Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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A década <strong>de</strong> 60 foi período fértil para a proliferação <strong>de</strong> movimentos sociais<br />
reivindicatórios das camadas populares que buscavam maior participação política<br />
reivindicando igualda<strong>de</strong> econômica e social. Esse período registra no mundo a tentativa <strong>de</strong><br />
expansão socialista <strong>em</strong> redutos capitalistas ou por eles dominados. Essas pretensões<br />
socialistas, no Brasil, foram esmagadas pelo golpe militar, assim como o ocorrido com a<br />
“Escolinha do Povo”.<br />
A recuperação das circunstâncias <strong>em</strong> que aconteceram os enunciados performativos<br />
explica os mecanismos lingüísticos originários dos atos <strong>de</strong> fala. Estes atos <strong>de</strong> fala<br />
instauradores <strong>de</strong> uma versão discursiva não correspon<strong>de</strong>m aos fatos <strong>em</strong>píricos, como<br />
mostra a exclusão da “Escolinha do Povo” e seu esquecimento ao longo dos anos. Só a<br />
compreensão do momento histórico permitiu trazer à luz a negação da existência da<br />
primeira escola e a investidura dos movimentos <strong>de</strong> massa <strong>em</strong> Campo Mourão.<br />
Integrados na mesma troca lingüística, aconteceram o “Comício das Reformas” com<br />
a presença <strong>de</strong> João Goulart, <strong>em</strong> 13 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1964 e a conseqüente resposta coletiva da<br />
facção política contrária com a “Marcha da Família com Deus pela Liberda<strong>de</strong>”, <strong>em</strong> 19 <strong>de</strong><br />
março do mesmo ano, proferimentos ilocucionários cujo <strong>de</strong>sfecho se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> 31 <strong>de</strong> março.<br />
Constituíram atos <strong>de</strong> fala totais, com força ilocucionária suficiente para a instalação <strong>de</strong> uma<br />
versão histórica.<br />
Dentre as precauções tomadas a fim <strong>de</strong> evitar possíveis perseguições, incluiu-se<br />
uma postura acrítica frente ao regime imposto (cf. arquivo <strong>de</strong> pesquisa). A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ter um m<strong>em</strong>bro da família consi<strong>de</strong>rado “subversivo” (cf. anexo 14), candidato a ser<br />
investigado e punido pelo DOPS, foi, durante a vigência do regime militar, motivo <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> preocupação. A abertura <strong>de</strong>mocrática não apagou a angústia e o medo, como já dito<br />
anteriormente. A atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> no sentido <strong>de</strong> romper o silêncio <strong>de</strong> 36 anos e revelar<br />
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