Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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Ao <strong>de</strong>rrubar a dicotomia performativo/constativo, Austin diz que as afirmações nada<br />
mais são que performativos mascarados e que a divisão locução (sentido), ilocução (força),<br />
perlocução (efeito) são atos simultâneos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> uma forma lingüística – o<br />
performativo é o próprio ato <strong>de</strong> realização da fala-ação.<br />
Ottoni assegura que o <strong>de</strong>saparecimento da dicotomia performativo/constativo traz à<br />
luz o conceito <strong>de</strong> ilocucionário. Esse conceito propicia a reflexão sobre a performativida<strong>de</strong>,<br />
fenômeno central a ser estudado:<br />
... a ligação entre ato ilocucionário e a “visão performativa da linguag<strong>em</strong>” é um procedimento<br />
intrínseco e fundamental na construção <strong>de</strong> qualquer teoria ou doutrina dos atos <strong>de</strong> fala, como<br />
pretendia Austin. Rajagopalan (1989) <strong>de</strong>ixa claro como se dá esta ligação: O conceito <strong>de</strong> ato<br />
ilocucionário <strong>em</strong>ergiu das cinzas que sobraram da queima que Austin provocou (...) da distinção<br />
entre “enunciado constativo” e “enunciado performativo” (...). Ou seja, quando propôs a distinção<br />
“constativo” vs. “performativo”, Austin já sabia muito b<strong>em</strong> que estava construindo algo para ser<br />
<strong>de</strong>rrubado no momento oportuno – isto é, com a data e a hora marcada para sua <strong>de</strong>rrubada (p.<br />
523). (OTTONI, apud Rajagopalan, 1998, p. 68)<br />
Prossegue, o citado autor, que a realização <strong>de</strong> um ato ilocucionário envolve<br />
assegurar a apreensão; ter efeito; levar a uma resposta ou seqüela. Essa relação entre os<br />
interlocutores, para Ottoni, aproxima-se da noção <strong>de</strong> jogo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Wittgenstein já<br />
que nesta não há regras n<strong>em</strong> critérios formais <strong>de</strong>finitivos que possam <strong>de</strong>screvê-lo. Nessa<br />
noção, a linguag<strong>em</strong> adquire significado no uso que faz<strong>em</strong>os <strong>de</strong>la nos mais diversos jogos,<br />
ou seja, nas diferentes formas <strong>de</strong> vida:<br />
Vejamos como o próprio Wittgenstein coloca a questão do jogo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>: § 23 “Quantas<br />
espécies <strong>de</strong> frases exist<strong>em</strong>? Afirmação, pergunta e comando, talvez? – Há inúmeras <strong>de</strong> tais espécies:<br />
inúmeras espécies diferentes <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego daquilo que chamamos <strong>de</strong> “signo”, “palavras”, “frases”.<br />
E essa pluralida<strong>de</strong> não é nada fixa, um dado para s<strong>em</strong>pre; mas novos tipos <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, novos<br />
jogos <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, como po<strong>de</strong>ríamos dizer, nasc<strong>em</strong> e outros envelhec<strong>em</strong> e são esquecidos. (Uma<br />
imag<strong>em</strong> aproximada disto po<strong>de</strong> nos dar as modificações da mat<strong>em</strong>ática). O termo “jogo <strong>de</strong><br />
linguag<strong>em</strong>” <strong>de</strong>ve aqui salientar que o falar da linguag<strong>em</strong> é uma parte <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> uma<br />
forma <strong>de</strong> vida”. (p. 18) (OTTONI apud Wittgenstein, 1998, p. 75)<br />
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