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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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123 polissema 7 2007<br />

vesti<strong>da</strong>s. Todos conhecem o Arco <strong>de</strong> Sant’ Ana, cujo último volume acaba <strong>de</strong> imprimir o primeiro<br />

poeta português <strong>de</strong>ste século, o Um Ano na Corte do Sr. Corvo, cuja publicação se aproxima do<br />

seu termo, e o Ódio Velho <strong>não</strong> Cansa do Sr. Rebelo <strong>da</strong> Silva […]. Enfim, O Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castela do<br />

Sr. Oliveira Marreca, vasta concepção, posto que ain<strong>da</strong> incompleta, foi, porventura, inspirado<br />

pelo exemplo <strong>de</strong>stas fracas tentativas e <strong>da</strong>s que, em dimensões maiores, o autor empreen<strong>de</strong>u<br />

no Eurico e no Monge <strong>de</strong> Cister (Herculano, 1992, v. 1: 2-4) 22 .<br />

E, <strong>para</strong> <strong>de</strong>stacar o seu lugar na história <strong>da</strong> literatura portuguesa, Herculano retrata,<br />

em breves pincela<strong>da</strong>s, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> novela barroca, <strong>de</strong> cariz sentimental e moralizante,<br />

apontando dois exemplos <strong>de</strong> <strong>obra</strong>s bastante reedita<strong>da</strong>s e <strong>de</strong> êxito prolongado antes <strong>da</strong> sua<br />

chega<strong>da</strong>, entretanto posterga<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o baú <strong>da</strong>s antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Mas <strong>não</strong> eram literatura, que<br />

essa criou-a ele, abrindo caminho, qual explorador aventuroso, a <strong>uma</strong> plêia<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos<br />

talentos, entre os quais inclui Camilo Castelo Branco. Por fim, no que parece afloramento<br />

<strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> ciumeira e <strong>de</strong> rivali<strong>da</strong><strong>de</strong> encoberta, <strong>de</strong>ixa o aviso aos que as novas mo<strong>da</strong>s<br />

literárias incensavam: atrás <strong>de</strong> mim virá quem me ultrapassará… se <strong>não</strong> em quali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

pelo menos no gosto do público:<br />

Quinze a vinte anos são <strong>de</strong>corridos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>u um passo, bem que débil, <strong>de</strong>cisivo,<br />

<strong>para</strong> quebrar as tradições do Alívio <strong>de</strong> Tristes [do P. e Mateus Ribeiro] e do Feliz In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

[do P. e Teodoro <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>], tiranos que reinavam sem émulos e sem conspirações na província<br />

do romance português. Nestes quinze ou vinte anos criou-se <strong>uma</strong> literatura, e po<strong>de</strong> dizer-se que<br />

22<br />

Herculano, apesar <strong>de</strong> ter escrito <strong>uma</strong> nova "Advertência" <strong>para</strong> a 2.ª edição (1858) <strong>da</strong>s Len<strong>da</strong>s e<br />

Narrativas, manteve também a <strong>da</strong> 1.ª edição (1851). O aparecimento dos diferentes prefácios autoria is,<br />

naturalmente <strong>da</strong>tados, preten<strong>de</strong> mostrar o reforço (é o caso) ou a evolução do pensamento do autor, em<br />

relação a um <strong>de</strong>terminado problema. Esta prática foi segui<strong>da</strong> por Scott, Chateaubriand, Nodier e Victor<br />

Hugo. (Genette, 1987: 164).<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> priori<strong>da</strong><strong>de</strong> herculaniana, no que respeita à introdução do romance histórico em Portugal,<br />

repisa<strong>da</strong> nestes dois prefácios, aparece-nos num outro <strong>para</strong>texto <strong>de</strong> Herculano, n<strong>uma</strong> nota autorial à<br />

narrativa O Cronista: Viver e Crer <strong>de</strong> Outro Tempo (1535), publica<strong>da</strong> em 1839 n’ O Panorama. Nesta nota,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> incensar as narrativas <strong>de</strong> Walter Scott e Victor Hugo, afirma que "Não po<strong>de</strong>remos por certo dizer<br />

outro tanto <strong>da</strong>s nossas, em tudo pequenas e pobres tentativas (as primeiras, to<strong>da</strong>via, que neste género se<br />

fazem em Portugal), mas se, como intentamos, publicarmos estas composições e outras semelhantes em<br />

volume se<strong>para</strong>do, mostraremos quais foram os pensamentos que presidiram à concepção <strong>da</strong> criminosa<br />

Abóba<strong>da</strong>, e do <strong>de</strong>salmadíssimo Mestre Gil; e gente haverá, talvez, que ache esses pensamentos mais<br />

profun<strong>da</strong>mente históricos que… etc.". (Herculano, 1992, v. 2: 305), sublinhado nosso: esta nota <strong>não</strong><br />

aparece n’ O Bispo Negro, narrativa retira<strong>da</strong> por Herculano d’ O Cronista e publica<strong>da</strong> na sua edição <strong>da</strong>s<br />

Len<strong>da</strong>s e Narrativas. Também aqui aparece o "clássico a<strong>de</strong>mã <strong>da</strong> modéstia" <strong>de</strong> que nos fala Vitorino<br />

Nemésio no "Prefácio" que escreveu <strong>para</strong> esta <strong>obra</strong> (Herculano, 1992, v. 1: X).

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