para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro
para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro
para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
polissema 7 2007 245<br />
Tyger, Tyger, burning bright 1<br />
Tigre! Tigre! Cor do fogo,<br />
Tigre! Tigre! a ar<strong>de</strong>r fulgurante<br />
Tigre,tigre, ar<strong>de</strong>ndo aceso<br />
Tigre, Tigre, que fulguras 2<br />
Das várias opções que são reconheci<strong>da</strong>s e pratica<strong>da</strong>s por tradutores <strong>de</strong> poesia, é<br />
<strong>de</strong>veras interessante que os quatro profissionais em questão fossem unânimes no<br />
respeito pela e na manutenção <strong>da</strong> forma original do poema, <strong>uma</strong> vez que esta é com<br />
certeza a segun<strong>da</strong> maior fonte <strong>de</strong> controvérsia no campo <strong>da</strong> tradução <strong>de</strong> poesia. (A<br />
primeira <strong>de</strong>sempenha já um papel tradicional na teorização e prática <strong>da</strong> tradução<br />
literária: a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ou <strong>não</strong> <strong>de</strong> se traduzir textos líricos, e a ela farei referência<br />
mais adiante com maior pormenor). O tradutor <strong>de</strong>ve manter a forma original e<br />
sacrificar algum do sentido se assim o <strong>de</strong>terminar a estrutura escolhi<strong>da</strong> ou, pelo<br />
contrário, <strong>de</strong>ve <strong>da</strong>r primazia ao significado e relevar a forma <strong>para</strong> segundo plano?<br />
Obviamente que a resposta a tais dúvi<strong>da</strong>s <strong>não</strong> é única nem <strong>de</strong>finitiva, o carácter<br />
h<strong>uma</strong>no <strong>da</strong> tradução enquanto ciência liga<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma umbilical à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
comunicar é fonte <strong>de</strong> soluções várias que têm sido <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente assinala<strong>da</strong>s por<br />
teóricos e praticantes. 3<br />
Nas traduções analisa<strong>da</strong>s é evi<strong>de</strong>nte a procura <strong>de</strong> <strong>uma</strong> forma que <strong>não</strong> “agri<strong>da</strong>”<br />
o original: <strong>não</strong> se renega a estrutura <strong>de</strong> The Tyger composta por seis estrofes <strong>de</strong> quatro<br />
quadras ca<strong>da</strong>, e a rima que se faz em ca<strong>da</strong> par <strong>de</strong> versos. Esta esquematização é<br />
<strong>de</strong>terminante, a meu ver, <strong>para</strong> o efeito total do poema, porque <strong>não</strong> po<strong>de</strong>mos esquecer<br />
o papel <strong>de</strong>sempenhado por William Blake na mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> atitu<strong>de</strong> literária vigente à<br />
<strong>da</strong>ta <strong>da</strong> publicação <strong>de</strong> Songs of Experience, <strong>obra</strong> on<strong>de</strong> se insere este poema. É a fase<br />
pré-romantica, on<strong>de</strong> o lirismo marca forte presença e a originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias é<br />
<strong>de</strong>terminante <strong>para</strong> o abandonar <strong>de</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s por vezes opressoras<br />
1 Os exemplos retirados do original reportam-se sempre à <strong>obra</strong> BLAKE, William. “The Tyger.” In<br />
Poems and Prophecies. Ed. Max Plowman. 1927; rpt. London: Everyman’s Library, 1970, págs. 28 e<br />
29.<br />
2 As traduções encontram-se reproduzi<strong>da</strong>s nos Anexos a este trabalho, respectivamente nas páginas 18,<br />
19, 20 e 21.<br />
3 Op. cit., “Le Texte Réfléchi: Quelques réfléxions sur la Traduction <strong>de</strong> la Poésie.”, pág. 49.