados, quer dizer, não estabeleceram acordo significativo, anulando a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
linguag<strong>em</strong> anterior. O projeto <strong>de</strong> resgate histórico continuou, não foi possível revertê-lo, ou<br />
interromper o processo. A questão pen<strong>de</strong>nte a partir disso seria: por que o segundo<br />
performativo que manifestou arrependimento não teve a força <strong>de</strong> anuência do primeiro? O<br />
proferimento da ex-diretora não teve força ilocucionária porque não foi apreendido pelo<br />
interlocutor? Po<strong>de</strong>-se concluir que não bastou, nesta ocorrência, a satisfação das condições<br />
<strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. O proferimento <strong>de</strong> arrependimento aten<strong>de</strong>u a todas elas, entretanto não<br />
alcançou produzir o efeito <strong>de</strong>sejado pelo locutor, a imposição do silêncio. Isto aconteceu<br />
porque o eu proferidor não conseguiu estabelecer um contrato <strong>de</strong> sentido com o<br />
interlocutor.<br />
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