09.05.2013 Views

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

[Escrever texto]<br />

Relativamente à situação <strong>de</strong> escravização dos negros e liber<strong>da</strong><strong>de</strong> dos índios,<br />

Azeredo Coutinho, com base nas diferenças naturais entre uns e outros ao tempo em que<br />

pela primeira vez contactaram com os portugueses, consi<strong>de</strong>ra, <strong>uma</strong> vez que a justiça <strong>da</strong>s<br />

leis varia conforme as circunstâncias e o objecto sobre o qual pretendia legislar, <strong>não</strong><br />

haver qualquer situação <strong>de</strong> injustiça:<br />

«a Escravidão na Africa já estava estabeleci<strong>da</strong> [e] os Portuguezes <strong>não</strong> fizerão mais do que<br />

aproveitarem-se dos <strong>de</strong>sperdícios <strong>da</strong>quellas Nações [...]. Sendo pois diversas as circunstancias<br />

em que se-achavão, e ain<strong>da</strong> se achão, os Pretos d’Africa, e os Indios do Brazil [...] forão tambem<br />

diversas as disposições <strong>da</strong>s ditas Leis» 54 .<br />

Ora, <strong>de</strong> acordo com esta justiça relativa, os índios <strong>não</strong> podiam ser utilizados como<br />

mão-<strong>de</strong>-<strong>obra</strong> escrava na agricultura 55 . Outro tanto <strong>não</strong> se passava com os negros africanos<br />

que reuniam to<strong>da</strong>s as condições neces<strong>sá</strong>rias a trabalhos mais pesados pois «as Nações<br />

d’Africa estavão já acost<strong>uma</strong><strong>da</strong>s aos trabalhos <strong>da</strong> Agricultura <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um Sol<br />

ar<strong>de</strong>nte, e que já <strong>de</strong> tempos antiquissimos estavão no costume <strong>da</strong> escravidão» 56 .<br />

À semelhança do que já outros autores haviam <strong>de</strong>fendido, nomea<strong>da</strong>mente o padre<br />

Ribeiro Rocha, contradiz também o argumento sobejamente utilizado pelos abolicionistas<br />

<strong>de</strong> que os povos africanos só traficavam porque havia comerciantes, afirmando que tal só<br />

<strong>de</strong>monstrava <strong>uma</strong> profun<strong>da</strong> ignorância acerca <strong>de</strong>sses povos pois «as Nações Africanas<br />

<strong>não</strong> só fazem este Commercio entre-si, mas também com os Mouros, e com as Nações <strong>da</strong><br />

Asia» 57 .<br />

De igual forma, contraria a i<strong>de</strong>ia dos maus tratos infligidos aos escravos pelos<br />

traficantes, <strong>da</strong>do que o seu interesse num maior lucro seria fazê-los chegar ao local <strong>de</strong><br />

ven<strong>da</strong> em “bom estado”, referindo mesmo um testemunho <strong>de</strong> que na viagem <strong>de</strong> travessia<br />

54 José Joaquim <strong>da</strong> Cunha <strong>de</strong> Azeredo Coutinho, Concor<strong>da</strong>ncia <strong>da</strong>s Leis …, p. 18.<br />

55 «Porque encontrando-se «ain<strong>da</strong> no primeiro estado <strong>da</strong> Natureza, sem agricultura, nem alg<strong>uma</strong><br />

subordinação, ou era indomável [...] ou fugia <strong>de</strong> h<strong>uma</strong> escravidão [...], [ou] succumbia <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> hum<br />

trabalho a que elle <strong>não</strong> estava acost<strong>uma</strong>do [...] e se aniquilavão sem quasi algum proveito <strong>para</strong> os seus<br />

conquistadores» (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 10-11).<br />

56 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 12.<br />

57 José Joaquim <strong>da</strong> Cunha <strong>de</strong> Azeredo Coutinho, Analyse sobre a Justiça …, p. 57.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!