09.05.2013 Views

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

218 polissema 7 2007<br />

<strong>obra</strong>, referindo-se o primeiro termo à idonei<strong>da</strong><strong>de</strong> que se consegue através do esforço<br />

pessoal, do sucesso e <strong>da</strong> ostentação, e o segundo ao respeito conquistado pela boa<br />

reputação moral e honra no seio <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, assim também enriqueci<strong>da</strong> (Hu, 1944:<br />

54). Se Thomas <strong>de</strong>seja e consegue que os seus empregados e colegas o respeitem (mien-<br />

tzŭ), Fong, após ter sido viola<strong>da</strong> por Cuming, dirige-se a Martha <strong>para</strong> lhe pedir aju<strong>da</strong>,<br />

arriscando per<strong>de</strong>r a face (lien), sabendo a protagonista que os ingleses <strong>não</strong> se preocupam<br />

em salvar a sua honra no mundo feminino chinês ao abandonarem as amantes nativas e<br />

mães dos seus filhos bastardos, situação <strong>para</strong> a qual remete a hermenêutica do título <strong>da</strong><br />

<strong>obra</strong>. É, portanto, simbólico o facto <strong>de</strong> Thomas pedir a Martha que case com ele <strong>para</strong><br />

mostrarem as suas faces juntas na rua e assim assumirem publicamente a sua relação <strong>de</strong><br />

forma digna e honrosa, sem vergonha e sem ‘escon<strong>de</strong>r a cara’, <strong>de</strong>stacando-se o<br />

sobrecarga ao manter a sua palavra perante a ama<strong>da</strong> e os colegas <strong>da</strong> E. I. C., enquanto<br />

Martha conquista a sua face pública ( mien-tzŭ e lien) aquando do baptismo <strong>da</strong><br />

embarcação Merop e ao buscar e conseguir um apelido europeu que simbolize a sua<br />

‘face’ social. A consulta <strong>de</strong> dicionários e glos<strong>sá</strong>rios do chamado dialecto cantonense dos<br />

séculos XVIII-XIX (Morrison, 1834: 1-2) permite-nos concluir que o narrador <strong>de</strong> CBP,<br />

ao recorrer a termos/conceitos como ‘face’, faz uso <strong>da</strong> terminologia utiliza<strong>da</strong> pelos<br />

oci<strong>de</strong>ntais em Cantão e Macau no século XVIII, concorrendo a dimensão linguística<br />

também <strong>para</strong> a representação <strong>da</strong> cor local <strong>da</strong> Macau setecentista. O romance <strong>de</strong> Coates<br />

assume-se assim como etnográfico ou etnohistórico através <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s temáticas e<br />

estratégias literárias que veiculam ao leitor informado e competente a cor local <strong>da</strong>s<br />

diversas esferas culturais e civilizacionais <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Santo Nome <strong>de</strong> Deus na segun<strong>da</strong><br />

meta<strong>de</strong> do século XVIII.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!