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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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polissema 7 2007 10<br />

A acusação <strong>de</strong> Martins é, quanto a mim, váli<strong>da</strong>, e as minhas primeiras tentativas<br />

<strong>de</strong> enquadrar a minha <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Sá-Carneiro <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> tradição crítica comprova<br />

isso. Apesar <strong>de</strong> encontrar preciosos trechos, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> perspicácia, por vários críticos<br />

(entre eles, os que, como adiante se verá, são alvos <strong>da</strong> crítica <strong>de</strong> Martins), li<strong>da</strong>ndo<br />

frontalmente com a criação literária <strong>de</strong> Sá-Carneiro, gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>quilo que li<br />

apresentava-me imagens do próprio autor, do seu mundo físico e psicológico. E por muito<br />

tempo, essas imagens seduziram-me a tal ponto que o ser histórico, escritor <strong>da</strong>s <strong>obra</strong>s<br />

literárias que me levaram à <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> sua crítica, começou por (temporariamente)<br />

suplantar o meu interesse pela sua literatura. Fiquei impressionado por aquela“narrativa<br />

cujo clímax é ocupado pelo suicídio”, levando-me <strong>não</strong> só a fazer com<strong>para</strong>ções com a vi<strong>da</strong><br />

e <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Oscar Wil<strong>de</strong>, mas também a entrar num constante vaivém entre a <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Sá-<br />

Carneiro e o autor, assim tentando explicar a morte real através <strong>da</strong> arte que criou. Só mais<br />

tar<strong>de</strong> é que me apercebi que tinha esquecido aquilo que me houvera encantado <strong>de</strong> início:<br />

a <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> que Sá-Carneiro nos <strong>de</strong>ixou, sem conhecimento dos seus pormenores<br />

biográficos.<br />

Esta atitu<strong>de</strong>, critica<strong>da</strong> por Martins, <strong>de</strong> pôr em relevo a vi<strong>da</strong> do autor, <strong>de</strong>ixando as<br />

suas <strong>obra</strong>s num obscurecimento que só é intermitentemente iluminado quando são<br />

neces<strong>sá</strong>rias <strong>para</strong> comprovar <strong>uma</strong> teoria sobre o mundo psicológico <strong>de</strong> Sá-Carneiro, leva-o<br />

a apontar exemplos <strong>de</strong>ste procedimento. Assim, a avaliação presencista, representa<strong>da</strong> por<br />

José Régio, é-nos <strong>de</strong>scrita nestes termos:<br />

A imagem <strong>de</strong> Sá-Carneiro que Régio compõe é, assim, a imagem do que Sá-<br />

Carneiro é <strong>para</strong> Régio enquanto tema, <strong>de</strong>safio e campo problemático, e tem sobretudo a<br />

ver com Régio e a sua escrita. Sá-Carneiro torna-se <strong>uma</strong> personagem <strong>de</strong> Régio. A<br />

história romântica e trágica que se convenciona contar a respeito <strong>de</strong> Sá-Carneiro é<br />

adopta<strong>da</strong> por Régio como seu mito fun<strong>da</strong>dor (p. 30) 3 .<br />

3 É importante notar que as críticas <strong>de</strong> Martins a José Régio e outros críticos <strong>não</strong> preten<strong>de</strong>m tirar valor a<br />

tudo aquilo que escreveram sobre Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro. Martins (e eu) reconhece a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>quilo que<br />

opinam directa e estritamente sobre a <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Sá-Carneiro, quando <strong>de</strong>sligado <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações <strong>biográfica</strong>s.

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