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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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polissema 7 2007 128<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que a historiografia romântica vai muito mais longe que a tradicionalista, <strong>não</strong><br />

<strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> estar enlea<strong>da</strong> na metodologia do cientismo oitocentista, extrema<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois<br />

pelos positivistas, circunscrita às fontes escritas, operando com a muleta <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s<br />

ciências auxiliares <strong>da</strong> história e perseguindo o conhecimento <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> objectiva do<br />

passado.<br />

A história <strong>de</strong> Herculano irá ser, fun<strong>da</strong>mentalmente, <strong>uma</strong> história política e<br />

institucional, e também social, no quadro dos meios fornecidos pela incipiente ciência<br />

sociológica <strong>da</strong> época. Para além <strong>de</strong>stes continentes <strong>não</strong> se lhe abrem quaisquer<br />

horizontes, pelo menos no fazer história, outro tanto <strong>não</strong> acontecendo com as<br />

preocupações manifesta<strong>da</strong>s que, com frequência, nos fazem lembrar as novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s trazi<strong>da</strong>s<br />

à historiografia europeia pela École <strong>de</strong>s Annales 7 e pela História Nova. Referimo-nos aos<br />

novos continentes <strong>da</strong> história, abertos <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, <strong>de</strong> que, a título<br />

<strong>de</strong> exemplo, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar a história cultural e <strong>da</strong>s mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou a história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

priva<strong>da</strong>. E, a confirmá-lo, po<strong>de</strong>mos ficar com as palavras do historiador, bem próximas<br />

<strong>da</strong> "socie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos homens" <strong>de</strong> que já Voltaire 8 falava, quando rejeita o que mais tar<strong>de</strong><br />

Lucien Febvre, um dos fun<strong>da</strong>dores dos Annales, chamava a histoire bataille ou histoire<br />

événementielle, a história dos gran<strong>de</strong>s homens que ignora todo o povo:<br />

Nem sequer a biografia dos homens eminentes surgiu <strong>de</strong> tais averiguações. Temos a<br />

certidão do seu nascimento, baptismo, casamento e morte. Se foi um guerreiro, temos a <strong>de</strong>scrição<br />

<strong>da</strong>s suas batalhas; se legislador, a <strong>da</strong>ta e objecto <strong>da</strong>s suas leis: mas o seu carácter, a medi<strong>da</strong><br />

intelectual e moral do seu espírito, os seus hábitos e costumes, os usos, todos os modos, enfim, <strong>de</strong><br />

existir <strong>da</strong> época em que viveu, são <strong>de</strong>sconhecidos <strong>para</strong> nós; e to<strong>da</strong>via tudo isso, to<strong>da</strong> essa<br />

existência complexa <strong>de</strong> muitos milhares <strong>de</strong> homens, a que se chama nação, <strong>de</strong>via ter <strong>uma</strong><br />

influência imensa, absoluta naquela existência individual do homem ilustre, que o historiador<br />

7<br />

Corrente historiográfica inaugura<strong>da</strong> em França, em 1929, na sequência <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção, em<br />

Estrasburgo, <strong>da</strong> revista Annales d’ Histoire Économique et Sociale. Lucien Febvre e Marc Bloch foram os<br />

seus principais fun<strong>da</strong>dores.<br />

8<br />

Voltaire. Essai sur les moeurs et l’esprit <strong>de</strong>s nations. Paris: Ed. Sociales, 1962, p. 136.

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