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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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polissema 7 2007 170<br />

Num outro ângulo <strong>de</strong> visão, possivelmente complementar, e <strong>não</strong> obstante as<br />

interpretações relativas a estas exteriorizações se enquadrarem em códigos culturais<br />

específicos, padronizados e convencionais, que lhes conferem significações mais ou<br />

menos tácitas, parece haver práticas e posturas comuns a certos espaços geográficos e<br />

culturais mais alargados, cuja categorização usual os <strong>de</strong>limita em Oci<strong>de</strong>nte, Médio-<br />

-Oriente, Ásia...<br />

Porém, inúmeros gestos na proporção em que per<strong>de</strong>m <strong>uma</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong> absoluta<br />

ganham em precisão comunicativa e chegam a ser um tipo <strong>de</strong> linguagem equivalente à<br />

linguagem oral, como é o caso <strong>da</strong> língua gestual utiliza<strong>da</strong> pelos surdos-mudos, que se<br />

converteu num sistema <strong>de</strong> comunicação <strong>não</strong> verbal <strong>de</strong> enorme complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> e versatili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Retomando a discussão inicial, em minha opinião, um intérprete além <strong>de</strong> dominar<br />

as questões linguísticas inerentes às tarefas que <strong>de</strong>sempenha, <strong>de</strong>ve, também, pelo menos,<br />

reconhecer o repertório nuclear dos recursos <strong>da</strong> expressão <strong>não</strong> verbal do(s) par(es) <strong>de</strong><br />

línguas com que trabalha; se<strong>não</strong> vejamos: por exemplo, os japoneses acompanham<br />

frequentemente <strong>uma</strong> conversa com ligeiros trejeitos <strong>de</strong> cabeça e proferem <strong>de</strong>terminados<br />

sons como “Eeeh!” e “Nn” que são apenas <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cortesia e<br />

<strong>não</strong> <strong>de</strong> concordância com o que o interlocutor está a dizer. Imaginemos que esta conduta<br />

era mal interpreta<strong>da</strong> (no sentido em que estes sinais eram <strong>de</strong>scodificados erra<strong>da</strong>mente),<br />

tal ocorrência certamente <strong>de</strong>svirtuaria a interpretação do que estaria a ser<br />

dito/transmitido.<br />

Para complexificar a questão, há que consi<strong>de</strong>rar as idiossincrasias <strong>de</strong> todo o<br />

indivíduo que se revelam aos mais diversos níveis, às quais o intérprete <strong>de</strong>ve estar atento,<br />

esforçando-se por <strong>de</strong>scodificá-las o melhor que pu<strong>de</strong>r, tomando como referência alguns<br />

parâmetros estan<strong>da</strong>rdizados. É tão importante o que se diz, quanto a maneira como se diz<br />

e com que gestos; ou, então, o que <strong>não</strong> se diz, as <strong>não</strong>-palavras, os silêncios, a<br />

imobili<strong>da</strong><strong>de</strong>, as ausências, que orientam igualmente as relações entre os indivíduos e

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