para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro
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[Escrever texto]<br />
manipulasse a frau<strong>de</strong> e aplicasse a violência com competência e a fração <strong>da</strong> elite<br />
<strong>de</strong>rrota<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> era agracia<strong>da</strong> com cargos e postos. A elite forma<strong>da</strong> por advogados, se<br />
confundia com a burocracia do Estado e forjara um projeto político centrado no<br />
progresso, na civilização do país e o caminho <strong>para</strong> esse progresso, estava na agricultura e<br />
na escravidão. Com essa prática buscava o Estado Imperial contribuir <strong>para</strong> a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ex-colônia (Carvalho, 1996: 48). Sobre essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> em que a frau<strong>de</strong><br />
tinha seu forte espaço, Lima Barreto, em sua <strong>obra</strong> Isaias <strong>de</strong> Caminha (1956: 190 -191)<br />
<strong>de</strong>nuncia com ironia o cotidiano do Estado Imperial bem como na República:<br />
“... os arranjos , as gor<strong>da</strong>s negociatas sob todos os disfarces, os <strong>de</strong>sfalques,<br />
sobretudo a industria política, a mais segura e a mais honesta. Sem a gran<strong>de</strong> industria,<br />
sem a agricultura, com o grosso do comercio na mão <strong>de</strong> estrangeiros, ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong> nós<br />
sentindo-se solicitado por um ferver <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos caros e satisfações opulentas, começou a<br />
imaginar meios <strong>de</strong> fazer dinheiro à margem do código e a <strong>de</strong>testar os <strong>de</strong>tentores do<br />
po<strong>de</strong>r quem tinham a féerica vara legal <strong>de</strong> fornecê-lo a rodo”.<br />
O escritor realça que o imaginário edificado e propagado pela elite republicana<br />
seduziu as almas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> carioca <strong>para</strong> o luxo, <strong>para</strong> o exagero, <strong>para</strong> o brilho social. E<br />
então, movi<strong>da</strong> <strong>para</strong> a realização <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>sejo justificava e naturalizava todos os meios <strong>de</strong><br />
enriquecimento.<br />
No plano estético <strong>para</strong> exercer o papel re<strong>para</strong>dor <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> <strong>uma</strong> instancia<br />
i<strong>de</strong>al, a Nação, a elite, <strong>de</strong>ntre outros procedimentos, recorria à valorização <strong>da</strong>s coisas <strong>da</strong><br />
terra, à temática nacional, à exaltação <strong>da</strong> natureza, louvando a magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> um espaço<br />
<strong>para</strong>disíaco, excelente espaço, abrigo <strong>para</strong> aqueles sonhos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> vi<strong>da</strong> menos<br />
atormenta<strong>da</strong> que os nossos escritores importavam <strong>da</strong> matriz. Nesse quadro <strong>de</strong> discussão,<br />
<strong>uma</strong> in<strong>da</strong>gação tem lugar: como se pensar que essa elite intelectual do país que estu<strong>da</strong>ra<br />
em Portugal ou em outro país <strong>da</strong> Europa pu<strong>de</strong>sse negociar com aqueles os valores <strong>de</strong> seu<br />
país colonizado <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> tradição ibérica? Pensando a cultura como um espaço <strong>de</strong><br />
negociação no qual se cruzam espaço e tempo <strong>para</strong> produzir figuras <strong>de</strong> diferença e