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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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processo essencialmente automático, percorrendo, <strong>uma</strong> trajetória em flecha ou em espiral<br />

inseparável <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> um tempo vazio e homogêneo. Progresso esse que se abrigava na<br />

or<strong>de</strong>m o que levou os republicanos a firmarem – “<strong>para</strong> termos <strong>uma</strong> República estável,<br />

feliz e próspera, é neces<strong>sá</strong>rio que o governo seja ditatorial e <strong>não</strong> parlamentar” (apud<br />

Lins, 1964: 43) estava assim, justifica<strong>da</strong> a ditadura florianista bem como a <strong>não</strong><br />

participação popular nas <strong>de</strong>cisões políticas. A chega<strong>da</strong> do positivismo no Brasil, em<br />

1944, dois anos após a publicação do Curso <strong>de</strong> Filosofia positiva <strong>de</strong> Comte, introduziu<br />

um novo calendário com novas festas comemorativas em homenagem aos gran<strong>de</strong>s vultos<br />

do passado, aos heróis e que se alicerçava num tempo linear no qual o passado <strong>não</strong> tinha<br />

espaço <strong>para</strong> as vivências dos homens comuns como o ex-escravo, <strong>para</strong> a cultura e<br />

religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> popular, <strong>de</strong>ntre outros. Foi esta compreensão <strong>de</strong> passado que Quaresma<br />

muito se empenhou em modificar. O tempo do progresso só ganha sentido com a idéia <strong>de</strong><br />

porvir, <strong>da</strong>í a gran<strong>de</strong> preocupação dos republicanos em assegurar a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

República florianista. Desse modo, se a or<strong>de</strong>m, o consenso eram um imperativo do<br />

positivismo, garantir a mágica função <strong>de</strong> assegurar ao país <strong>uma</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> que as<br />

contingências <strong>de</strong> sua formação interditavam, ou seja, transformá-lo em nação era <strong>uma</strong><br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, a aparente <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m era sempre enquadra<strong>da</strong> pela or<strong>de</strong>m. Se houve<br />

<strong>uma</strong> resistência ao governo republicano, foi parcial, <strong>não</strong> foi capaz <strong>de</strong> incluir os excluídos<br />

nos domínios <strong>da</strong> República, pelo que esta continuou a serviço <strong>da</strong> elite dominante, <strong>da</strong><br />

or<strong>de</strong>m pré-estabeleci<strong>da</strong>.<br />

Por fim, mesmo o sonho <strong>de</strong> Quaresma <strong>de</strong> <strong>uma</strong> história nacional – teci<strong>da</strong> com as<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> um passado comum – <strong>de</strong> <strong>uma</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pátria, <strong>da</strong> língua, <strong>da</strong><br />

cultura e, sobretudo do tempo nacional estava ancorado na utopia comtiana, esperança<br />

dizima<strong>da</strong> pela bajulação, pelo <strong>de</strong>smando, fraqueza e muita repressão. No entanto, apesar<br />

do triste fim <strong>de</strong> Quaresma, Lima Barreto na voz <strong>de</strong> Olga, passa <strong>para</strong> o leitor centelhas <strong>de</strong><br />

esperanças quanto a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças naquela situação do país mostrando que<br />

quimeras e <strong>de</strong>silusões fazem parte do cotidiano h<strong>uma</strong>no.

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